As velhas raposas políticas costumam dizer que ninguém é candidato de si mesmo. É um princípio basilar que precisa ser levado a sério por todos que têm pretensões eleitorais
Uma entrevista como a de Luciano Huck no Faustão de domingo não acontece por acaso, nem pode ser avaliada como algo trivial, sem conotação política. Mesmo que as intenções do apresentador e da direção da TV Globo fossem desfazer a ideia de que ele pode vir a ser candidato a presidente da República, o que todo mundo tem o direito de duvidar, o efeito de sua entrevista ao lado da mulher, a também apresentadora Angélica, foi posicioná-lo novamente como possível candidato. E mais do que isso, alavancá-lo nas próximas pesquisas de opinião. Na ambiguidade que costuma tecer o processo político, Huck pode não ser candidato, mas sua candidatura, eleitoralmente falando, já existe.
As velhas raposas políticas costumam dizer que ninguém é candidato de si mesmo. É um princípio basilar que precisa ser levado a sério por todos que têm pretensões eleitorais. Na entrevista, Huck negou mais uma vez que é candidato, mas se colocou aberta e francamente como um protagonista do processo eleitoral de 2018: “Neste momento, se eu me isentar de tentar melhorar, eu estaria sendo covarde. Não quero que seja uma pretensão minha (ser presidente) e não quero ser pretensioso de maneira nenhuma. O que estou fazendo, e vou continuar fazendo, é tentar mobilizar uma geração inteira, não importa se é de direita ou de esquerda, não acredito mais nisso. E não queria fazer isso pelos partidos políticos, porque eles estão derretendo, temos que ocupar de novo. Optei por fazer pelos movimentos cívicos, gente da sociedade civil que está a fim de se juntar para ter ideia e falar ‘quero ser deputado’, ‘quero ser governador’, ‘quero ser senador’, e mobilizar essas pessoas a se lançarem na política para tentar renovar”.
Huck foi além do que seria uma celebridade dando pitaco na conjuntura. Entrou em sintonia com o eleitor descontente com os partidos e políticos (“a sociedade como um todo está envergonhada da classe política”) e avançou duas casas ao definir aquele que seria seu inimigo principal na disputa: “É um ano superimportante, o voto é o melhor e o único jeito de transformar. Com essa crise, tem gente que pede volta à ditadura. Não existe isso, democracia é feita para melhorar a vida das pessoas. Temos nossa arma e temos que agarrar com unhas e dentes”. Mirou o deputado Jair Bolsonaro, que recentemente anunciou sua transferência do PSC para o PSL, atacando diretamente sua principal base eleitoral. Foi sagaz na declaração, ao não atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode se tornar uma carta fora do baralho eleitoral depois do julgamento de 24 de janeiro.
Nenhum político profissional comparece à televisão sem estudar muito bem o que pretende falar. Mesmo assim, a exposição em tevê aberta com uma audiência como a do programa do Faustão é sempre um risco. Para um neófito na política, Huck foi muito além do excepcional apresentador de tevê. Não deu um passo em falso, falou o que o cidadão comum gostaria de ouvir, sem passar recibo da candidatura, e se posicionou no cenário eleitoral como uma espécie de coelho na cartola do establishment empresarial do país. O simples fato de a TV Globo expô-lo em horário nobre não deixa de ser um recado do tipo “ainda temos uma bala de prata” e “ri melhor quem ri por último”.
Mergulho
Huck mergulhou em novembro passado depois de dois meses de especulações sobre a sua candidatura, nos quais saltou de 17 pontos percentuais em uma pesquisa do Instituto Ipsos publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, na qual saiu de 43% para 60% de aprovação, enquanto sua desaprovação caiu de 40% para 32%. Depois dessa pesquisa, foi para o pelourinho das redes sociais, porque ultrapassou o ex-presidente Lula (PT), então com 43% de avaliação positiva e 56% de avaliação negativa. A versão oficial foi de que teria recebido um ultimato da TV Globo e que a candidatura enfrentava muita oposição da família, principalmente de Angélica, sua mulher. Um artigo no jornal Folha de São Paulo anunciou a retirada estratégica. A entrevista de domingo, de certa forma, põe em dúvida essa versão. O candidato saiu de cena, mas a candidatura ficou no ar.
Um mês depois, no levantamento feito pela Ipsos em dezembro, Huck ainda se mantinha à frente de Lula, com 57% de aprovação contra 45%, enquanto sua desaprovação subia para 36% e a de Lula caia para 54%. O problema é que a saída de cena de Huck não melhorou nem um pouco a situação de outros candidatos que poderiam se tornar uma alternativa, principalmente por causa da alta rejeição: Marina Silva (Rede) 28% positivo e 62% negativo; Jair Bolsonaro, 21% e 62%; Ciro Gomes, 19% e 65%; e Geraldo Alckmin (PSDB), 19% e 72%. todos acima dos 60%. O único nome que realmente despontava era outro outsider na política: o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que namora o PSB, com 37% de aprovação e 44% de rejeição. Mas ninguém se iluda, a entrevista de Huck no Faustão abriu a temporada de caça eleitoral e haverá forte reação dos partidos e dos políticos, principalmente do PMDB, do PT e do PSDB. Políticos profissionais não morrem de véspera.
Lula não consegue sustentar medidas econômicas impopulares, porém necessárias, ainda que em médio e longo…
Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está sendo maturada no Palácio do…
Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se…
Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista…