Ambos estão sendo pressionados a desistirem das respectivas candidaturas à Presidência pela maioria dos deputados e senadores de seus partidos, o PSDB e o MDB, porém, resistem
É cada vez mais difícil uma chapa que reúna o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Nenhum dos dois aceita ser vice nem se apresenta como candidato competitivo o suficiente para atrair outros aliados. Ambos estão sendo pressionados pela maioria dos deputados e senadores de seus respectivos partidos a desistirem da disputa e resistem, com a diferença de que o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), pretende manter a candidatura de Tebet, enquanto seu colega do PSDB, Bruno Araujo (PE), já foi até destituído da coordenação de campanha pelo candidato tucano.
Hoje, haveria uma reunião da Executiva do PSDB para dar um xeque-mate em Doria. Fora tudo combinado num encontro de cúpula na semana passada, promovido pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), do qual também participou Araújo. Foi tiro pela culatra. Doria agendou um jantar na noite de ontem com a bancada federal e esvaziou a reunião, que foi adiada. Advertido pelos aliados de que a maioria da bancada prefere não ter candidato, para utilizar os recursos do fundo eleitoral na própria campanha, o ex-governador pagou para ver. Tanto a ala que apoia Doria quanto a que desejava o ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que declarou apoio ao colega paulista, mesmo juntas, são minoritárias.
É um jogo de faz de conta, no qual os deputados tucanos de São Paulo pontificam. Gostariam de se livrar de Doria, a pretexto de que isso possibilitaria mais espaço para a reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que o sucedeu. Mas nenhum parlamentar paulista tem coragem de assumir essa posição — por que os outros o fariam? As inserções do PSDB na tevê e as viagens de Doria pelo país esvaziaram a conspiração. Todas esperam as próximas pesquisas para saber se o tucano conseguirá sair da margem de erro nas e ultrapassar os cinco dígitos. Doria aproveita para jogar com o tempo a seu favor. Se a terceira via se inviabilizar de vez, cogita montar uma chapa da federação PSDB-Cidadania tendo a senadora Eliziane Gama (MA) como vice.
No MDB, a situação não é muito diferente. Uma ala do partido está engajada na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo no Nordeste. O pessoal do Sul do país é Bolsonaro de carteirinha. O presidente da legenda, Baleia Rossi, porém, tem o controle da maioria dos diretórios regionais. As pesquisas qualitativas valorizam o perfil de Simone Tebet, cuja rejeição é baixíssima, e fortalecem sua posição. Além disso, sem uma candidatura própria, a maioria da legenda migraria sem constrangimentos para a candidatura do presidente da República. Manter a candidatura da senadora passou a ser uma questão de sobrevivência.
Lula e Bolsonaro
O ex-presidente comete um “sincericídio” atrás do outro, que os aliados começam a apontar como uma das causas do crescimento de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais. O último foi seu posicionamento sobre a guerra da Ucrânia, na entrevista que concedeu à revista Time. Lula deu uma grande demonstração de prestígio internacional, mas as declarações sobre o presidente da Ucrânia foram considerados dribles a mais: “Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin”, disse.
O petista também criticou Putin por ter invadido a Ucrânia, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pela expansão da Otan. Mas o comentário sobre o líder ucraniano, que hoje é a grande estrela política da Europa, provocou uma enxurrada de críticas, que ofuscaram a entrevista na opinião pública brasileira. Externamente, a repercussão foi enorme. A Time reposicionou o petista como grande protagonista na política internacional.
Bolsonaro está vivendo um bom momento em termos eleitorais. As medidas que o governo vem adotando para transferir renda para população mais pobre e oferecer microcrédito aos empreendedores começam a influenciar as pesquisas eleitorais a seu favor. Ao mesmo tempo, o confronto dele com o Supremo Tribunal Federal (STF), no caso do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), emulou o bolsonarismo raiz, que defende intervenção militar e fechamento da Corte. Essas medidas, porém, estão sendo mitigadas pela inflação e a alta dos juros, que ontem foi a 12,75% (Selic). O mercado projeta um novo aumento de juros para conter a inflação, que foi de 1,73% (IPCA-15) somente em abril.
A resultante desse processo, até as eleições, é uma incógnita. A situação da economia pode decidir o pleito. No momento, criar mais dificuldades para uma candidatura de terceira via. Ciro estanca o crescimento de Lula, mas não extrapola setores de centro-esquerda. Há sinais de deriva do centro político em direção a Bolsonaro, o que explica o posicionamento do PSD, que não lança candidato nem apoia ninguém, e do União Brasil, que lançou o deputado Luciano Bivar (PE) no lugar Sergio Moro.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…