Ao subir o tom contra o presidente Jair Bolsonaro, Maia aposta numa separação mais nítida entre governistas e a oposição. Entretanto, isso estressa a bancada do DEM
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estima os gastos do Palácio do Planalto para anabolizar a candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Casa em R$ 20 bilhões. É muita grana em emendas extraordinárias para um Orçamento já comprometido diante da dívida pública da União, que aumentou R$ 1 trilhão somente no ano passado. O toma lá dá cá é o abre-alas de uma guinada populista do governo para consolidar a base governista na Câmara e no Senado, num ambiente de queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. A outra opção é não cumprir os acordos, o que também pode acontecer, porque Bolsonaro já deu mostras de que nem sempre honra os compromissos assumidos por seus articuladores políticos.
Às vésperas de deixar o comando da Câmara, Maia queima os navios com o Palácio do Planalto. Tem criticado, duramente, a interferência direta do presidente da República nas eleições da Mesa e está praticamente rompido com o presidente do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que fechou com Lira, de olho na sua candidatura a governador da Bahia. O futuro de Maia é incerto, mas seus interlocutores estão convencidos de que o parlamentar fluminense pretende assumir uma posição de liderança no bloco de oposição ao governo. Especula-se até que esteja desembarcando do DEM. Parcela expressiva da sua bancada refuga o apoio ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Maia ao comando da Câmara.
Rodrigo Maia teria sido convidado para assumir o comando da Casa Civil do governo de São Paulo, tornando-se o principal articulador da candidatura do governador João Doria (PSDB) à Presidência da República. Faz sentido, porque o presidente da Câmara assumiu um discurso liberal-democrata radical de oposição ao governo. Com isso, o bloco que lidera vem sofrendo sucessivas defecções em razão do trabalho de sapa dos articuladores do governo e seu candidato, Arthur Lira.
Ao subir o tom contra o presidente Jair Bolsonaro, Maia aposta numa separação mais nítida entre o bloco governista e a oposição. Entretanto, isso estressa a bancada. Lira se aproveita da situação e pressiona para que os deputados do DEM que o apoiam forcem a bancada a romper formalmente com Rossi, o que deixaria Maia pendurado no pincel. Uma situação como essa, praticamente, o empurraria para fora do DEM. Seria até meio desmoralizante, para quem já foi presidente da legenda. Lira já consolidou o apoio de 30 deputados do PSL, que, ontem, se encontraram com o presidente Jair Bolsonaro. Luciano Bivar (PE), presidente da legenda, também teria desembarcado da candidatura de Rossi.
Avulsos
Na guerra de informações sobre o comportamento das bancadas, a incógnita é a densidade dos demais candidatos, que podem levar a disputa entre Lira e Rossi para o segundo turno. Se forem somados todos os votos que os candidatos dizem ter, a Câmara teria muito mais do que 513 deputados. Os demais candidatos são:
Alexandre Frota (PSDB-SP): candidato avulso. Defende uma Câmara independente em relação ao Executivo e à abertura de processo de impeachment de Bolsonaro.
André Janones (Avante-MG): candidato avulso. Promete pautar a volta do auxílio emergencial. Cinco deputados apoiam publicamente sua candidatura, mas calcula que pode chegar a 10 parlamentares nas eleições, que serão realizadas com voto secreto.
Capitão Augusto (PL-SP): candidato avulso. Coordenador da Frente Parlamentar de Segurança Pública, conhecida como a bancada da bala, tem conversado com deputados de “bancadas vocacionadas”, como a evangélica.
Fábio Ramalho (MDB-MG): candidato avulso. Tem investido no contato individual com os parlamentares do baixo clero, em que transita muito bem. Defende a independência da Câmara. Marcel van Hattem (RS): candidato oficial do Novo, partido que conta com oito deputados. Aposta no diálogo e está empenhado em construir pontes com os parlamentares.
Luiz Erundina (PSol-SP): a legenda contesta a aliança dos partidos de esquerda com Baleia Rossi, mas a candidatura da ex-prefeita de São Paulo não unificou a bancada.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…