O PT já sentiu o cheiro de animal ferido e ameaça derivar de Maia para Jovair, que é um adversário declarado da Operação
Lava-Jato
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), candidato à reeleição, e os deputados Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO), que também pleiteiam o comando da Casa, são bons amigos do presidente Michel Temer. Fazem parte do naipe de políticos que mantêm amplo relacionamento com os colegas, cumprem os acordos feitos no fio dos bigodes — embora nenhum dos três os tenham — e são homens de centro, não se identificam com a esquerda nem com a direita. São bons articuladores e pragmáticos; todos estão na base de apoio do Palácio do Planalto.
O único candidato de oposição ao governo na disputa pela presidência da Câmara é André Figueiredo (PDT-CE), ligado ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e seu irmão, o ex-governador Cid Gomes. Foi ministro das Comunicações da presidente Dilma Rousseff. A proliferação de candidatos pode levar a disputa para o segundo turno, mesmo que se confirme a candidatura de Maia, que está numa espécie de limbo jurídico: o regimento da Câmara não permite a reeleição na mesma legislatura, mas alega que há um vazio quanto à situação de quem cumpriu mandato tampão, como é o seu caso.
Maia é supostamente favorito na eleição, marcada para 2 de fevereiro, quando os parlamentares voltam das férias. Em junho do ano passado, foi eleito numa disputa com Rosso, então candidato do Centrão. Ontem, porém, o lançamento da candidatura de Jovair, que reuniu deputados do Solidariedade, PMDB, Pros, PT, PSC, PSD, PP e PSL rachou de vez o Centrão. Um sinal de que as bancadas estão rachadas. Até o novo líder do PT, Carlos Zarattini (SP), compareceu ao ato. Na eleição passada, PT e PCdoB apoiaram Maia, com o PSDB e o PPS, para derrotar o Centrão. Agora tudo pode ser diferente, pois a bancada do PT ainda não decidiu o que pretende fazer; a do PCdoB ainda está com Maia.
Até agora, o governo Michel Temer conseguiu aprovar quase tudo o que quis na Câmara, graças à ampla base de apoio articulada no impeachment da presidente Dilma Rousseff e mantida com a montagem da atual equipe de governo. Muito da credibilidade da equipe econômica do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é bom que se diga, decorre da atuação da base parlamentar de Temer. Maia, que ontem sancionou o orçamento da União de 2017 como presidente da República em exercício, é sócio principal do acervo de vitórias parlamentares do Palácio do Planalto.
Não é um patrimônio desprezível: desvinculação das receitas da União, nova lei das estatais, lei das concessões e privatizações, novo regime de exploração do pré-sal, nova lei da aviação civil, novas regras de privatização do setor elétrico, repatriação de recursos mantidos no exterior, redução de jornada a servidor federal com cônjuge ou filho deficiente, mais poderes para as CPIs, renegociação de dívida de produtor atingido pela seca, agilização dos processos judiciais, PEC do Teto de gastos públicos, lei da reforma do ensino médio e novas regras de regularização da situação fundiária em áreas pobres e carentes.
Entretanto, nada impede que a candidatura de Maia caia do telhado. Basta uma decisão desfavorável à reeleição do Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual o deputado Jovair Arantes pretende recorrer para barrar a reeleição. É aí que mora o perigo de uma tremenda zebra na Câmara. A reeleição já não é uma barbada; com Maia fora da disputa, a escolha do novo presidente da Câmara pode virar uma roleta russa. E complicar a vida do governo Temer ainda mais. É sempre bom lembrar que uma trapalhada na eleição da Câmara está na raiz da desestabilização da presidente Dilma Rousseff, que perdeu a disputa contra o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O resto foi consequência.
Sinal vermelho
Rosso e Jovair fazem parte do Centrão, bloco de partidos de centro-direita, criado por Cunha, que faz parte da base de apoio do presidente Michel Temer na Câmara. O grupo possui cerca de 200 votos. Tem, porém, personalidades e estilos completamente diferente. Rosso é um político mais refinado, cultiva o entendimento e atua na base do “soft power”; Jovair, não. É um político que costuma jogar duro, confronta para negociar, numa espécie de “hard power”. A tendência de Rosso é buscar projeção na grande política; Jovair opera com maestria a pequena política. O primeiro tende a seguir a liderança de Temer; o segundo, a confrontá-lo, porque isso traduz seu estilo e personalidade. No discurso de lançamento da candidatura, Jovair pregou “maior protagonismo” da Câmara e afirmou que a Casa não pode continuar “tutelada” pela Justiça.
Isso é música para o PT, que vislumbra na candidatura de Jovair e, não na de André Figueiredo, a possibilidade de desarrumar a ampla base parlamentar de Temer. Já sentiu o cheiro de animal ferido e deriva de Maia para Jovair, que é um adversário declarado da Operação Lava-Jato e, no lançamento de sua candidatura, acusou o presidente da Câmara de pôr a Casa em risco de desmoralização ao pleitear a reeleição. Não foi à toa que Zarattini, o novo líder petista, prestigiou o lançamento da candidatura do líder do PTB.
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