Nas entrelinhas: O fiel escudeiro

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Sai o estilo discreto e sofisticado de articulação do tucano Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que caiu por falta de apoio do próprio partido, e entra a ação direta e ostensiva do trombador Carlos Marun (PMDB-MS)

A silhueta avantajada do novo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS), impressionava nos duros debates travados na Câmara por ocasião da cassação do ex-deputado Eduardo Cunha, que comandou a Casa até ser afastado pela Justiça; depois, nas discussões sobre as denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer. Diariamente, o parlamentar dava a cara a tapa na mídia para defender os dois amigos, assumindo o desgaste com a opinião pública, como uma forma de encorajar os aliados. Agora, o antigo líder da tropa de choque governista na Câmara terá o mesmo desempenho no Palácio do Planalto, como ministro responsável pela articulação política, ou seja, pela distribuição de cargos, verbas de emendas parlamentares e, a novidade, os financiamentos com recursos públicos da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES.

Sai o estilo discreto e sofisticado de articulação do tucano Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que caiu por falta de apoio do próprio partido (os tucanos decidiram desembarcar do governo Temer), e entra a ação direta e ostensiva de Marun, que ontem mesmo, depois de um encontro com o presidente Michel Temer, deu mostras do seu estilo trombador. Em entrevista coletiva, se propôs a enquadrar as bancadas governistas recalcitrantes pressionando os respectivos governadores. Marun disse que os interessados em receber recursos federais e obter financiamentos junto a bancos públicos terão de ajudar o Palácio do Planalto a aprovar a reforma da Previdência.

O recado de Marun veio a propósito de declarações do governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB, que havia revelado a intenção do governo de somente liberar os empréstimos e financiamentos da Caixa Econômica Federal para os governos estaduais após a reforma da Previdência: “O governo espera que aqueles governadores que têm recursos a serem liberados, financiamentos a serem liberados, (…), como de resto de todos os agentes públicos, uma reciprocidade no que tange a questão da Previdência”, afirmou.

O presidente Temer quer aprovar a reforma da Previdência em fevereiro, mas ainda não tem votos suficientes para isso, porque uma parte da base governista acredita que se desgastou demais para barrar as denúncias de Janot e não valeria a pena outro grande sacrifício. E há um jogo de faz de conta nos partidos da base, que fecharam questão a favor da reforma, mas a cisma nas bancadas continua. Na avaliação dos estrategistas do Planalto, os rebeldes estão se fiando nos respectivos governadores. É esse pacto que o Palácio do Planalto pretende romper. Se fracassar, não haverá votação.

Enquanto Marun cobra “reciprocidade” dos governadores, o tempo corre. A votação está marcada para 19 de fevereiro, depois de duas semanas de discussão. O governo precisa dos votos favoráveis de pelo menos 308 dos 513 deputados. São duas votações na Câmara, antes de a reforma ser apreciada pelo Senado. Esse é o calendário definido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, por duas vezes, adiou a votação da reforma por não ter votos suficientes. O governo discorda dessa estratégia de somente votar com maioria assegurada; e avalia que a base somente aprovará a reforma da Previdência se as relações forem estressadas e os parlamentares, obrigados a assumir uma posição a favor ou contra o governo, não dando margem para os líderes empurrarem o assunto com a barriga enquanto dizem que são a favor da reforma.

Alambrado
A propósito, Rodrigo Maia está costeando o alambrado, como diria o falecido Leonel Brizola. Seus aliados já articulam abertamente o lançamento de sua candidatura à Presidência na convenção nacional do DEM, marcada para 6 de fevereiro. Cada vez mais ligado aos parlamentares do chamado Centrão (PP, PR, PSD, PRB e PTB), Maia explora o vácuo criado pela deriva do PSDB para a oposição, sem que o governador Geraldo Alckmin, que assumiu o comando do partido, consiga decolar nas pesquisas eleitorais. Vê nisso uma oportunidade de crescer nas pesquisas como o candidato mais competitivo das forças liberais, para ser uma alternativa para o presidente Temer fazer um sucessor.

Nos bastidores do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, que pretende disputar o governo da Bahia, e o líder da bancada na Câmara, Efraim Filho (PM), são os grandes cabos eleitorais de Maia, além do seu pai, o ex-prefeito carioca César Maia, que deve disputar o governo do Rio de janeiro. Caso a candidatura se consolide, a situação de Geraldo Alckmin se complicará um pouco mais, porque perderia um aliado natural do seu projeto de reunificação do chamado “centro democrático”.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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