Nas entrelinhas: O PMDB no foco

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Não foi à toa que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) foi anunciado como ministro da Justiça, um nome da legenda identificado com a CPI dos Correios, que desnudou o mensalão

Depois do PT, chegou a vez de a força-tarefa da Operação Lava-Jato fechar o foco das investigações sobre o escândalo da Petrobras no PMDB. Ao autorizar a 38ª fase da Operação Lava-jato, segundo o Ministério Público Federal, o juiz federal Sérgio Moro destacou o caráter serial e profissional dos crimes envolvendo agentes públicos. Ao contrário do PT, que tinha uma estrutura centralizada e verticalizada de finanças, o partido do presidente Michel Temer é uma federação de caciques regionais, não tem um centro dirigente. Mas o perigo ronda o Palácio do Planalto e não foi à toa que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) foi anunciado como ministro da Justiça, um nome da legenda identificado com a CPI dos Correios, que desnudou o mensalão.

No caso do PT, o esquema de propina na Petrobras, supostamente, era operado pelo ex-diretor de Serviços da empresa Renato Duque e pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que estão presos. Os dois mataram a acusação no peito e não fizeram delação premiada, ao estilo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que já se encontra em liberdade. O PT nega a existência de caixa 2 e sustenta a tese de que as doações que recebeu da Odebrecht, sócia da Petrobras na Brasken, e de outras empreiteiras foram devidamente registradas na Justiça Eleitoral.

Segundo a Polícia federal, os operadores financeiros Jorge Luz e o filho dele Bruno Luz, alvos da 38ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada ontem no Rio de Janeiro, são os operadores do PMDB. Foi decretada a prisão preventiva de ambos, mas eles estão nos Estados Unidos e entraram na lista vermelha de procurados da Interpol. A operação Blackout é que vai dizer no bolso de quem os recursos que operavam foram parar. Não existe um PMDB, mas vários. Há o grupo do ex-governador Sérgio Cabral, que está preso, e o esquema do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que também está em cana. Mas o foco da operação é o grupo do ex-presidente do Senado Renan Calheiros, atual líder da bancada do PMDB.

Uma declaração do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró é a pena da galinha, como diria o falecido ministro Teori Zavascki, que comandava a investigação dos políticos no STF: “O Jorge Luz era um operador dos muitos que atuaram na Petrobras (…). E foi o operador que pagou os US$ 6 milhões de comissão. Da propina da sonda Petrobras 10.000, foi o Jorge Luz encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros…”, disse na delação. O presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que os envolvidos não têm relação com o partido e nunca foram autorizados a falar em nome do PMDB.

Delações

Pai e filho são suspeitos de utilizarem contas no exterior para fazer repasse de propinas a agentes públicos, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Acusados de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas, lavagem de dinheiro dentre outros, provavelmente vão contar o que sabem para tentar evitar um longo período na prisão, como outros executivos e operadores que aderiram às delações premiadas.

O problema é que está cada vez mais difícil negociar esse tipo de acordo com o Ministério Público, a não ser que no pacote venham provas robustas de envolvimento de autoridades. Além das delações premiadas da Odebrecht, que estão nas mãos do novo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Édson Fachin, há outras delações em via de se concretizarem, inclusive envolvendo o esquema internacional da Odebrecht, que já está dando muita confusão nos países onde a empresa operava.

Calheiros, em nota, afirma que “a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é igual a zero (…) todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais. Embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há 25 anos e que não possui nenhum operador”.

A Operação é uma espécie de linha de passe entre os investigadores do Rio de Janeiro e de Curitiba. A penúltima fase da Lava-Jato foi executada pela 7ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro em parceria com a 13ª Vara da Justiça do Paraná; agora, a situação se inverteu. Vai inevitavelmente levantar questionamentos quanto à competência de Sérgio Moro para investigar os políticos citados. Até prova em contrário, Serraglio não vai atrapalhar as investigações da Lava-Jato. Foi nomeado para garantir essa imagem para o governo.

(Publicado no Correio Braziliense em 24 de fevereiro de 2017)

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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