Com a candidatura de Lula fragilizada, as urnas apontam para a antecipação da disputa entre o PMDB e o PSDB pela sucessão de Michel Temer
Não há dúvida de que o PT foi o grande derrotado nas eleições municipais, varrido praticamente das grandes cidades do país e inclusive no seu leito de origem, São Paulo, onde ficou fora do segundo turno na capital e em São Bernardo. É difícil uma recuperação da legenda no curto prazo, a tempo de viabilizar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como alternativa de poder em 2018. Com o PT batido, a disputa do segundo turno será entre o PSDB e o PMDB.
O PSDB foi a sigla que mais conquistou prefeituras entre as 93 cidades com mais de 200 mil eleitores: venceram em 14 municípios e estão no segundo turno em 19. O partido registrou um crescimento de 18%, conquistando 791 prefeituras no total. Mas o PMDB continua sendo o partido com mais capilaridade, tendo elegido 1.028 prefeitos. Conquistou seis prefeituras em cidades com mais de 200 mil habitantes, elegeu um prefeito de capital e disputa mais seis capitais, sendo quatro contra o PSDB.
Com a candidatura de Lula fragilizada, as urnas apontam para a antecipação da disputa entre o PMDB e o PSDB pela sucessão de Michel Temer, em 2018, já no segundo turno das eleições municipais. Essa possibilidade reforça a postura cautelosa do presidente da República nas eleições municipais, inclusive em São Paulo, onde deixou ao relento Marta Suplicy (PMDB), cuja candidatura foi volatilizada na reta final de campanha. Segundo seus interlocutores, a mesma atitude deve se repetir no segundo turno, principalmente onde tucanos e peemedebistas se digladiam.
Temer tem reiterado que não pretende concorrer à reeleição, mas apenas concluir seu mandato e entregar o país em ordem, com a economia domada. Essa tarefa, por si só, diante da recessão e da crise política que resultaram no impeachment de Dilma Rousseff, já seria suficiente para catapultá-lo de presidente impopular a candidato à reeleição. Por isso mesmo, qualquer movimento no sentido de fortalecer o PMDB pode provocar um estresse com os tucanos, de cujo apoio depende no Congresso.
Alternativas
O resultado eleitoral consolidou o PSDB como alternativa de poder, mas não pôs fim à surda luta interna pelo controle da legenda entre o presidente do partido, senador Aécio Neves (PSDB-MG); o ministro das Relações Exteriores, José Serra; e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o grande vitorioso no pleito. A eleição de João Doria à Prefeitura São Paulo, já no primeiro turno, representou uma derrota para Serra, que nos bastidores apoiou a candidatura de Marta.
Como se sabe, Alckmin impôs Doria, um candidato de sua confiança, aos principais líderes tucanos de São Paulo. A grande questão é saber se o governador paulista pretende dar uma nova cartada na sua própria sucessão, inventando outro candidato estranho à política tradicional, ou se tentará uma composição interna. Aécio tenta reerguer o PSDB em Minas e seu candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, João Leite (PSDB), é favorito no segundo turno.
Há outros atores no jogo, como o ex-governador Ciro Gomes, cuja legenda atual, o PDT, venceu as eleições em Natal e disputa as prefeituras de São Luiz e Fortaleza com chances de vitória. Ciro se posiciona como uma alternativa de aliança para o PT, caso Lula se torne inelegível ou desista de disputar a eleição, embora seja muito improvável que a legenda abra mão de uma candidatura própria, até por uma questão de sobrevivência.
Há que se considerar o fato de que o resultado eleitoral contrasta muito com a agitação feita contra o governo Temer pelo PT e seus aliados, com apoio dos sindicatos, entidades estudantis e outros movimentos sociais. O veredito das urnas mostra que a maioria dos eleitores não se identifica com as lideranças desses partidos. Nas capitais, onde ocorreram as maiores manifestações, o PT venceu apenas em Rio Branco (AC) e concorre apenas no Recife, no segundo turno, assim mesmo em muita desvantagem.
Foge à regra a situação no Rio de Janeiro, onde Marcelo Freixo (PSol) vai ao segundo turno contra Marcelo Crivela (PRB). Com um discurso à esquerda do PT, o PSOl precisa fazer uma inflexão política para conquistar o apoio dos eleitores de Carlos Osório (PSDB) e Índio da Costa (DEM) no segundo turno, o que não é fácil.