Como ninguém pula numa piscina sem saber se tem água dentro, Alckmin terá que melhorar nas pesquisas de opinião nos próximos meses e se posicionar no plano da política nacional
O PSDB fará sua convenção nacional amanhã, em Brasília, para eleger o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, novo presidente do partido. A foto da convenção será a cara da sua pré-candidatura, cujo maior desafio é sair do confinamento em que se encontra, sustentada basicamente pelos eleitores paulistas que aprovam sua gestão. Político prudente e ponderado, Alckmin é a antítese do que seria um anti-Lula ou um anti-Bolsonaro, o perfil desejado pela maioria dos eleitores radicalizados, que retroalimentam as duas candidaturas.
Os mais ansiosos, diante desse cenário ainda nebuloso, já fizeram apostas de curto fôlego, todas com intuito de romper a polarização existente e encontrar um candidato do establishment que tivesse a cara do “novo”. O prefeito de São Paulo, João Doria, ensaiou sua candidatura e foi obrigado a retroceder, porque a vida de prefeito da maior cidade do país não é bolinho. Os problemas da capital paulista têm a escala de sua população e, aparentemente, uma caveira de burro parece azarar a vida de quem senta naquela cadeira. Alckmin se livrou da ameaça de Doria, mas também acabou desgastado, porque a narrativa do novo contra o velho dividiu a legenda.
Essa narrativa fez mais estragos, porém, quando foi encampada pelos defensores da candidatura do apresentador de tevê Luciano Huck. Essa de fato uma grande novidade da política, que rapidamente galvanizou as atenções de uma fatia do eleitorado, mas quando despontou como alternativa de poder nas pesquisas, Huck desistiu de ser candidato e sua decisão teve grande aprovação entre seus admiradores. Não se pode dizer que seu nome esteja completamente fora do cenário, porque Huck revelou competitividade eleitoral e deixou uma marca de candidato antipolítico.
Empreendedor bem-sucedido, Huck pode preencher os pré-requisitos do mito do herói, aquele que deixa o conforto da família e seus afazeres profissionais muito bem remunerados para socorrer a sociedade em dificuldade, como um Superman. A rigor, pode sair de cena e voltar, na hora da onça beber água, ou seja, quando acabar o prazo das filiações partidárias. Não são poucos os políticos que preferem aguardar uma definição maior do cenário para fazer sua aposta eleitoral, embora o tempo não pare.
A menos de um ano das eleições, o campo aberto no centro do espectro político. O chamado caminho do meio está sendo disputado por uma miríade de candidatos. No momento, os mais competitivos em cena são Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). Ambos foram candidatos a presidente da República. Entretanto, do ponto de vista das chamadas condições objetivas — estrutura de poder, tempo de televisão, recursos do fundo partidário —, estão em grande desvantagem. Se não conseguirem fazer coligações robustas, vão sentir o peso dessa desvantagem na campanha eleitoral, mesmo que recorram às redes sociais.
Como no mar, tamanho é documento, para navegar nas redes sociais. As eleições americanas provaram que o dinheiro também faz diferença no Facebook, no Twitter e no Google, para citar as três gigantes. A nova legislação eleitoral criou condições mais favoráveis para os grandes partidos, que tem mais recursos para operar no mundo do chamado fake news, cuja importância foi decisiva na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Previdência
A convenção do PSDB dará ao governador paulista o comando da legenda, mas isso não significa que seu partido resolverá seus problemas graças a isso. Alckmin terá que liderar o voo de tucanos em formação, o que não é tarefa fácil. A situação da legenda em Minas está complicada, no Paraná também. Sem candidatura do senador Tasso Jereissati, fica dramática no Nordeste. No Amazonas, o prefeito de Manaus|, Arthur Virgílio, desafia Alckmin a disputar prévias internas para ser candidato.
No comando da legenda, Alckmin terá oportunidade de aproveitar o troca-troca de partidos em março para reorganizá-lo na maioria dos estados. Mesmo assim, precisará tecer alianças com outros partidos que estão na órbita do governo Temer. Como ninguém pula numa piscina sem saber se tem água dentro, Alckmin terá que melhorar nas pesquisas de opinião nos próximos meses, além de se posicionar de forma mais afirmativa no plano da política nacional. Ou seja, encher a piscina de intenções de votos.
Um divisor de águas para isso também será a reforma da Previdência, que o governo pretende aprovar até o final do ano. Toda a articulação feita pelo governo para que o PMDB e seus aliados fechassem questão a favor da reforma, no decorrer desta semana, teve por objetivo pressionar Alckmin a enquadrar a bancada do PSDB na Câmara, tão logo assuma o comando da legenda. Até o PPS foi instado a fechar questão, ao lado do PTB, PDS, PP e PR. O distanciamento do tucano em relação ao presidente Michel Temer e o desembarque do PSDB do governo, em razão da Lava-Jato, se tornou um complicador para a vida de Alckmin. Até porque Temer e Aécio Neves, que deixa o comando do PSDB, hoje são aliados incondicionais.
Publicada no Correio Braziliense de 8 de dezembro de 2017