Nas entrelinhas: De cara com o eleitor

compartilhe

O PT será vidraça até onde faz oposição, porque o desgaste da Lava-Jato e da crise atinge seus candidatos mais competitivos

De nada adiantam a narrativa do golpe e o “Fora, Temer!” para o PT nas eleições municipais. A legenda entra na disputa eleitoral enfraquecida, com a possibilidade de eleger menos da metade do número atual de prefeitos. As baixas começaram antes mesmo da disputa eleitoral. Dos 619 petistas vencedores das últimas eleições municipais em todo o país, 69 já haviam deixado a legenda no ano passado. Somente em São Paulo, o PT perdeu a 20 de 73 prefeitos. No Nordeste, viu a saída do único prefeito de capital: Luciano Cartaxo, de João Pessoa, que migrou para o PSB.

Na disputa deste ano, o PT lançou 23.599 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, uma queda de 47,2% em relação ao total de postulantes petistas em 2012, ano da última eleição municipal. Nas eleições passadas, a legenda estava atrás apenas do PMDB em número de candidatos, disputando o poder em 1.901 municípios. Agora, tem candidatura própria em 992 cidades, num universo de mais de 5 mil municípios.

Os sintomas de que colherá um desastre eleitoral já surgem nas primeiras pesquisas, uma espécie de marco zero do processo eleitoral. A começar pela disputa de São Paulo, na qual o prefeito Fernando Haddad aparece em terceiro lugar, empatado com Erundina (PSol), com menos de 10% dos votos. Com o dobro de vantagem, Celso Russomano (PRB) está em primeiro, disparado, e Marta Suplicy (PMDB), em segundo lugar, também bem à frente do petista.

Em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) pode vencer já no primeiro turno. O PT sequer lançou candidato a prefeito, embora tenha os dois maiores eleitores do estado, o governador da Bahia, Rui Costa, e o ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner, que fez uma administração bem avaliada. A legenda resolveu apoiar Alice Portugal (PCdoB). No Rio de Janeiro, o PT também não lançou candidato e apoia a candidatura de Jandira Fegalli (PCdoB), que está empatada com o candidato do prefeito Eduardo Paes (PMDB), Pedro Paulo, com menos de 10% dos votos. A disputa é liderada com folga pelo senador Marcelo Crivella (PRB), com o dobro dos votos do segundo colocado, Marcelo Freixo (PSOL).

Em Belo Horizonte, o petista Reginaldo Lopes é o oitavo colocado na disputa, apesar de ser aliado do governador Fernando Pimentel (PT). João Leite (PSDB) lidera com folga. Nas demais capitais, a situação mais ou menos se repete. A única candidatura que larga na frente é a do Recife, onde o ex-prefeito João Paulo (PT) está em empate técnico com o prefeito Geraldo Júlio (PSDB). Em Porto Alegre, Raul Pont (PT) aparece em segundo, atrás de Luciana Genro (PSol), mas tem a vantagem do tempo de televisão.

Há um cansaço das principais lideranças da legenda com o desgaste provocado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um dos mais combativos defensores da presidente afastada no Senado, Lindberg Farias, não esconde a frustração por malhar em ferro frio. O jogo está decidido na Casa, que começa o julgamento do impeachment na quinta-feira, com a oitiva das testemunhas. Dilma decidiu comparecer ao julgamento e usar a tribuna para se defender, na segunda-feira. Tempo não lhe faltará: poderá responder a perguntas dos senadores e terá direito à tréplica, em caso de réplica, sem limitação de tempo. Há uma expectativa de parte do PT de que o desempenho da presidente afastada consolide a narrativa do golpe. Mas qual será o impacto nas eleições municipais? Zero!

É uma situação das mais difíceis para a legenda. Pela primeira vez, o PT será vidraça onde faz oposição, porque o desgaste da Lava-Jato e da crise econômica atinge seus candidatos mais competitivos. É o caso do ex-ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que lidera com folga a disputa pela prefeitura de Araraquara, cidade da qual já foi prefeito. Ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014, será alvo fácil para os adversários porque está sendo investigado pelo Ministério Público Federal. Qual é a saída encontrada pelo PT para enfrentar os adversários? Ainda é apostar no prestígio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para isso, a cúpula da legenda começa a descolar Lula de Dilma Rousseff e resgata suas velhas bandeiras sindicais, ancoradas no corporativismo. A prova de que o PT está por largar a mão da presidente e fará uma avaliação negativa de seu governo, em contraste com o de Lula, é a atuação da bancada petista no Congresso. Ontem, votava pela derrubada dos vetos da presidente afastada, ao passo que os tucanos é que defendiam sua manutenção.

Há tensões

Ninguém se surpreenda se o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), deixar o cargo. A corda está toda esticada entre a bancada tucana e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, por causa dos aumentos do Judiciário, a começar pelo salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

Posts recentes

Orçamento sob medida para as eleições: R$ 61 bi em emendas parlamentares

Na prática, o que se vê é a substituição do planejamento público por uma lógica…

2 dias atrás

Supostos negócios de Lulinha com Careca do INSS são dor de cabeça para Lula

Estava tudo sob controle na CPMI, até aparecerem indícios de que Antônio Carlos Camilo Antunes,…

4 dias atrás

Acordo entre governo e oposição garante aprovação do PL da Dosimetria

O projeto altera a Lei de Execução Penal, redefine percentuais mínimos para progressão de regime…

5 dias atrás

Com Lula favorito, Flávio Bolsonaro desidrata a candidatura de Tarcísio

A desaprovação ao governo Lula não traduz automaticamente uma vantagem eleitoral para a oposição. A…

6 dias atrás

PF põe saia justa no STF ao explicar sigilo do Master

Durante a Operação Compliance Zero, deflagrada para apurar um esquema bilionário de fraudes bancárias, a…

7 dias atrás