Como em toda crise, há muita fricção no processo político. As eleições na Câmara e no Senado, no momento, são as mais importantes
Um dos fatores de instabilidade política do país, todos sabem, é a Operação Lava-Jato, que voltará a todo vapor quando o recesso do Judiciário acabar. Procuradores da República, desde segunda-feira, já estão trabalhando normalmente. O assunto só saiu de pauta por causa da crise do sistema penitenciário no Norte do país, território no qual as facções de traficantes disputam o controle das rotas de tráfico de drogas pelo Rio Solimões, principalmente o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a Família do Norte (FDV), aliada ao Comando Vermelho (CV). A Lava-Jato, porém, promete ainda fortes emoções na política brasileira. Há apenas uma calmaria.
A outra variável desestabilizadora era a situação da economia, devido à recessão, mas agora está sob controle do governo, que comemora a redução espetacular da inflação de 10,67% para 6,29% ao ano. Terá grande impacto na economia se realmente convergir para o centro da meta, ou seja, 4,5%, em 2017. E vier acompanhada da redução sustentável da taxa de juros, num ritmo que não faça os preços subirem novamente, como aconteceu no governo Dilma Rousseff. A redução de 0,75% ponto percentual na taxa de juros não foi feita a fórceps, para forçar o crescimento. Pelo contrário, foi consequência da queda da inflação. Mesmo assim, ainda está alta, precisa cair mais.
Mas é bom fritar o peixe com um olho na frigideira e o outro no gato, por causa da posse de Donald Trump, o novo presidente dos Estados Unidos, que não está nem aí para as consequências que suas decisões possam ter para o resto do mundo. Sua xenofobia não refresca os vizinhos mexicanos, quem dirá os brasileiros abaixo do Equador. É preciso aguardar o que vai acontecer nos EUA. Não é à toa que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a vitória de Trump. Sempre teve boas relações com os republicanos, apesar da retórica terceiro-mundista. E nunca engoliu a eleição de Barack Obama, por causa da relação do Partido Democrata com os tucanos, principalmente a de Bill Clinton com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e porque eclipsou sua projeção internacional antes mesmo do escândalo da Petrobras.
Há duas variáveis da economia, porém, que o governo Temer tem obrigação de controlar: os preços administrados (tarifas reajustadas pelo governo) e a implementação das medidas de ajuste fiscal. O governo precisa equilibrar as contas públicas, executar seu programa de parcerias público-privadas, realizar novos leilões de poços de petróleo e enfrentar o problema das concessões de serviços públicos. Caso consiga viabilizar essa agenda, o país poderá sair da recessão ainda este ano, desanuviando o ambiente econômico. O conjunto de medidas aprovadas pelo Congresso para melhorar as condições de investimento criou um ambiente favorável para a retomada do crescimento.
Não errar
Como em toda crise, há muita fricção no processo político. As eleições na Câmara e no Senado, no momento, são as mais importantes. O fundamental para qualquer presidente da República na relação com o Congresso é ter o controle da pauta legislativa. Até agora, esse vem sendo um ponto forte do governo, ao lado da equipe econômica. O pior dos mundos é levar bolas nas costas no Congresso, como acontecia toda hora com Dilma Rousseff.
No Senado, aparentemente, a eleição do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE) é pule de 10, porque na Casa prevalece o critério da proporcionalidade, mesmo que surja uma candidatura de oposição. A única possibilidade de mudança do cenário seria decorrência de uma crise na bancada do PMDB, o que não aconteceu. A variável ainda obscura é o destino de Renan Calheiros (PMDB-AL). Nos bastidores, comenta-se que pleiteia um cargo na Esplanada dos Ministérios. O mais provável é que volte à liderança do PMDB ou assuma a presidência da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Na Câmara, porém, a disputa está instalada, com quatro candidatos: Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pleiteia a reeleição, Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO) e André Figueiredo (PDT-CE). A grande incógnita é jurídica: Maia pode ou não ser candidato à reeleição? Há uma nítida divisão na base de Michel Temer, que não pode tomar partido na disputa sem correr o risco de apoiar o candidato errado.
Há mais uma variável a se considerar. A agenda do Supremo Tribunal Federal (STF), na qual o estoque de políticos enrolados somente aumenta. A presidente do STF, Cármen Lúcia, vem dando sinais de que não pretende conduzir a Corte de forma iluminista. Está buscando permanecer em sintonia com a sociedade, como demonstra agora em relação às penitenciárias, o que é um sinal positivo. Mas o excesso de ativismo pode também alimentar especulações de que teria ambições de poder. O STF tem um grande papel a desempenhar no processo de saída da crise, que deve culminar em 2018.
Lula não consegue sustentar medidas econômicas impopulares, porém necessárias, ainda que em médio e longo…
Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está sendo maturada no Palácio do…
Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se…
Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista…