A Polícia Federal e o Ministério Público já têm provas robustas de que a origem do dinheiro era a propina da Petrobras
O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou ontem o acordo de delação premiada do ex-marqueteiro do PT João Santana, de sua mulher, Mônica Moura, e de André Luis Reis Santana, funcionário do marqueteiro. Agora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode avançar nas investigações sobre as campanhas eleitorais do PT de 2006, 2010 e 2014, nas quais o casal foi peça chave.
Em liberdade provisória, a delação premiada do casal é mantida em sigilo, mas é uma bomba para a cúpula do PT, que, desde o início da Operação Lava-Jato, vem sustentando a tese de que toda a campanha foi financiada por “doações legais”. A Polícia Federal e o Ministério Público, porém, já têm provas robustas de que a origem do dinheiro era a propina da Petrobras e de que parte da campanha foi financiada diretamente pelo caixa dois da Odebrecht. As delações premiadas de Marcelo Odebrecht e executivos da empreiteira, por exemplo, corroboram as informações.
Santana e Mônica já haviam sido condenados pelo juiz Sérgio Moro, mas como o caso agora envolve ministros e parlamentares, está na esfera do Supremo. Marqueteiro nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), João Santana recebeu US$ 3 milhões de offshores ligadas à Odebrecht, entre 2012 e 2013, e US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, entre 2013 e 2014. O dinheiro era oriundo de propina de contratos da Petrobras. Ele e Mônica confirmaram o recebimento de US$ 4,5 milhões do caixa dois da campanha de Dilma em 2010. Mas a questão é: diante de tudo o que já se sabe, em que o casal pode colaborar com as investigações?
A resposta está nas entranhas da campanha, ou seja, na relação entre quem mandava e quem pagava, quanto pagava e como pagava. É aí que a situação do PT, de Lula e de Dilma pode se complicar ainda mais, como aconteceu, por exemplo, com o PP, que recentemente foi denunciado pela força-tarefa da Lava-Jato, que requereu inclusive a cassação do registro do partido. Ao contrário do PMDB e do PSDB, também citados nas delações premiadas, o PT tinha um centro financeiro que operava o esquema, a tesouraria do partido. Essa centralização já havia sido detectada no escândalo do mensalão, o que resultou na condenação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. E se tornou muito mais sofisticada a partir da campanha de 2010, o que resultou na prisão de João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro flagrado pela Lava-Jato como um dos operadores do esquema de desvio de recursos da Petrobras.
Até agora, o PT vinha se blindando das acusações porque seus principais operadores do esquema de caixa dois não aceitaram as propostas de delação premiada da força-tarefa da Lava-Jato, como o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o próprio ex-tesoureiro Vaccari. As denúncias chegavam apenas aos ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, particularmente no caso da delação premiada de Marcelo Odebrecht. Todos, sem exceção, seguiram o padrão de Delúbio e José Dirceu, que rejeitaram a delação premiada. Agiram como aqueles gladiadores romanos quando eram lançados aos leões: Ave, Caezar, morituri te salutant (Ave, César, aqueles que estão prestes a morrer o saúdam).
Blindagem
A sentença latina é citada na vida dos Césares e teria sido usada em 52 d.C., no Lago Furino, na presença de Cláudio. O imperador romano teria respondido: “Ou não!”. Os Césares tinham poder de poupar da morte ou não os gladiadores derrotados na arena, quando eles não eram estraçalhados pelos leões, é claro. Os quadros principais do PT envolvidos no escândalo, mesmo presos e condenados, estão se comportando de maneira a proteger o partido e seus principais líderes, inclusive o ex-presidente Lula. Essa blindagem não havia sido rompida por ninguém no coração das campanhas eleitorais. As delações do marqueteiro da campanha e sua mulher, porém, representam um rompimento dessa carcaça. O que não se sabe ainda é até onde isso pode chegar. Ou seja, se Lula e Dilma foram delatados.
Diante das fragilidades do governo de Michel Temer e das dificuldades que enfrenta para concretizar sua agenda de reformas, especialmente a da Previdência e trabalhista, o PT parece nadar de braçada. Opera em duas direções: numa delas, tece acordos de interesse mútuo com adversários para aprovar uma reforma política que facilite a sobrevivência da legenda e de seus quadros principais; na outra, lança a candidatura de Lula à Presidência, antecipando a campanha eleitoral de 2018, para protegê-lo das investigações da Operação Lava-Jato, preservar seu “legado” populista e vitimizá-lo perante o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, que tem a atribuição de julgá-lo em primeira instância.
A estratégia do PT está sendo bem-sucedida. Lula parece pinto no lixo, como diria o falecido Jamelão, quando vai aos eventos partidários. Os militantes petistas voltaram às ruas com suas bandeiras vermelhas, como se o partido passasse uma borracha em tudo o que aconteceu. A expectativa de poder petista é proporcional à competitividade eleitoral de Lula, essa é a verdade. Como elas hoje são razoáveis, ainda mais porque os tucanos também estão sendo citados nas delações premiadas, a cúpula do partido sufoca as críticas internas, ignora as externas e atua como nos velhos tempos de oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso. Vê-se a alegria nos olhos dos petistas diante das agruras do atual governo de transição. Varreram para debaixo do tapete o que fizeram de errado no governo e nas campanhas presidenciais. Com as delações premiadas do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, porém, tudo pode naufragar.
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