O avanço da Lava-Jato em direção à cúpula do PMDB revigorou o ânimo dos petistas na comissão especial do impeachment, cujos trabalhos procuram retardar
Destacado integrante da tropa de choque contra o impeachment, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ontem não escondia a alegria com a divulgação da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que criou o maior constrangimento para o presidente interino, Michel Temer, e mais 22 políticos denunciados pelo ex-senador cearense, entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os presidentes do PSDB, Aécio Neves (MG), e do DEM, José Agripino Maia (RN). Nada muda em relação à comissão especial do Senado que instrui o pedido de impeachment da presidente afastada, que realiza uma maratona de oitivas de testemunhas da defesa, com folgada maioria a favor do afastamento, mas que ninguém subestime: as denúncias têm efeito corrosivo para a imagem do governo provisório.
Lindbergh é uma espécie de valete de ouro entre as damas de copas, espada e paus de Dilma Rousseff, as senadoras Gleisi Hoffman (PT-PR), Fátima Bezerra (PT-PB) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que ocupam a primeira fila nas sessões da comissão para repetir o mantra do golpe e defender a presidente afastada. Mesmo sendo um dos investigados na Operação Lava-Jato, está como pinto no lixo por causa das novas denúncias. “De um mês pra cá, a situação melhorou muito. Sou parado na rua para selfies e recebo apoio para continuar na luta contra o golpe”, explica. Vanessa é menos otimista, avalia que a sua situação é mais difícil; como boa stalinista, porém, acredita que cumpre uma missão histórica: “Não estou preocupada com os votos, o que eu quero é respeito”.
No Palácio do Planalto, o teor da delação premiada, porém, já foi precificado. Michel Temer reuniu os líderes da base para apresentar a proposta de teto para os gastos públicos, ou seja, para atravessar a tormenta política, dobrou a aposta na política econômica do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Em nota curta e grossa, negou ter recebido qualquer doação ilícita. Machado afirmara que Temer teria pedido dinheiro para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.
A denúncia de Sérgio Machado é vaga ao falar que recursos ilícitos foram transformados em doações legais a pedido de Temer, mas foi o suficiente para aumentar a temperatura no Senado. Pela manhã, durante reunião de líderes, o presidente da Casa, Renan Calheiros, acusado de ter recebido R$ 32,2 milhões e investigado em 12 inquéritos, subiu o tom contra o Ministério Público. Disse aos pares que havia arquivado quatro dos nove pedidos de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que havia recebido, mas que agora pretende examinar com mais cuidado os demais. Recebeu o apoio irado do ex-presidente Collor de Mello (PTB-AL), seu aliado histórico.
Um blefe
Mesmo diante das ponderações dos senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Cristovam Buarque (PPS-DF), Renan manteve o que disse em plenário. Declarou também, sem citá-los, que três procuradores cujos nomes foram indicados para o Conselho Nacional do Ministério Público e rejeitados pela Casa integram a força-tarefa da Lava-Jato, quando deveriam se julgar impedidos. Com todas as letras, Renan acusou o procurador-geral Rodrigo Janot de extrapolar funções e disse que pretende zelar pela separação e independência dos poderes. No cafezinho do Senado, porém, senadores consideraram a ameaça de abrir um processo de impeachment contra Janot um blefe. Ficaram mais preocupados com o desgaste quer isso pode causar à imagem do Senado.
A maioria dos senadores não pretende comprar a briga com Janot, pois acredita que o presidente do Senado repete a desastrada estratégia de confronto adotada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contra o Ministério Público Federal. O presidente afastado da Câmara está à beira da cassação por quebra de decoro. Embora a denúncia de Machado não se restrinja ao partido de Temer e atinja também alguns parlamentares do PT, o avanço da Lava-Jato em direção à cúpula do PMDB revigorou o ânimo dos petistas na comissão especial do impeachment, cujos trabalhos procuram retardar ao máximo, na esperança de que uma bala perdida acerte mortalmente o presidente interino, Michel Temer.
Na Câmara, o líder do PSol, deputado Ivan Valente (SP), disse que o partido protocolará um pedido para que a Procuradoria-Geral da República investigue a citação do presidente em exercício, Michel Temer, feita pelo ex-presidente da Transpetro. A legenda atua como uma espécie de linha auxiliar do PT em defesa de Dilma Rousseff e pretende apresentar um novo pedido de impeachment de Temer com base na delação premiada de Machado. A proposta não tem a menor chance de prosperar, mas cria constrangimento e desgasta o governo provisório.
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