A política mineira é polarizada pelo governador Romeu Zema Neto (Novo) e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que está no segundo mandato
Para bom entendedor, “Oh! Minas Gerais”, de José Duduca de Moraes, cantor e compositor mineiro, em parceria com Manoel Araújo, disse tudo. Inspirada na melodia da napolitana “Vieni Sur Mar”, que chegou ao Brasil no final do século 19, a canção embalou o ato de filiação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. A bancada mineira no Congresso compareceu em peso, mas o desafio de unir Minas para projetar sua candidatura à Presidência em nível nacional ainda é um longo caminho a percorrer.
Juntar os mineiros não é fácil, mas é possível, em torno de um projeto nacional. Entretanto, constitui um desafio à altura das figuras de Juscelino Kubitschek e de Tancredo Neves, o presidente eleito em 1985, no colégio eleitoral, para pôr fim ao regime militar e que não chegou a tomar posse. A canção é um bom exemplo de que os caminhos de Minas não são um passeio pelo Eixo Monumental, no qual se situa o Memorial JK, que abrigou o ato de filiação de Pacheco. Nunca se chegou a um acordo quanto ao hino oficial dos mineiros. Em 1985, um concurso desclassificou as 72 composições inscritas. Em 1992, o número de desclassificadas subiu para 570.
“Nós podemos construir as soluções do Brasil num único ambiente. O ambiente da união. Nós precisamos estar uni- dos, significa buscar as convergências e respeitar as diferenças. Quando tivermos esse sentimento de união, deixando para lá polarização, radicalização, ex- tremismo, e entender que a média do brasileiro é de pessoas de bem, dentro desse processo de união invocar algo fundamental: respeito. Está faltando respeito no Brasil, e nós precisamos provocar cada vez mais a respeitabilidade entre poderes, instituições, entre as pessoas”, conclamou Pacheco. A união precisa começar por Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, com 15,7 milhões de eleitores.
A política mineira hoje é polarizada pelo governador Romeu Zema Neto (Novo), eleito no segundo turno com 6,9 milhões de votos (72,80% dos votos válidos), e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que está no segundo mandato e é um potencial candidato ao governo de Minas. O senador Antônio Anastasia, hoje no PSD, adversário de Zema em 2018, é aliado de Pacheco. Para alguns interlocutores, a saída de Pacheco do DEM muda o sistema de alianças no estado e o coloca em oposição ao governador Zema.
Folclore
É cedo para uma conclusão, o fato de não se lançar candidato formalmente indica que há muitas conversas a serem feitas. Ninguém ganha a eleição à Presidência da República sem o apoio da maioria dos mineiros. Aécio Neves (PSDB) que o diga: ganhou em São Paulo, mas perdeu para Dilma Rousseff em Minas, nas eleições de 2014. Minas pode alavancar uma candidatura robusta à Presidência.
Kassab exumou a velha legenda do PSD — Partido Social Democrático, criado por Getúlio Vargas para abrigar seus aliados conservadores. Os mineiros foram grandes expoentes da legenda, que gostava de poder. Reunia políticos refinados intelectualmente, como Gustavo Capanema e Virgílio de Melo Franco, e raposas políticas, como José Maria Alckmin, que foi vice de Castelo Branco, e Benedito Valadares, governador de Minas por 12 anos. Seus “causos” pontificam o folclore político mineiro.
Em 1933, quando morreu Olegário Maciel, governador de Minas, Getúlio Vargas escolheu um interventor para sucedê- lo. Capanema ocupava o cargo interinamente e imaginava que seria efetivado. Seu concorrente era Melo Franco. Boêmio e bon vivant, sem o mesmo brilho intelectual, Benedito Valadares era considerado carta fora do baralho. Getúlio anunciou o nome pela Rádio Nacional. A voz de Getúlio foi cortada por chiados.
–… Mineiro… sshhh… interventor é… sshhh… Valadares.
Ninguém esperava esse desfecho. Muita gente perguntava: “Mas será o Benedito?”
E assim surgiu a expressão usada quando alguma coisa acontece sem ser esperada.
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