Nas entrelinhas: A delação do campeão

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O grande segredo a ser revelado é como funcionava, no submundo da propina, a política dos “campeões nacionais” do BNDES

Preso na Penitenciária Bandeira Sampa, no complexo de Gericinó, zona oeste do Rio, ontem mesmo o ex-megaempresário Eike Batista foi levado à Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, para prestar depoimento sobre as acusações de pagamento de propina a políticos investigados pela Operação Eficiência. Seu advogado, Fernando Martins, nega a possibilidade de Eike fazer uma delação premiada, mas somente isso pode salvá-lo de uma longa pena de prisão, como as da banqueira Katia Rabelo (Banco Rural) e do publicitário Marcos Valério.

Eike pode destrinchar para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal o seu segredo de Midas. Personagem da mitologia grega que tinha o dom de transformar tudo em ouro, o Rei de Frígia (um pedaço da Anatólia, na Turquia), segundo arqueólogos que localizaram seu túmulo, realmente existiu. Consta que Midas tinha orelhas de burro. A fronteira entre a ambição e a burrice é ambígua e sinuosa. Com certeza, foi atravessada por Eike.

O empresário Marcelo Odebrecht, quando foi preso, também dizia que não faria delação alguma. Na CPI da Petrobras – hoje sabemos que fora blindado pelos políticos cuja campanha financiara, – chegou a revelar que repreendia os filhos quando um entregava as traquinagens do outro para os pais. Eis, agora, as delações premiadas de Marcelo,seu pai, Emílio, e mais 76 executivos da empresa, que deixaram a elite política do país em estado catatônico.

O grande segredo a ser revelado é como funcionava, no submundo da propina, a política dos “campeões nacionais” dos governos Lula e Dilma. A CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acabou em pizza. Um dos centros de excelênciada administração pública brasileira, o banco tem técnicos competentes e muito honestos. Costumam bater no peito e rechaçar qualquer aleivosia quantoaos financiamentos concedidos pela instituição. Os mais jovens, inclusive, defendem a política de “campeões nacionais” como uma exitosa estratégia de desenvolvimento do país.

Quando se olha a movimentação financeira das empresas envolvidas na Operação Lava-Jato e os escândalos “conexos”, uma expressão na moda entre os procuradores, principalmente com foco na execução de grandes projetos no exterior, há sempre uma suspeita de que os financiamentos do banco, em que pese terem cumprido os trâmites normais, seriam uma das fontes de financiamento do caixa dois da Odebrecht. Eike pode lançar luz sobre os mecanismos de favorecimento pelo banco e como os recursos eram desviados para pagamento dos políticos.

Os políticos

Para conseguir uma delação premiada, não basta que Eike confirme o que a polícia já sabe, por exemplo, em relação ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral. Teria que oferecer coisas mais importantes, ou seja, denunciar políticos que ainda não foram envolvidos diretamente na trama. O governador Fernando Pezão e o ex-prefeito Eduardo Paes aparentemente estão nessa situação. A presidente Dilma Rousseff também; era encantada por Eike, que não perdia uma oportunidade de se deixar fotografar ao seu lado esbanjando charme. Eike teria muito a falar sobre as suas relações com o expresidente do BNDES Luciano Coutinho e, ainda, com o ex-presidente Lula.

Mas tudo isso está ainda no plano das especulações. Ao contrário das delações premiadas dos executivos da Odebrecht, que já foram homologadas pela president do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármem Lúcia, no mesmo dia em que Eike entrou em cana. Isso significa sinal verde para a Polícia Federal e o Ministério Público investigarem os políticos citados nas delações, independentemente de quem será escolhido relator da Operação Lava-Jato.

O que de melhor pode acontecer quanto a isso é o chamado “devido processo legal”. Ou seja, a Polícia Federal e o Ministério Público vão investigar os políticos citados, indiciá-los e denunciá-los, respectivamente, se as acusações forem comprovadas. Para o governo Temer, isso pode significar uma longa noite dos horrores, com a Esplanada dos Ministérios assombrada por demônios e fantasmas. Talvez a melhor saída seja quebrar o sigilo das delações, antes que vazem seletivamente.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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