Tanto Lula quanto Bolsonaro têm interesse na fragmentação do eleitorado mais moderado e na dispersão de forças de centro-esquerda e centro-direita
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao Sistema Tribuna de Comunicação, ontem, em Natal, esnobou os sete partidos que se reuniram na quarta-feira para discutir uma candidatura de centro: “As pessoas esquecem que, quando disputei a eleição em 1989, disputei contra algumas das personalidades das mais extraordinárias do Brasil, com o doutor Ulysses, doutor Aureliano Chaves, doutor Brizola, tinha Mário Covas, Paulo Maluf, Afif. Era uma penca de candidatos de personalidades muito respeitadas, e fui para o segundo turno. Essas pessoas precisam compreender que eles não têm esse destaque que merecem porque eles não têm partido político”, disse.
Lula divide com o presidente Jair Bolsonaro as expectativas de poder e favoritismo nas eleições de 2022. O primeiro, porque vem se mantendo como candidato favorito, mesmo recém-saído da prisão e na oposição, enquanto o segundo, porque está no poder e tem direito à reeleição. Tanto Lula quanto Bolsonaro têm interesse na fragmentação do eleitorado mais moderado e na dispersão de forças de centro-esquerda e centro-direita, porque isso praticamente lhes garante um lugar no segundo turno da eleição. “As pessoas ficam preocupadas com a minha candidatura, com a candidatura à reeleição do presidente. Ora, eles podem lançar candidatos. Não têm que procurar um só, tem que procurar 10. Cada partido deve lançar um candidato, e o povo vai votar e escolher quem pode ser eleito”, avalia Lula.
Bolsonaro e Lula adotam táticas diferentes para garantir um lugar no segundo turno das eleições. O presidente da República faz dois movimentos simultâneos: de um lado, trabalha para fidelizar os setores que o apoiam por razões corporativas ou ideológicas — militares, policiais, caminhoneiros, garimpeiros, ruralistas, evangélicos —, concedendo-lhes toda sorte de privilégios possíveis; de outro, usa o peso da máquina do Estado para cooptar os partidos do Centrão, mantendo o controle do Congresso. O petista tenta polarizar os demais partidos de esquerda, mas opera, principalmente, no terreno das alianças regionais, se aproveitando das dificuldades de relacionamento de Bolsonaro com governadores e prefeitos. Pretende, assim, derrotar os concorrentes contra Bolsonaro nos grandes centros urbanos e estados com os maiores colégios eleitorais.
A existência de um partido enraizado e resiliente como o PT realmente faz diferença na disputa eleitoral. Isso ficou provado depois do mensalão, na reeleição de Lula, em 2006, e na reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, após o escândalo da Petrobras e as manifestações de junho de 2013. Sem dúvida alguma, a força do PT nos movimentos sociais, mesmo que venha se reduzindo devido à desindustrialização e ao enfraquecimento e à divisão do movimento sindical, é um diferencial em relação aos demais partidos de oposição, inclusive de esquerda.
Vaso de barro
Entretanto, convém não superestimar a força do petismo. Bolsonaro se elegeu por um pequeno partido, o PSL, no qual se filiou de última hora. Na aba do seu chapéu, Bolsonaro viabilizou a eleição dos 53 deputados da legenda, que se tornou dona de um das duas maiores bancadas da Câmara. A outra é o PT, com 53 deputados também. Agora, Bolsonaro pretende se filiar ao Patriota, cuja bancada tem seis deputados, e repetir o desempenho. Sua campanha eleitoral se baseia na organização de apoiadores nas redes sociais, propagando suas ideias e fake news.
Os partidos que se articulam para ter uma candidatura única — DEM, Podemos, PSDB, PV, Solidariedade, Cidadania e MDB — discutem essa alternativa, mas não descartam a ampliação do grupo, com a incorporação do PSD, do PDT, da Rede e do PSB, se o desejarem. Não é uma tarefa fácil, porém, como ninguém tem um nome forte o suficiente para ameaçar Lula e Bolsonaro, segundo as mais recentes pesquisas, todos buscam o entendimento, inclusive o PSDB, que tem quatro candidatos disputando as prévias da legenda: o governador de São Paulo, João Doria; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Netto; e o senador Tasso Jereissati (CE).
De certa forma, a falta de um candidato competitivo desnuda a fraqueza eleitoral dos políticos de centro; ao mesmo tempo, faz com que os partidos desse campo procurem ficar juntos, como no preceito bíblico de que vaso de barro perto de vaso de ferro, quebra. Ou seja, esses partidos precisam se agrupar para construir uma alternativa de poder. O ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM), que almeja ser esse candidato, vem sendo o grande artífice dessas negociações. É muito provável que o ex-ministro Ciro Gomes, candidato do PDT, se junte ao grupo.
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