Nas Entrelinhas: Dilma versus Cunha

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A oposição torceu por Hugo Motta, na esperança de que sua vitória desse novo impulso à proposta de impeachment. Perdeu. O Palácio do Planalto com, a reeleição de Picciani, ganha novo fôlego
A presidente Dilma Rousseff, com a ajuda do Diário Oficial da União, impôs ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sua maior derrota até agora: a reeleição do líder do PMDB, Leonardo Picciani, por 37 votos a 30, contra o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), o candidato apoiado pela ala oposicionista da bancada, com exceção do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que se recusou a votar.
Cinco deputados reassumiram seus mandatos para votar em Picciani, entre eles o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi exonerado do cargo apenas para participar da votação, em plena campanha contra a epidemia de zika vírus. Os demais eram secretários em seus respectivos estados. Por causa disso, essa diferença de sete votos será reduzida a dois votos e poderá provocar uma nova disputa na bancada, uma vez que a emenda da janela de 30 dias para troca de partido deve ser promulgada nesta semana. Alguns deputados governistas já anunciaram que sairão do partido, mas tanto o Palácio do Planalto quanto Cunha farão novas filiações.
Em circunstâncias normais, o líder de bancada já tem muito poder. Com a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, segundo interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF), passou a ter também a prerrogativa de indicar, monocraticamente, os membros da comissão especial que examinará a admissibilidade do pedido de afastamento da petista. São 65 deputados, dos quais oito serão indicados por Picciani. O parlamentar promete respeitar a proporcionalidade para escolha dos nomes, o que significa que pretende indicar cinco governistas e três oposicionistas, mas não foi esse o procedimento que adotou anteriormente.
O resultado da eleição é um ponto de inflexão no poder de Eduardo Cunha na bancada do PMDB, pois o presidente da Câmara esperava uma vitória por oito votos, ou seja, foi traído por aliados cooptados pelo governo. O controle da bancada do PMDB era o maior trunfo de Cunha, apesar de ter aliados importantes em outros partidos, como o PTB e o Solidariedade. A mudança na correlação de forças se deu porque está isolado no PMDB fluminense, controlado pelo ex-governador Sérgio Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o presidente da Assembleia Legislativa fluminense, Jorge Picciani, pai de Leonardo. O Palácio do Planalto também jogou pesado, com liberação de verbas e nomeações, para garantir a eleição do líder da bancada.
A oposição torceu por Hugo Motta, na esperança de que sua vitória desse novo impulso à proposta de impeachment. Perdeu. O Palácio do Planalto, com a reeleição de Picciani, ganha novo fôlego político na tramitação de suas propostas, embora Cunha continue com o controle da pauta. O governo, porém, tenta recuperar a iniciativa legislativa com a recente edição de sucessivas medidas provisórias, o que acaba criando problemas colaterais, principalmente no Senado, cujo presidente, Renan Calheiros, tenta protagonizar uma pauta própria. De qualquer forma, a polarização Cunha versus Dilma, com o crescente desgaste da imagem do presidente da Câmara, acaba por enfraquecer a bandeira do impeachment.
Vou pra Porto Alegre, tchau!
A força-tarefa da Operação Lava-Jato soltou foguetes. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em julgamento ontem, por 7 a 4, que réu condenado na segunda instância da Justiça comece a cumprir pena de prisão, ainda que esteja recorrendo aos tribunais superiores. Bastará a sentença condenatória de um Tribunal de Justiça estadual (TJ) ou de um Tribunal Regional Federal (TRF) para a execução da pena. Até então, eles podiam recorrer em liberdade ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde 2009, o STF entendia que o condenado poderia continuar livre até que se esgotassem todos os recursos no Judiciário, ou seja, o chamado “trânsito em julgado” do processo, por respeito ao princípio da presunção de inocência. Com a mudança, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, será a nova meca dos advogados da Operação Lava-Jato.
Avulso
O senador Reguffe (DF) também comunicou ontem ao Senado que está se desfiliando do PDT, no rastro da saída do ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, que ontem anunciou sua filiação ao PPS. Reguffe, porém, disse em nota que “ficará pelo menos por um ano sem partido”.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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