Nas entrelinhas: O PT joga a toalha

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O afastamento definitivo de Dilma fortalecerá o governo Temer, mas a crise ética continua sendo um fator desestabilizador da política

O PT jogou a toalha em relação à presidente Dilma Rousseff. O esperneio de ontem no plenário do Senado, na sessão de pronúncia do impeachment, aprovada por 59 a 21, esconde o afastamento entre a cúpula da legenda e a presidente afastada. A vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília ontem teve o objetivo de evitar que a desmobilização petista contra o impeachment levasse a um agastamento ainda maior. A Operação Lava-Jato, a partir dos depoimentos do marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, abriu um fosso profundo entre a legenda e Dilma por causa do caixa dois da campanha presidencial.

Dilma responsabiliza a legenda por pagamentos não contabilizados oficialmente feitos ao marqueteiro no exterior, que disse desconhecer e não ter autorizado. O presidente do PT, Rui Falcão, que até agora não foi citado em nenhuma delação premiada, nega ter conhecimento do fato. Em nome do partido, Falcão assumiu todas as doações declaradas à Justiça Eleitoral, não importa a origem do dinheiro ser o “petrolão”. Mas fez uma espécie de “saneamento” das finanças da legenda após a prisão do ex-tesoureiro João Vaccari Neto.

O fato é que não interessa ao PT esticar o julgamento de Dilma no Senado, pelas consequências que isso terá para a legenda nas eleições municipais, onde seus candidatos majoritários estão enfrentando grandes dificuldades, a começar pela reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. O PT prefere voltar a ser estilingue, contra o governo Temer, e deixar de ser vidraça por causa do fracasso do governo Dilma. As possibilidades futuras de legenda dependem da sobrevivência política do ex-presidente Lula. Mesmo acuado pela Operação Lava-Jato, o petista se mantém como candidato competitivo à Presidência.

O pior, porém, ainda pode estar por vir. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, determinou a abertura de processo pedindo a cassação do registro do partido. O ministro afirmou que há indícios de que o PT foi indiretamente financiado pela Petrobras, uma sociedade de economia mista, o que é proibido pela legislação eleitoral. “O que estamos dizendo é que essa prática pode dar ensejo à extinção e a corregedoria deve fazer a avaliação”, disse o presidente do TSE na terça-feira, após palestra sobre as eleições de 2016 para a imprensa. O ministro não descartou que outros partidos possam ser investigados.

O PT foi pra cima do presidente do TSE, acusando-o de parcialidade. Entretanto, não costuma ser boa tática atacar o Judiciário. A estratégia fracassou no julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não tem a menor chance de sucesso no julgamento da Operação Lava-Jato. O ministro é relator das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff, que foram julgadas e aprovadas pelo TSE logo depois das eleições, em dezembro de 2014. Mas, diante de indícios de irregularidades encontrados por técnicos do tribunal, decidiu investigá-las e surgiu um laranjal na prestação de contas.

Delação

A estratégia do PT é partir para a oposição feroz ao governo Temer, responsabilizando-o pelas consequências sociais da crise econômica, política e ética. O vazamento de trechos da suposta delação premiada do ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, citando o presidente interino Michel Temer, que supostamente teria recebido R$ 10 milhões do caixa dois da empresa para a campanha eleitoral, caiu do céu para os petistas. A delação premiada do empresário é esperada como uma espécie de “tsunami” político, pois promete entregar a lista completa de todos os políticos e partidos beneficiados pelo caixa dois eleitoral da empresa, cujos recursos tinham origem no superfaturamento de contratos de obras e serviços públicos, principalmente da Petrobras. As denúncias atingiram também os partidos da antiga oposição, sobretudo o PSDB.

Nada indica que a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff possa representar a interrupção da Operação Lava-Jato, ou seja, um ponto final nas investigações contra os partidos e os políticos. O seu afastamento definitivo fortalecerá o governo Temer, com a consolidação de sua base política e do seu programa de ajuste fiscal, mas a crise ética continua sendo um fator desestabilizador do establishment político. O erro do PT é achar que uma metástase no sistema partidário possa salvar a legenda da decadência eleitoral. Em consequência da Lava-Jato pode acontecer quase tudo, menos isso.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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