Disputa se tornou mais dramática no 2º turno, principalmente no Sudeste, onde Bolsonaro foi vitorioso em 3 estados
Resumo da ópera: na pesquisa Ipespe divulgada ontem, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) está em cinco pontos na sondagem espontânea (47% a 42%) e sete pontos na induzida (50% a 43%). Excluídas as respostas “Branco/ Nulo” e “Não Sabe/Não Respondeu”, a vantagem do petista se amplia para oito pontos (54% a 46%). Lula obteve amplo apoio dos eleitores de Simone Tebet (55% a 16%) e, entre os de Ciro Gomes (44% a 36%), menos.
Onde mora o perigo? Na rejeição dos candidatos: 49%, Bolsonaro; 45%, Lula. Dos que pretendem votar no petista, 91% rejeitam Bolsonaro e 6% afirmam que “poderiam votar” no atual presidente. Entre os eleitores de Bolsonaro, 94% rejeitam Lula e apenas 4% dizem que “poderiam votar” no ex-presidente. A rejeição de Bolsonaro cai, a de Lula sobe.
Segundo o sociólogo Antônio Lavareda, responsável pela pesquisa, a vantagem do petista nos chamados votos válidos é irrelevante em termos de projeção do resultado, porque os 54% a 46% não levam em conta as escolhas de última hora e as abstenções, que sempre influenciam o resultado final. Nesse aspecto, é mais seguro considerar os votos totais, que resultam num placar estreito de 51% a 47% dos votos, sendo 2% nulos e brancos, e 1% de não sabe e não respondeu.
Em eleições anteriores, a vantagem petista no primeiro turno foi muito maior: 2002 (Lula 17%), 2006 (Lula 16%) e mesmo 2010 (Dilma 11%). Será uma disputa acirrada, como foi da eleição de Collor, em 1989, quando tinha apenas 5% de vantagem, e de Dilma, em 2014, quando era apenas de 2%.
Esses números merecem reflexões sobre a estratégia de Lula, que era franco favorito no primeiro turno. A campanha do “voto útil”, cujo objetivo era garantir a vitória do petista em 2 de outubro, esvaziou as candidaturas de terceira via, sobretudo a de Ciro. Mas bateu no teto da rejeição de Lula e provocou um efeito contrário: o voto útil de indecisos às vésperas da votação, que acabou reduzindo a distância para Bolsonaro.
Com isso, a disputa se tornou mais dramática no segundo turno, principalmente no Sudeste, onde o presidente foi vitorioso em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, enquanto Lula apenas em Minas.
Sudeste
Em São Paulo, Bolsonaro obteve uma vantagem estratégica com o favoritismo da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o apoio do governador Rodrigo Garcia (PSDB), derrotado no primeiro turno. A candidatura de Lula tem duas ancoragens que dificultam seu trânsito no eleitorado de centro e no interior paulista: o ex-prefeito Fernando Haddad, o candidato a governador do PT, e o deputado eleito Guilherme Boulos (PSol), o mais votado no estado, com 1 milhão de votos.
O petista tenta ampliar sua campanha por meio da adesão de Simonet Tebet, que obteve 1,6 milhão de votos no estado, mas não tem como se descolar dos aliados de primeira hora. Bolsonaro teve 1,7 milhão de votos a mais do que Lula em São Paulo.
O presidente tenta reduzir a vantagem de Lula em Minas Gerais, onde o petista venceu por 49,4% a 42,9%. A vitória de Romeu Zema (Novo) no primeiro turno complicou a vida do petista, porque o governador mineiro resolveu entrar na campanha de Bolsonaro.
Um recorte da eleição em Minas mostra que o favoritismo de Lula no Vale do Jequitinhonha é tão arrasador e irreversível quando o dos estados do Nordeste, mas Bolsonaro tenta avançar nas demais regiões, vinculando Lula ao ex-governador Fernando Pimentel, que deixou o poder muito desgastado.
O Rio de Janeiro é outro estado no qual Lula tem dificuldades imensas, apesar do apoio do prefeito carioca Eduardo Paes, cujo governo segue a tradição de deixar suas entregas para os dois últimos anos de gestão. Bolsonaro venceu as eleições no estado por 47,7% a 40,9%, favorecido pelo desempenho do governador Cláudio Castro (PL), que se reelegeu no primeiro turno, com 58,19% dos votos válidos. O candidato apoiado por Lula, Marcelo Freixo (PSB), ficou em segundo lugar, com 27,70% dos votos válidos.
Mudando do Sul Maravilha para o Nordeste, o afastamento do governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), candidato à reeleição, pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Laurita Vaz, pode mudar tudo na eleição local. Lula venceu Bolsonaro em 94 dos 102 municípios alagoanos. Em votos válidos, 56,5% a 36,5%.
Dantas, agora afastado, apoiado por Renan Calheiros e por Lula, venceu Rodrigo Cunha (União Brasil) em 83 cidades, por 46,64% a 26,79%. Pesquisa Real Time Big Data divulgada ontem mostra que Dantas venceria a disputa por 59% a 41%. Cunha é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e apoia Bolsonaro. O caso é esquisito e já virou um barraco institucional.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…