Nas entrelinhas: O voto útil

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O resultado das eleições municipais frustra os esforços do PT para manter a candidatura de Lula como alternativa de poder, após a Operação Lava-Jato e o impeachment da presidente Dilma Rousseff

A maior surpresa do primeiro turno das eleições municipais foi a vitória de João Doria (PSDB) em São Paulo, o que faz do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) o grande eleitor do pleito, antes mesmo de o segundo turno acontecer. A derrota acachapante do prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), depois de uma arrancada na qual parecia garantir a própria presença no segundo turno, tem uma explicação até simplória: o voto útil. Foi tão grande o alarido petista no momento em que o prefeito chegou ao empate técnico com Celso Russomano (PRB) e Marta Suplicy (PMDB), que o voto útil funcionou a favor do tucano, devido ao sentimento antipetista dos paulistanos.

No Rio de Janeiro, teremos um segundo turno disputadíssimo, com Marcelo CriveLla (PRB) em queda, com 27% dos votos, e Marcelo Freixo (PSol), com 18%, em ascensão. O prefeito Eduardo Paes (PMDB), mesmo capitalizando a realização das Olimpíadas, colheu um fiasco eleitoral anunciado ao insistir na candidatura de Pedro Paulo (PMDB), que obteve 16% dos votos, sem se livrar da pecha de, supostamente, bater em mulher. Foi uma disputa que mostrou uma grande divisão entre as forças políticas da capital. Freixo foi beneficiado pelo esvaziamento das demais candidaturas de esquerda: Jandira Feghali (PCdoB), que obteve 3% dos votos, mesmo com o apoio dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da silva e Dilma Rousseff, e Alessandro Molon (Rede), que teve 1%. Pedro Paulo perdeu votos para a antiga oposição ao governo federal, representada por Índio da Costa (PSD) e Carlos Osório (PSDB), com 8% cada. Flávio Bolsonaro (PSC), com 13% dos votos, porém, ajudou a enfraquecer Crivella.

Num balanço rápido, nacionalmente, o PSDB emerge do primeiro turno em vantagem. Além da vitória em São Paulo e Teresina, com Firmino Filho, disputa o segundo turno em Belo Horizonte, com João Leite; Manaus, com Arthur Virgílio Neto; Porto Alegre, Nélson Marquezan Filho; Belém, Zenaldo Coutinho; Campo Grande, Rose Modesto; Maceió, Rui Palmeira; Cuiabá, Wilson Santos; e Porto Velho, Dr. Hílton. O PMDB reelegeu Teresa Surita no primeiro turno e disputa o segundo turno em Porto Alegre, com Sebastião Melo; Goiânia, Iris Rezende; Maceió, Cícero Almeida; Cuiabá, Emanoel Pinheiro; Florianópolis, Gean Loureiro; e Macapá, Gilvan Borges.

Mas o primeiro turno das eleições mostrou também que está nascendo um novo líder na política nacional, de perfil liberal: o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que se reelegeu com 73% dos votos válidos. Herdeiro político do “carlismo”, a corrente política do falecido senador Antônio Carlos Magalhães (DEM), aos 37 anos, Neto desponta como grande administrador da capital baiana, mesmo tendo contra ele o governador petista Rui Costa, cuja legenda apoiou a deputada Alice Portugal (PCdoB). Já não pode mais ser tratado como representante de um clã político, apenas. Ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), sua liderança agora se equipara à dos senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

O PSB reelegeu o prefeito de Palmas, Carlos Amastha. Mas, sem o falecido governador Eduardo Campos, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, com 49% dos votos, bateu na trave e disputa o segundo turno com o petista João Paulo. A legenda também está no segundo turno em Goiânia, com Vanderlan; e Aracaju, com Valadares Filho. Cida Ramos, candidata do governador Ricardo Coutinho (PSB), perdeu em João Pessoa para Luciano Cartaxo, do PSD, no primeiro turno.

Fracasso

Sem dúvida, o pior desempenho da eleição foi o do PT, apesar do esforço do ex-presidente Lula em algumas capitais. Só elegeu o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, no primeiro turno, e apenas disputa o segundo turno em Recife. Em São Paulo, o desastre foi muito maior do que se imaginava, porque a legenda perdeu capital. Com baixíssimos índices de aprovação, Haddad era um cavalo paraguaio desde a largada. O PT fracassa também em antigos redutos, como São Bernardo, onde ficou fora do segundo turno.

O resultado das eleições municipais em todo o país frustra os esforços do PT para manter a candidatura do Lula como alternativa de poder e mostra o enfraquecimento da legenda após a Operação Lava-Jato e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tanto o governador de Minas, Fernando Pimentel, como o da Bahia, Rui Costa, saíram derrotados nas capitais de seus estados. O PT tinha 630 prefeituras e agora conta com apenas 231, a maioria em pequenas cidades. Ou seja, o partido resiste é nos grotões.

No campo das forças que lutaram contra o impeachment, destaca-se o desempenho do PSol, no Rio de Janeiro, que hegemonizou a esquerda carioca. Freixo foi beneficiado pelo desempenho de Carlos Osório (PSDB) e Índio da Costa (DEM), que enfraqueceram Pedro Paulo. Dificilmente, porém, conseguirá derrotar Crivella se não fizer uma inflexão no seu discurso eleitoral, que é ancorado na narrativa do golpe e no “Fora, Temer!”, mesmo que uma parte dos votos da antiga oposição migre por gravidade.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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