O PT lançou candidatos onde não teria maiores dificuldades para composição, com o propósito de forçar o PSB a recuar de algumas pretensões; nos partidos de centro também há tensões.
A nova legislação eleitoral, que estabeleceu o prazo até 2 de abril para que os partidos formem federações, acirra as contradições internas e tensiona as alianças partidárias, principalmente no campo da oposição, que tem muitos candidatos. Mesmo com o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, a federação do PT com os partidos de esquerda esbarra nos conflitos existentes com o PSB, para montagem dos palanques regionais. O PT lançou candidatos onde normalmente não teria maiores dificuldades para composição, com o simples propósito de forçar o PSB a recuar de algumas pretensões regionais e aceitar suas imposições.
Desde o início, a dança de acasalamento entre Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin alimenta as tensões entre o PT e o PSB. O ex-tucano continua cotadíssimo para ser o vice da chapa, porém isso pode vir a ocorrer por outra legenda, porque tanto o PSD, de Gilberto Kassab, quanto o Solidariedade, de Paulinho da Força, namoram Alckmin. Quando o PSB passou a exigir o apoio à candidatura do ex-governador Márcio França ao Palácio Bandeirantes para fechar a aliança, setores do PT passaram a atacar o acordo e exigir o apoio dos socialistas à candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Em troca do apoio a Lula e da indicação Alckmin para a vice, o PSB também exige apoio dos petistas em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Acre e Pernambuco.
Depois de São Paulo, a maior confusão está em Pernambuco, principal reduto eleitoral do PSB, que controla a administração do estado desde 2007. O ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio (PSB), que seria o sucessor natural do governador Paulo Câmara, não quer ser candidato. Muitos acreditam que a recusa seja uma forma de confundir os adversários, evitando o chamado “sereno”, ou seja, ficar exposto muito tempo antes das eleições. Os deputados federais Danilo Cabral e Tadeu Alencar, ambos do PSB, já se assanham para disputar a vaga, sendo o segundo mais próximo ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), e da ex-primeira-dama Renata Campos, que controlam a legenda. Nesse lusco-fusco, o senador Humberto Costa (PT), se apresentou com pré-candidato ao governo de Pernambuco.
No Rio de Janeiro, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) quer uma aliança com o PT para disputar o governo estadual. As negociações caminhavam na direção de o atual presidente da Assembleia Legislativa, Andre Ceciliano (PT), ser candidato ao Senado, sacramentando a aliança. Entretanto, uma ala do PT não quer apoiar a candidatura de Freixo e, diante das tensões com o PSB, já cogita apoiar o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves ou lançar a candidatura da Ceciliano, que poderia ver a ter o apoio do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Por já ter ocupado interinamente o governo fluminense, Ceciliano não poderia se candidatar à reeleição, o que é música para o prefeito carioca.
As divergências em relação a São Paulo repercutem em outros estados. No Acre, o deputado estadual Jenilson Leite (PSB) é pré-candidato ao governo do estado; o ex-governador Jorge Viana (PT), também. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande é candidato à reeleição, mas o PT ameaça lançar a candidatura do senador Fabiano Contarato (PT), que brilhou na CPI da Saúde. No Rio grande do Sul, o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) enfrenta a oposição do deputado estadual Edegar Pretto (PT).
Terceira via
Também estão complicadas as negociações entre os partidos da chamada terceira via. Tanto o PSDB, do governador João Doria, como o Podemos, do ex-ministro Sergio Moro, se movimentam para formar uma federação e, partir daí, tentar um movimento de aglutinação dessas forças que resultasse numa candidatura mais robusta de centro. Ciro Gomes (PDT) sonha com o apoio do PSB, mas precisa quebrar resistências internas no PDT, no qual uma ala não esconde o desejo de apoiar o ex-presidente Lula. Os partidos cobiçados para as alianças são a União Brasil, que não tem candidato próprio, o MDB, o PSD e o Cidadania, cujos candidatos são Simone Tebet (MS), Rodrigo Pacheco (MG) e Alessandro Vieira (SE), respectivamente.
O União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL, conversa com Sergio Moro, mas enfrenta resistência de parte considerável de sua bancada, que é antilavajato. O MDB lançou a candidatura de Simone Tebet, que pode ser mantida ou ser candidata a vice. O grupo ligado ao atual presidente da legenda, deputado Baleia Rossi (SP), e ao ex-presidente Michel Temer se aproxima do governador João Doria. Outra ala pretende apoiar o ex-presidente Lula.
O PSD lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como pré-candidato à Presidência, mas a legenda não se movimenta como quem realmente pretende ter uma candidatura própria, nem Pacheco, que para deslanchar eleitoralmente precisaria da união de Minas, o que parece ser impossível até agora. Kassab conversa com todo mundo, mas não se pode descartar um acordo com o ex-presidente Lula, com a indicação do vice, principalmente se PSB der um cavalo de pau e fizer uma coligação com Ciro Gomes.
O Cidadania está muito dividido. A candidatura do senador Alessandro Vieira conta com apoio nas bases da legenda, mas não empolgou a bancada federal na Câmara. O presidente da sigla, Roberto Freire, tem simpatia por uma federação com o PSDB, porém, o líder da bancada na Câmara, deputado Alex Manente (SP), não esconde a simpatia por Moro. Não existe ainda uma maioria formada e integrantes da cúpula da legenda conversam com todo mundo, inclusive Simone Tebet e Ciro Gomes. Por causa das alianças locais, qualquer decisão será traumática.
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