Nas entrelinhas: A Geração Z

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Nossos jovens estão passando por inédito processo de politização, em decorrência das crises política, ética e econômica

Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu tô por fora
Ou então que eu tô inventando…
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem…

(Belchior, Como nossos pais)

Desde as manifestações de 2013 — que começaram com protestos contra a realização da Copa do Mundo de 2014, cresceram com as passeatas contra os aumentos de passagens e resultaram, naquele ano, em gigantescas manifestações contra tudo e contra todos —, há uma grande inquietação entre os jovens brasileiros. No ano passado, eles voltaram às ruas com os marmanjos e nelas permaneceram, a maioria a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas muitos contra. Constantes ocupações de escolas de segundo grau, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sinalizam que essa inquietação permanece.

Jovens não têm rabo preso, têm pouca noção de perigo e acreditam que podem tudo. São naturalmente propensos à rebeldia. Cada geração é diferente e busca a própria identidade. A ciência política dá pouca atenção ao assunto, e os partidos políticos geralmente atuam no sentido de reproduzir suas próprias culturas, o que se traduz na prática e no discurso de seus jovens integrantes, seja aquele deputado cuja missão é reproduzir o poder de sua velha oligarquia, seja o líder estudantil que repete velhos mantras radicais.

Psicólogos, administradores de empresas e publicitários são os que mais se dedicam ao estudo das gerações, uns com o intuito de ajudar seus pacientes, outros porque querem aumentar a produtividade e vender melhor os seus produtos. Falam em gerações X, Y e Z. É uma forma de simplificar a questão. Grosso modo, os norte-americanos fazem isso há muito tempo. Chamavam os nascidos entre 1901 e 1925 de Geração da Infantaria, porque sobreviveram à grande depressão e lutaram na 2ª Guerra Mundial, e batizaram de Geração Silenciosa (1926 até 1945) os que não lutaram na guerra e se beneficiaram do estado de bem-estar social.

No Brasil, onde a influência do americanismo é muito maior do que muitos imaginam, essa divisão foi mitigada pelo nosso processo político. A chamada Geração X (1965 até 1981) sofreu com a falta de liberdade e a hiperinflação, mas viveu intensamente a revolução dos costumes. A Geração Y viveu a democratização do país, a abertura da economia, a estabilização da moeda e a formação de uma sociedade informatizada. Fala-se agora em Geração Z, os nascidos depois da década de 1980, que navegam entre a vida real e a virtual. São jovens que nunca imaginaram a própria existência sem computador, chats, celular. Vivem num mundo sem fronteiras geográficas, desde a infância. Têm overdose de informação, se comunicam de forma instantânea e fragmentada. Ocupam seus tempos livres em atividades organizadas pelas redes sociais.

Convivem com padastros e madrastas, não têm um papel definido na família, a maioria está fora do mercado de trabalho. Consomem muito álcool, fumam maconha e têm acesso fácil a outras drogas. A relação pai e filho é completamente diferente, segundo pesquisas, porque a falta de limites foi estabelecida pelos próprios pais. Nossos jovens, porém, estão passando por inédito processo de politização, em decorrência das crises política, ética e econômica. E têm uma visão maniqueísta da História, seja à esquerda ou à direita, devido ao ensino de péssima qualidade.

A Geração Z herdou um grande fracasso nacional e deseja ter seu próprio protagonismo na História. Mas não está sendo ouvida, uma vez que a democracia brasileira foi bloqueada pelo atual sistema partidário. O impeachment da presidente Dilma Rousseff foi apenas uma trégua. O presidente interino Michel Temer está sob observação desses jovens, que vão arcar com as consequências do ajuste fiscal e não se veem representados pelos políticos que compõem o novo governo. É muito provável que eles voltem às ruas se a situação do país não melhorar.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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