A pesquisa divulgada pelo Ipec pode ser devastadora para os planos do presidente Jair Bolsonaro. A aprovação do governo caiu para 23% e a reprovação subiu para 50%”
A principal vantagem estratégica de um candidato à reeleição é a expectativa de poder que galvaniza, o que lhe permite uma largada na campanha eleitoral na chamada pole position. Por isso mesmo, a taxa de reeleição no Executivo é muito grande, mesmo quando as coisas vão mal, como aconteceu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e com a ex- presidente Dilma Rousseff, em 2014. Mas há casos em que estar no governo pode funcionar contra o governante, e não a favor, como já aconteceu em alguns estados — o Rio Grande do Sul nunca reelegeu seus governadores — e, mais frequentemente, nas prefeituras, devido ao mau desempenho.
Isso acontece quando seu índice de rejeição atinge um patamar muito alto e a aprovação despenca. Por essa razão, a pesquisa divulgada ontem pelo Ipec — instituto criado por executivos do antigo Ibope Inteligência — pode ser devastadora para os planos eleitorais do presidente Jair Bolsonaro. A aprovação do governo caiu para 23% e a reprovação subiu pa- ra 50%. O Ipec ouviu 2.002 pessoas, em 141 municípios, de 17 a 21 de junho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Na pesquisa anterior, a aprovação era de 28% e a reprovação, de 39%.
Um sintoma da repercussão da pesquisa nos meios políticos foi, por exemplo, a reação do ex-deputado Saulo Queiroz, fundador e estrategista do PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab: “Com essa rejeição Bolsonaro não se reelege. Se continuar derretendo, não chega nem ao segundo turno”, bradava o veterano político, em voz rouca, ontem, ao comemorar 81 anos, num almoço com um grupo de experientes jornalistas de Brasília. Saulo ajudou a articular a criação do antigo PFL, hoje DEM, a dissidência da Arena, o partido governista do regime militar, que teve um papel fundamental na eleição de Tancredo Neves (MDB) no colégio eleitoral, em 1985. Três anos depois, em 1988, Saulo deixaria o PFL para fundar mais uma sigla, o PSDB. Mas abandonou o ninho tucano em meio a uma briga interna entre o então presidente do partido, Pimenta da Veiga, e dois graduados tucanos, Sérgio Motta e José Serra.
Mesmo assim, foi um dos primeiros políticos, ao lado dos ex-deputados Euclides Scalco e Jaime Santana, ao qual Fernando Henrique Cardoso comunicou, em janeiro de 1994, sua pretensão de disputar a Presidência. Em 24 horas, Saulo articulou a aliança que garantiria, naquele mesmo ano, a vitória de FHC ao Planalto em dobradinha com o PFL, legenda para a qual o deputado havia voltado. Saulo também foi o braço direito de Gilberto Kassab na criação do PSD. Estudioso das eleições e de pesquisas eleitorais, é um dos responsáveis pelo sucesso da legenda, cuja estratégia é se consolidar como um grande partido, de um total seis ou sete legendas que deverão dominar a política brasileira a partir das eleições de 2022, se for mantida a proibição de coligações proporcionais e a cláusula de barreira.
Poucos partidos
“Essa realidade, que aparentemente os donos de partidos ainda fingem desconhecer, virá com muita força”, adverte. Segundo Saulo, com o impedimento da coligação na eleição proporcional, os candidatos a deputado em 2022, tanto estadual quanto federal, dependerão muito de uma base consistente nos municípios. “As chapas com muitos nomes de cada partido dependerão, agora em 2022, e sempre, de candidatos derrotados na eleição para prefeito nos grandes centros e de vereadores eleitos com votação expressiva em todo o estado. Eles é que vão garantir os votos para muito além do coeficiente eleitoral. E serão candidatos mesmo sabendo que a eleição é quase impossível.”
Segundo o veterano político, a partir deste ano, os detentores de mandato vão forçar o caminho para impor fusões, incorporações e mesmo a criação de novo partido. “Aqueles que não fizerem isso na primeira hora, vendo que não têm como se eleger, vão escolher um partido para se filiar na janela de abril de 2022”. Por essa razão, Saulo defende uma candidatura própria do PSD, em qualquer circunstância. Ontem, sob o impacto da pesquisa, reforçou a convicção de que a legenda deve lançar um candidato de centro, capaz de deixar Bolsonaro fora do segundo turno. Seu preferido era apresentador Luciano Huck; agora, sua aposta é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que o PSD tenta atrair. “Mas ele precisa ser mais corajoso”, lamenta.