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Nas entrelinhas: Madonna reclama do calor, enquanto gaúchos estão debaixo d’água

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A catástrofe aproximou o presidente da República ao governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, seu provável adversário nas eleições de 2026, que agradeceu o apoio de Lula

Enquanto a cantora Madonna reclama do forte calor do veranico carioca e seus bailarinos curtem Copacabana e outras praias do Rio de Janeiro, num outono que ontem registrava mais de 37º, no Rio Grande Sul há uma tragédia em decorrência das fortes chuvas, com  32 pessoas mortas e mais de 60 desaparecidas, principalmente na Serra Gaúcha e Vale do Taquari. Foram atingidos 147 municípios, 67 mil pessoas estão desabrigadas e, agora, com o transbordamento do Rio Guaíba, Porto Alegre está sendo inundada.

De pronto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para o Rio Grande Sul, onde prometeu todo apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB) para socorrer os flagelados, que estão sendo removidos das áreas de risco em caminhões, tratadores, barcos e helicópteros. O socorro às vítimas foi muito prejudicado pelo mau tempo.

A Marinha está enviando aeronaves, viaturas e embarcações para atuar em apoio às vítimas. O Exército também reforçou o número de helicópteros com destino ao Sul, que aguardam por condições meteorológicas para pousar em Santa Maria. Mais uma vez, tanto o governo gaúcho como o governo federal não estavam preparados para uma tragédia dessa envergadura.

Em Santa Maria, uma das regiões mais afetadas pelas chuvas no estado, Lula disse que a prioridade é salvar a vida das pessoas atingidas: “A gente vai tomar conta disso com muito carinho, com muito respeito, para que as coisas possam acontecer. A gente não vai permitir, como não permitirmos no Vale do Taquari, que faltem recursos para que a gente possa reparar os estragos causados”, disse, ao lado do governador.

O secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiros, permanecerá no estado para representar o governo federal no centro de comando integrado com os demais níveis de governo. “Da parte do governo federal, não faltará nenhum esforço para que a gente possa trabalhar arduamente, como já estão trabalhando as forças armadas”, garantiu Lula.

A catástrofe aproximou Lula a Eduardo Leite, seu provável adversário nas eleições de 2026, que agradeceu o apoio: “Tenho certeza de que não faltarão recursos do governo federal para poder nos atender, mas, neste momento, a nossa prioridade é o resgate. Temos pacientes que precisam de hemodiálise e estão isolados em alguns municípios. Temos populações que estão isoladas e precisam de alimentação”, disse.

Eventos extremos

Às vésperas da COP25, a conferência do clima que ocorrerá no próximo ano, em Belém, com forte apelo internacional em razão de se realizar em plena Amazônia, o país não tem um plano de contingência da envergadura necessária para lidar com os chamados “desastres naturais”, cada vez mais frequentes por causa das mudanças climáticas. O aquecimento global é uma realidade e uma das maneiras mais eficazes de contê-lo a curto prazo é acabar com as queimadas.

Eventos climáticos e meteorológicos extremos provocam o colapso da infraestrutura local, com perdas materiais e econômicas, danos ao ambiente e à saúde das populações, seja pelo desastre em si, seja por suas consequências. O fato é que as comunidades afetadas, como os municípios gaúchos, nunca têm os meios próprios para lidar com a situação, o que exige uma pronta resposta dos governantes em nível local, regional e nacional, como ocorre agora no Rio Grande do Sul.

Esses desastres, muitas vezes, combinam fatores hidrológicos — como inundações bruscas e graduais, alagamentos, enchentes, deslizamentos; geológicos ou geofísicos — como terremotos e vulcões; meteorológicos — raios, ciclones, tornados e vendavais; e climatológicos — estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e ondas de frio e de calor. Com exceção de terremotos, vulcões furacões, todos os demais fenômenos ocorrem no Brasil com mais frequência e intensidade do que aconteciam antes.

Só os negacionistas do aquecimento global não acreditam nessas mudanças, por mais que estejam evidentes no mundo. Todos os indicadores mostram que as alterações ambientais e climáticas se intensificaram nas últimas décadas e estão produzindo impactos que vão dos grandes desastres a imperceptíveis consequências no dia a dia das pessoas, principalmente no âmbito da saúde — até que surja um vírus novo, que provoque uma pandemia, como no caso da covid-19. A epidemia de dengue, neste ano,  ultrapassou todos os paradigmas, seja o de duração ou de número de casos. Já morreram 2 mil pessoas.

Em todas as situações, salta aos olhos a falta de um plano de contingência, com os recursos materiais e humanos necessários para uma pronta resposta. Tudo é improvisado em meio ao caos. Todos os anos ocorrem grandes enchentes no país, nem sempre previsíveis quanto ao local e dia da tragédia, mas que podem ser estatisticamente estimados. O país precisa de um sistema de Defesa Civil mais robusto, organizado e equipado tecnologicamente, com maior integração entre os diversos órgãos que precisariam ser mobilizados, rapidamente, para socorrer as populações atingidas.

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