“O lento e contínuo crescimento de Bolsonaro e a ascensão espetacular de Haddad, à sombra de Lula, fizeram com que seus adversários mudassem de estratégia para evitar uma decisão no primeiro turno”
Terceiro nas pesquisas de opinião, Ciro Gomes (PDT) tenta conter a polarização entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) para evitar uma decisão no primeiro turno, que tornaria sua candidatura irrelevante, como a de outros candidatos, se isso vier a ocorrer. O ex-governador do Ceará é o único cuja candidatura não se desidratou, ao contrário do que aconteceu com Marina Silva (Rede), principalmente, e um pouco com Geraldo Alckmin (PSDB), que nunca decolou. Ciro partiu pra cima do petista: “O Brasil não suporta mais um presidente fraco, um presidente sem autoridade, um presidente que tenha que consultar o seu mentor”, afirmou, numa alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ciro revela nas entrevistas os bastidores da sua negociação com o PT. Relata que o ex-presidente Lula mandou vários emissários — entre os quais, Dilma Rousseff, Roberto Requião e Gleisi Hoffmann — com a proposta de que aceitasse ser vice “de araque” na chapa registrada pelo PT e que foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Todo mundo sabia, como eu cansei de dizer, que era uma enganação do PT, que não iam deixar o Lula ser candidato”. Segundo ele, Haddad “aceitou desempenhar um papel que o diminui profundamente” para se eleger em cima da popularidade de Lula, como aconteceu com Dilma Rousseff. Ciro irritou-se com as declarações de Haddad logo após a última pesquisa do Ibope: “Ele está se precipitando com uma demonstração a mais de inexperiência ou de arrogância. A ‘petezada’ também costuma cultivar uma certa arrogância, uma certa superioridade. Eu não sei de onde eles tiraram isso, eles já se acham vitoriosos, já se acham no segundo turno”, disparou.
A última pesquisa do Ibope mexeu com a estratégia de campanha de Ciro e dos demais candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) subiu de 26% para 29%. Fernando Haddad (PT) passou de 8% para 19%. Ciro Gomes (PDT) se manteve com 11%. Geraldo Alckmin (PSDB) caiu de 9% para 7% e Marina Silva (Rede), de 9% para 6%. Brancos e nulos caíram de 19% para 14%. Não souberam ou não opinaram se manteve em 7%. O lento e contínuo crescimento de Bolsonaro e a ascensão espetacular de Haddad, capturando os votos do ex-presidente Lula, que liderava as pesquisas, fizeram com que todas as campanhas levassem em conta o que parecia improvável: uma decisão logo no primeiro turno.
Desvantagem
Isso aconteceu na eleição de 1994, na qual Lula parecia imbatível. Apuradas as urnas, embalado pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso obteve 54,3% dos votos válidos, seguido pelo petista, com 27,1%. Enéas Carneiro chegou em terceiro lugar, com 7,4% dos votos, à frente de tradicionais políticos nacionais, como Orestes Quércia, que obteve 4,4%, e Leonel Brizola, com 3,2%. A 18 dias da votação, não se pode descartar o imponderável na eleição, inclusive uma inversão de posições entre Haddad e Bolsonaro. A reação de todas as campanhas foi no sentido de conter a polarização. Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) também passaram a combater o voto útil, que foi um tiro no pé das respectivas campanhas.
Apesar de liderar as pesquisas, Bolsonaro está em posição delicada, pois continua hospitalizado, o que anula a vantagem estratégica que tinha: a campanha de massas nas ruas, com poder de mobilização muito superior ao dos concorrentes, até que recebeu a facada em Juiz de Fora (MG) que o tirou do corpo a corpo com os eleitores. Hoje, está confinado num quarto de hospital. Mantém-se de forma monocórdica no noticiário dos telejornais, mas boletins médicos não ganham eleição, ainda mais agora, que passaram de dois para um por dia. Bolsonaro continua vivíssimo nas redes sociais, graças a pequenos comentários e fotos tiradas no hospital, mas o seu vice não ajuda. O general Hamilton Mourão se pronuncia nas palestras como quem dá instrução à tropa, situação na qual não existe contestação. Quando fala alguma bobagem, como a declaração sobre as mães e as avós que cuidam das respectivas famílias sem os maridos, os adversários deitam e rolam. Bolsonaro tem seu próprio passivo para administrar. Seu maior problema é a rejeição, que está em 42%, muito alta para quem quer ganhar a eleição, ainda mais no primeiro turno.