O afastamento de Dilma e a nomeação de Meirelles geraram certo otimismo, mas as expectativas pessimistas começam a contaminar as previsões para 2017
O Brasil vive a pior recessão da história, disse ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “À medida que o deficit se torna real, as despesas aumentam e as receitas caem. A receita líquida tributária, que foi 15% do PIB em 2011, está em 11% hoje. O Brasil tem dívida bruta pública que é muito elevada para o nosso nível de desenvolvimento. A dívida já supera 70% do PIB, e a média dos emergentes é 45% do PIB. O deficit primário, R$ 170,5 bilhões, é elevado, mas é real, realista”, avalia.
A situação somente não é pior do que a década de 1980 porque não estamos num cenário de hiperinflação. No ano passado, a retração foi de 3,8%, a maior desde 1990. O Brasil vem desacelerando há sete trimestres consecutivos. O consumo caiu 4%. A produção recuou em todos os 25 segmentos da indústria de transformação. Os investimentos encolheram pelo segundo ano consecutivo, acumulando uma contração de quase 18%. A taxa de desemprego continua crescendo.
Esse é o resultado da nova “matriz econômica” da presidente afastada, Dilma Rousseff, e suas pedaladas fiscais para maquiar a realidade, e do oba-oba ufanista do governo Lula, que surfou a onda do crescimento da China e usufruiu do bônus demográfico (a redução do número de dependentes em relação à população economicamente ativa), mas, na verdade, perdeu o bonde do crescimento sustentável. O experimentalismo econômico em países de dimensões continentais é um perigo, pois a economia desgovernada tem a inércia de um trem de carga quando descarrila. Aliado ao voluntarismo político, a situação pode ser pior ainda.
Lula, Dilma e seus aliados fingem que não têm nada a ver com o que está acontecendo. Petistas continuam defendendo os velhos paradigmas que deram errado. No Congresso, verdade seja dita, as forças que nadaram de braçada durante as vacas gordas e que agora estão na base do governo Temer, docemente constrangidas, fazem corpo mole para aprovar o ajuste fiscal, enquanto o PT busca uma volta às origens sindicais corporativas com a velha ladainha contra o ajuste.
Os números não deixam dúvidas quanto à gravidade da recessão e das dificuldades para a retomada da economia. A economia brasileira segue encolhendo no primeiro trimestre de 2016, e a redução de nosso PIB per capita poderá chegar a 10% em dois anos. Para fazer uma comparação, na chamada década perdida, de 1981 a 1992, a renda encolheu 7,6%. Ou seja, toda a política de distribuição de renda e inclusão social está sendo anulada pela recessão.
O afastamento de Dilma Rousseff e a nomeação de uma nova equipe econômica, comandada por Henrique Meirelles, geraram certo otimismo entre os agentes econômicos, mas as expectativas pessimistas em relação ao PIB começam a contaminar as previsões para 2017 porque o ajuste não sai. Caso se confirmem as previsões, teremos três anos seguidos de recessão. Nunca antes neste país houve isso. Meirelles, com razão, argumenta que a situação precisa ser reconhecida e enfrentada, com a aprovação da meta de crescimento dos gastos públicos federais primários até, no máximo, o índice da inflação do ano anterior para viabilizar um ajuste de longo prazo.
Laboratório
Caso o Congresso aprove o crescimento zero dos gastos públicos durante os próximos 10 anos, haverá uma tendência a pôr as contas da União nos eixos, com o país gastando de acordo com suas receitas. O problema é que as forças políticas, à esquerda e à direita, precisarão abandonar as práticas populistas, fisiológicas e patrimonialistas. Talvez somente uma nova geração de políticos, formada após a Operação Lava-Jato, seja capaz de compreender isso e fazer diferente.
As eleições municipais são um grande laboratório. Primeiro, as prefeituras de todo o país estão passando o pão que o diabo amassou por causa da queda de arrecadação e do fechamento das torneiras dos governos estaduais e federal, quase todos em dificuldades financeiras. Não se pode prometer o que não tem. Segundo, porque a nova legislação em relação ao financiamento de campanha está afastando da disputa todos aqueles que se acostumaram a abusar do poder econômico e comprar a própria eleição em campanhas milionárias, graças ao dinheiro proveniente de doações eleitorais e caixa dois de empresas que superfaturavam obras e serviços públicos.
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