“A taxa de rejeição de Fernando Haddad disparou de 32% para 41%. Bolsonaro, ao contrário, oscilou de 46% para 45%. Esse resultado colocou em xeque a estratégia do PT”
As últimas pesquisas confirmaram o favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno das eleições, com uma alta de 28% para 32% nas intenções de voto. Seu principal concorrente, Fernando Haddad (PT), oscilou de 22% para 21%, ou seja, para baixo, o que confirma as avaliações de que os efeitos da transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva já se esgotaram. O surgimento de uma terceira via é quase impossível, apesar da resiliência de Ciro Gomes (PDT), que se manteve em 11%, e de Geraldo Alckmin, que oscilou de 10% para 9%. Marina (Rede) continua em queda gradativa: passou de 5% para 4%. Entretanto, essa correlação de forças ainda garante a realização de um segundo turno.
A primeira grande surpresa da pesquisa foi o crescimento de Bolsonaro em todos os segmentos nos quais estava em aparente dificuldade, a começar pelas mulheres. Apesar das manifestações de sábado passado em 14 estados, intituladas #EleNão, nesse segmento, cresceu de 21% para 27%, ultrapassando Haddad, que tem 20%. Confirmaram-se as análises de que a pauta identitária de gênero é minoritária, a exemplo do que aconteceu nas eleições norte-americanas, nas quais a candidata democrata Hillary Clinton foi derrotada pelo republicano Donald Trump, com seu discurso machista e homofóbico.
Os números de Bolsonaro impressionam, se levarmos em conta que o capitão reformado do Exército está fora das ruas, não tem tempo de televisão e administra declarações desencontradas de seu vice, general Hamilton Mourão, e do assessor econômico Paulo Guedes. A pesquisa mostrou que Bolsonaro continua em alta entre os eleitores com mais estudos e renda familiar de cinco a 10 salários mínimos. No Brasil meridional, está disparando: cresceu de 31% para 36% no Sudeste e de 35% para 44%, no Sul. O Nordeste continua sendo o principal reduto de Haddad, com 36% das intenções de voto.
Outra grande surpresa da pesquisa, porém, foi a taxa de rejeição de Fernando Haddad, que disparou de 32% para 41%. Bolsonaro, ao contrário, oscilou de 46% para 45%. Esse resultado colocou em xeque a estratégia do PT na reta final do primeiro turno, frustrando expectativas. Na aba do chapéu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad teve a identidade abduzida pelo seu criador e herdou toda a rejeição ao PT. O discurso petista, do ponto de vista programático, também afastou possíveis aliados no segundo turno, abrindo espaço para que Bolsonaro busque alianças ao centro do espectro político. Ontem, recebeu o apoio explícito da Frente Parlamentar Agropecuária, o que sinaliza essa deriva de aliados do ex-governador Geraldo Alckmin já no primeiro turno.
Nas simulações de segundo turno, inverteram-se as posições: Bolsonaro cresceu de 39% para 44%, e Haddad oscilou de 45% para 42%. O capitão reformado do Exército, porém, ainda perde para Ciro (46% a 42%) e Alckmin (43% a 41%). Segundo o Datafolha, 84% dos que lhe declaram apoio não pensam em mudar de voto; em relação ao petista, são 82%. Entre os que apoiam Ciro, 57% se dizem convictos; entre de Alckmin, 52%. Os apoiadores de Marina que admitem a possibilidade de mudar até o dia da eleição são 62%. O percentual de eleitores que pretendem votar em branco ou anular o voto caiu para 8%, dos quais 30% admitem votar em alguém até domingo, e 5% estão indecisos.
Gravidade
Esses números delimitam a volatilidade do processo eleitoral no decorrer desta semana, que será de fortes emoções, com a divulgação diária de pesquisas, recrudescimento dos ataques nos programas eleitorais e nas redes sociais. Até agora, Haddad mirou os eleitores de Lula e hostilizou os possíveis aliados de segundo turno, com um discurso de ajuste de contas por causa do impeachment de Dilma Rousseff. Sustentou a narrativa do “golpe” e concentrou os ataques no PSDB, como se os tucanos “golpistas” fossem cair no seu colo por gravidade. O que está acontecendo é o contrário: o eleitorado que apoiou o impeachment já começa a se deslocar para Bolsonaro. Sua rejeição já é bem maior do que as intenções de voto e somente terá possibilidade de conquistar os eleitores ao centro, se assumir compromissos com as forças que representam esses eleitores.
Outro fator também está em cena: a polarização nas eleições de governadores, que começa a ficar imbricada com as eleições presidenciais. Enquanto Haddad tem compromissos assumidos com candidatos petistas e aliados em praticamente todos os estados, Bolsonaro está mais à vontade para fazer alianças piratas. O PSDB lidera em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia e Roraima, mas seus candidatos derivam para Bolsonaro. O PT, na Bahia, no Ceará, no Piauí e no Rio Grande do Norte, todos comprometidos com Haddad. Em contrapartida, o DEM lidera em Goiás, em Mato Grosso e no Rio de Janeiro, todos já vinculando sua candidatura ao candidato do PSL. O PSB está à frente em Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco, onde deve apoiar Haddad. O MDB está com Haddad em Alagoas e no Pará; o PDT, firme com Ciro Gomes em Alagoas. O PCdoB apoia o petista no Maranhão; PHS (Tocantins), PP (Acre) e PSD (Paraná) vão de Bolsonaro.