Domar o Congresso é considerado uma espécie de varinha de condão para superar a crise pelo Palácio do Planalto. Há um compromisso dos partidos da base aliada no sentido de aprovar as reformas
A crise político-institucional está só começando. Sua duração e gravidade são imprevisíveis. De pronto, não há a menor possibilidade de estabilizar a situação política antes do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), programado para os dias 6, 7 e 8 de junho. Até lá a “pinguela” da transição, como diria o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, vai balançar, e muito.
Os sintomas de que a crise se agrava foram vistos ontem nas sessões da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que apreciava uma emenda constitucional que propõe a convocação de eleições diretas, e da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na qual foi apresentado o parecer sobre a reforma trabalhista, do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES). As duas sessões mostraram que, até o dia do julgamento, o governo terá que enfrentar uma corrida de obstáculos no Congresso e muitos ataques especulativos.
Na Comissão de Constituição e Justiça, o governo obstruiu a sessão para evitar a votação de uma emenda constitucional de autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que prevê a realização de eleições diretas no caso de vacância do cargo de presidente até seis meses antes da eleição. O governo conseguiu pôr fim à sessão porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o aliado principal do governo no Congresso, abriu a sessão deliberativa da Câmara mais cedo, às 16h20, e não às 17h, como faz habitualmente. A PEC das Diretas Já, como é chamada, virou uma bandeira nas mãos da oposição. Maia conseguiu aprovar ontem a medida provisória que libera as contas inativas do FGTS.
Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, a situação foi mais complicada. Em meio a muita gritaria, quase houve troca de tapas entre senadores governistas e de oposição. Depois de suspender a sessão por quase uma hora, o presidente da CAE, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), considerou lido o parecer de Ricardo Ferraço (PSDB-ES) sobre a reforma trabalhista. No relatório, o tucano sugere a aprovação do projeto sem emendas. O parecer será votado na próxima terça, graças a uma manobra regimental: a concessão de vista coletiva, ou seja, o prazo de uma semana para os senadores analisarem o parecer.
Mais prisões
Domar o Congresso é considerado uma espécie de varinha de condão para superar a crise pelo Palácio do Planalto. Há um compromisso dos partidos da base aliada no sentido de aprovar as reformas, mas a Operação Lava-Jato continua rondando o Palácio do Planalto. Ontem, o ex-deputado e ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli foi preso pela Polícia Federal por envolvimento no superfaturamento e desvio de recursos públicos na construção do Estádio Mané Garrincha. Era um dos assessores especiais mais poderosos de Temer. Também foram presos os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT).
A piada pronta do dia foi a devolução da mala de dinheiro que o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) recebeu da JBS durante “ação controlada” da Operação da Lava-Jato. Sumiram R$ 35 mil em cédulas identificadas, dos R$ 500 mil que estavam na mala, que Loures diz que pegou sem saber o que tinha dentro. A mala foi entregue à Polícia Federal pelos advogados do deputado.