Nas entrelinhas: Doria e Moro iniciam dança do acasalamento da 3ª via

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Os demais pré-candidatos parecem dispostos a aguardar a orquestra encerrar a sessão de boleros e começar o sertanejo para decidir o que vão fazer

O governador de São Paulo, João Doria, e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro inauguraram a dança de acasalamento da chamada terceira via, cada qual sinalizando suas prioridades para a escolha de um vice na chapa que pretendem encabeçar. Estão observando a pista Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Alessandro Vieira (Cidadania), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB), todos pré-candidatos, que parecem dispostos a aguardar a orquestra encerrar a sessão de boleros e começar o sertanejo para decidir o que vão fazer.

Nem bem comemorou a vitória nas prévias do PSDB, o governador paulista revelou que gostaria de uma mulher na chapa como vice, num recado claro para Tebet, a senadora que preside a Comissão de Constituição e Justiçado (CCJ) Senado e se destacou na CPI da Covid. Doria tem boas relações com o ex-presidente Michel Temer e uma aliança com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), responsável pelo lançamento da candidata sul-mato-grossense. Tebet tem mais apoio na bancada do Senado do que entre os deputados liderados por Rossi.

Catapultado pelas redes sociais, nas quais lavajatistas e ex-bolsonaristas focaram seu nome, Moro surfa a onda de sua filiação ao Podemos e procura ocupar o espaço vazio deixado pela queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e a estagnação dos concorrentes da terceira via. Até agora, Moro fez movimentos muito precisos, a começar pela indicação do economista Celso Pastore para cuidar da sua relação com a turma da Faria Lima.

Moro não cometeu erros e explora o baixo índice de popularidade de Bolsonaro, que, segundo pesquisa Atlas, divulgada ontem, está em 29% de aprovação, contra 65% de desaprovação. O ex-juiz priorizou sua movimentação na direção dos militares, ao filiar o general Santos Cruz ao Podemos, e troca afagos com o vice-presidente Hamilton Mourão, que tem a pretensão de disputar o governo do Rio de Janeiro. Sinaliza certa prioridade na montagem dos palanques regionais. Aqui em Brasília, por exemplo, fortalece a candidatura de Antônio Reguffe (Podemos).

Ciro é uma espécie de feinho no baile. Não conseguiu atrair o PSB para uma aliança, nem os partidos de centro-esquerda. Com as articulações para formação de uma federação encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reuniria o PT, o PSB e o PSol, o ex-governador do Ceará pode perder mais espaço político, além de ter sido ultrapassado por Moro. O resultado é a forte pressão da bancada federal do PDT para que retire sua candidatura, em favor da incorporação da legenda à frente de esquerda que está sendo formada. Ninguém sabe até quando o presidente do PDT, Carlos Lupi, resistirá às pressões.

Decantação

Mandetta já se posiciona como vice, embora não tenha retirado a pré-candidatura no União Brasil, cuja sobrevivência temporária está relacionada à escolha de Doria nas prévias do PSDB, o que afastou qualquer possibilidade de aliança com os tucanos. O presidente do União, deputado Luciano Bivar (PE), chegou a anunciar que a legenda apoiaria Moro, mas o ex-ministro da Saúde se manteve como pré-candidato. O União é uma força eleitoral de centro-direita, no qual Bolsonaro ainda tem muita influência, principalmente na Câmara.

Não muito diferente é a pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que não decola. Até os pés-de-moleque de Ouro Preto sabem que o sonho do presidente da legenda, Gilberto Kassab, é emplacar o presidente do Senado na vice de Lula, mas essa é uma aliança difícil de ser costurada na legenda, que é bem conservadora. A sustentabilidade da candidatura de Pacheco está muito associada à política de Minas, por suas relações com o senador Antônio Anastasia (PSD) e o deputado federal Aécio Neves (PSDB), um desafeto de Doria.

Outra pré-candidatura no salão é a de Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que se destacou na CPI da Covid e lidera, no Senado, a resistência ao Orçamento Secreto. O senador sergipano é um dos articuladores da chamada terceira via — por enquanto, dança sozinho. Seu partido é assediado por Moro, que conta com apoio do líder da bancada na Câmara, Alex Manente (SP), e por Doria, que já conversa com o presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Freire. O Cidadania deve manter a pré-candidatura e esperar o cenário decantar.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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