Duas eleições apontam tendências: a de São Paulo, no qual João Doria(PSDB) se elegeu no primeiro turno, e de segundo turno no Rio de Janeiro entre Crivela (PRB) e Freixo (PSol)
As eleições municipais, que agora fervem na disputa de segundo turno, em 18 capitais e mais 55 cidades importantes do país, revelaram tendências do processo político que apontam para as eleições presidenciais de 2018. Mesmo que o pleito seja atípico, por causa do predomínio das contingências nacionais em relação às virtudes dos candidatos. A recessão, a crise ética e a nova legislação eleitoral foram fatores que influenciaram o processo eleitoral de forma decisiva.
Duas eleições, mais do que as outras, apontam tendências para o futuro: o resultado de São Paulo, no qual João Doria(PSDB) se elegeu no primeiro turno, e a disputa de segundo turno no Rio de Janeiro, entre os dois Marcelos, Crivela (PRB) e Freixo (PSol). Em ambas, o PT e o PMDB foram derrotados. Historicamente, as duas cidades protagonizam o debate eleitoral, ainda mais porque não há eleições municipais em Brasília.
A primeira grande tendência é um certo cansaço do eleitorado com as lideranças políticas tradicionais. Esse foi o recado mais nítido das urnas em São Paulo, cidade na qual o prefeito petista Fernando Haddad tentou vestir um novo figurino e seu deu mal. Seu desempenho associa o desgaste do PT e sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao fracasso administrativo na maior cidade do país. Novidade foi a vitória espetacular de João Doria (PSDB), um candidato que saiu do bolso do colete do governador Geraldo Alckmin (PSDB), ele próprio uma liderança tradicional, que já havia disputado a prefeitura da capital e perdido.
O recado de São Paulo representa uma guinada à direita do eleitorado. O candidato vitorioso é um jornalista e empresário bem-sucedido, não um político, com perfil de centro. O discurso de Doria aposta na eficiência administrativa, na redução das atividades da prefeitura às tarefas essenciais e na menor interferência dos partidos políticos na administração, embora sua coligação tenha uma composição na direção contrária. Sua eleição atropelou lideranças históricas do PSDB, como o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e consolidou o controle da legenda por Alckmin.
A vitória espetacular no primeiro turno e o movimento do novo prefeito eleito em direção à boa convivência com os adversários, que se traduziu na criação do conselho de ex-prefeitos, mostra um esforço no sentido de unir forças para enfrentar os desafios da maior metrópole do país e, ao mesmo tempo, alavancar um projeto de poder nacional. A questão a saber é se esse projeto se enquadra no figurino do PSDB nacionalmente ou exigirá um ajuste de contas interno, entre o presidente da legenda, o senador Aécio Neves (MG), o governador paulista e Serra, os três presidenciáveis tucanos. De qualquer forma, a eleição pavimentou o surgimento de uma candidatura centrista às eleições presidenciais de 2016, em contraponto a uma eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que luta, desesperadamente, para sobreviver às investigações da Operação Lava-Jato.
A outra vertente é a disputa no Rio de janeiro, na qual houve grande dispersão de forças. O centro político, que tradicionalmente vinha levando a melhor nas eleições da cidade, ficou sem representação no segundo turno, com a derrota do candidato do PMDB, Pedro Paulo, apoiado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), apesar do sucesso das Olimpíadas. O pastor evangélico Marcelo Crivela (PRB), da Igreja Universal do Reino de Deus, durante toda a campanha liderou a disputa e, agora, avança em direção ao eleitorado de centro, contra Marcelo Freixo (PSol), que marca posição como candidato radical, brandindo velhas bandeiras da esquerda tradicional. Em nenhum momento, sinalizou em direção aos partidos que fizeram oposição ao governo Dilma Rousseff, PSDB, DEM e PPS, e ao PMDB. Embora o Rio de Janeiro já tenha protagonizado vitórias espetaculares da esquerda, como a de Leonel Brizola em 1982, Crivela mantém sua vantagem em relação a Freixo.
Quem se habilita?
O processo eleitoral carioca, porém, aponta para um outro cenário nas eleições de 2018: o esvaziamento do centro e a radicalização política, como aconteceu, por exemplo, em 1989, na disputa entre Collor de Mello e Lula. Quais seriam os protagonistas dessa disputa? Até agora as pesquisas mostram que o petista continua a liderar as intenções de votos do primeiro turno. Jair Bolsonaro (PRB) é que pinta como o candidato do radicalismo de direita, mas ainda não tem fôlego para chegar ao segundo turno, ao contrário de Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede), que derrotariam Lula.
Vamos supor que Lula se torne inelegível em razão da Lava-Jato, o que é cada vez mais provável, qual seria o candidato das forças que representa? Quem está ‘costeando o alambrado’, como diria Leonel Brizola, é o ex-governador Ciro Gomes (PDT), que já disputou duas eleições presidenciais. Aécio Neves, em razão do protagonismo de Alckmin, joga seu destino no resultado das eleições de Belo Horizonte, ainda incerto. Resta o PMDB como grande ator, mas o partido não tem um candidato ainda. Nesse caso, teria duas opções: a reeleição do presidente Temer, se o seu governo for bem-sucedido, ou uma aliança com o PSDB. Fala-se na eventual saída de Serra do PSDB para ser candidato pelo PMDB, mas é melhor deixar isso acontecer.
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