Marcelo Odebrecht e outros 80 executivos da empresa fazem acordo de delação premiada, uma bomba que deve explodir nas eleições de 2018
A política em Brasília segue seu curso como um baile de gafieira, no qual alguém resolveu aprontar um banzeiro e a orquestra não pode parar. Magistrados, parlamentares e ministros tentam manter a rotina na Praça dos Três Poderes, mas não adianta: o centro das atenções nesta terça-feira é a assinatura do acordo de delação premiada da Odebrecht com o Ministério Público Federal, na qual estariam citados, segundo se comenta nos bastidores da operação, cerca de 300 políticos dos principais partidos do país.
Marcelo Odebrecht e outros 80 executivos da empresa fazem parte do acordo, que é uma bomba de efeito retardado na política, que deve explodir mesmo nas eleições de 2018. A divulgação do teor da delação não tem prazo definido, mas provavelmente haverá vazamentos e a agonia deve aumentar até lá. Não é à toa que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quer aprovar até o final do ano as 10 medidas de combate à corrupção que estão sendo negociadas na Câmara. Uma delas é uma anistia para o caixa dois eleitoral, cuja “banalização” seria parte dos costumes políticos. Uma espécie de “quem comeu, comeu; quem não comeu, não come mais”.
Segue o baile: amanhã, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado votará o parecer do senador Eunício de Oliveira (PMNDB-CE) sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto dos gastos públicos. O líder do PMDB manteve intacto o texto aprovado pela Câmara, pois qualquer mudança provocará a volta do projeto para sua Casa de origem. O governo tem pressa em relação à medida, até para evitar que os protestos da oposição ganhem mais amplitude.
A maior resistência ao projeto vem de professores, que fazem uma grande agitação contra a limitação dos gastos com o argumento de que ele reduzirá as verbas da Educação, o que o governo nega. Mas esse discurso, como a narrativa de que o impeachment foi um golpe de Estado, ganhou força nas universidades e escolas de segundo grau, muitas das quais ocupadas por estudantes.
Enquanto o governo não aprovar a proposta, dificilmente a mobilização refluirá. Hoje, por exemplo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, promove uma audiência pública com professores que será uma verdadeira assembleia contra a PEC, cuja votação em primeiro turno, no plenário do Senado, está prevista para 29 de novembro.
Do outro lado da Praça dos Três Poderes, a grande preocupação do Palácio do Planalto é com o julgamento das contas de campanha da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro-relator Herman Benjamin já revelou que está horrorizado com a grandeza das irregularidades constatadas na prestação de contas. A estratégia do presidente Temer é desmembrar o processo, para evitar a cassação de toda a chapa, o que jogaria o país num vácuo de poder. Nesse caso, o presidente da Câmara ficaria à frente do Executivo, enquanto não se realizam novas eleições.
Eleições
O risco de novas eleições diretas é zero, pois é praticamente impossível o julgamento ocorrer neste ano. Mas, por causa desse cenário, o artigo do ex-assessor especial da Presidência Chico Graziano, propondo a candidatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, deixou meio mundo com a pulga atrás da orelha. Não é crível FHC, aos 85 anos, como cabeça de chapa na sucessão de 2018, mas numa eleição indireta para mandato tampão, em meio ao agravamento da crise ética, faz algum sentido.
O ex-presidente da República descartou a proposta, mas quem o conhece sabe que não é homem de fugir de desafios. Ou seja, no Palácio do Planalto, acendeu-se uma luz amarela em relação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é presidido pelo ministro Gilmar Mendes, amigo de FHC.
Mas segue o baile: enquanto tramitam a PEC do teto dos gastos e a medida provisória de reforma dos currículos escolares, o governo negocia com entidades sindicais e governadores a Reforma da Previdência. Também pretende concluir a votação do Orçamento da União de 2017 antes do recesso do Legislativo.
Entretanto, a chapa começa a esquentar no Congresso. Na Câmara, começou a disputa pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta viabilizar a reeleição. Todos os seus antecessores fracassaram na empreitada. No Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) é o mais cotado para ocupar o lugar de Renan Calheiros (PMDB-AL), porém, se a reeleição passar na Câmara, passará também no Senado.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…