Nas entrelinhas: Candidato sem partido

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Em todos os cenários eleitorais, Bolsonaro oscila na faixa entre 17% e 18% dos votos, mas sobe para 21% nos cenários possíveis sem a presença de Lula

Jair Bolsonaro (PSC), segundo colocado nas pesquisas, virou uma espécie de ronin (um samurai errante, renegado pelo próprio clã) nas eleições presidenciais. Seu partido, sob comando do Pastor Everaldo, não deseja tê-lo como candidato. O nome preferido pela cúpula da legenda é o presidente do BNDES, Paulo Rabelo de Castro. Por essa razão, o ex-capitão do Exército estava de mudança para o PEN, cujo nome mudará para Patriotas, mas algo ocorreu no meio do caminho. Adilson Barroso, presidente do partido, e Bolsonaro, que pleiteia pelo menos “51% das ações” da legenda, não se entenderam sobre o fundo eleitoral. Traduzindo, isso representaria em torno de R$ 5,1 milhões.

Em todos os cenários eleitorais, segundo o último DataFolha (29 e 30/11), Bolsonaro oscila na faixa entre 17% e 18% dos votos, mas sobe para 21% nos cenários possíveis sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse contexto, seria o favorito na disputa, seguido de perto por Marina Silva, que herdaria a outra parte dos votos do petista e subiria da faixa entre 9% e 11% para 16% e 17%. A propósito, Bolsonaro está numa situação muito parecida com a da ex-senadora acriana nas eleições passadas, quando se filiou ao PSB para disputar a eleição porque não conseguiu registrar seu partido, a Rede. A rigor, o ex-capitão do Exército não teria problemas para conseguir uma legenda, mas as negociações com o PSL, que mudou o nome para Livres, também encalharam por causa do tal arranjo acionário: a divisão do fundo eleitoral de R$ 9 milhões.

O deputado federal Luciano Bivar (PE), presidente da legenda, ontem, descartou categoricamente a filiação de Bolsonaro: “Não procedem, de forma alguma, as notícias de que o deputado federal Jair Bolsonaro possa se filiar ao PSL. O projeto político de Jair Bolsonaro é absolutamente incompatível com os ideais do Livres e o profundo processo de renovação política com o qual o PSL está inteiramente comprometido”. Essa vem sendo a maior dificuldade de Bolsonaro, que se viabilizou eleitoralmente como candidato competitivo, mas a imagem de candidato “linha-dura” dificulta a vida junto aos setores liberais, ainda que tente substituir o discurso nacionalista de direita por uma retórica mais alinhada com o mercado. Bolsonaro consolidou a imagem de candidato reacionário.

Na cúpula das Forças Armadas, Bolsonaro não tem o menor trânsito. Não só por causa de suas ideias, mas também por causa da hierarquia militar. Mas tem prestígio na tropa e alguns aliados na oficialidade, colegas de formação militar. Se hoje podemos afirmar que não existe ameaça de golpe de Estado, após as eleições, com Bolsonaro eventualmente no poder, tudo pode acontecer, pois seus discursos são autoritários apontam para a imprevisibilidade. Com 4,9 milhões de seguidores no Facebook, tem hoje uma rede de apoio nacional, que lhe garante audiência certa nos eventos que organiza e uma base real para sua campanha, mas não pode ser candidato avulso. Precisa de um partido.

Fragmentação
O crescimento de Bolsonaro está diretamente relacionado aos avanços do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que ressuscitou o PT nas suas andanças para o país e já é favorito nas eleições do próximo ano. Como a reação do eleitorado conservador está sendo radicalizada no mesmo diapasão dos eleitores petistas, isso realimenta os dois candidatos, porque o eleitorado de centro ainda está muito fragmentado. Marina Silva, uma ex-petista, terceira colocada, não consegue conquistar os eleitores mais conservadores, embora tenha uma trajetória de conduta ética e fortes ligações com o mundo evangélico.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, não consegue decolar, mantendo-se na faixa dos 6% e 7% de preferência dos eleitores. Sem Lula, sobe para 9%, mas isso ainda é pouco para reagrupar os eleitores de centro. Alckmin faz um governo bom em São Paulo, onde goza realmente de grande prestígio, mas está sendo confinado eleitoralmente por causa da crise do PSDB em estados importantes. Quem cresce nesse espaço, sem Lula, é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que sai da faixa dos 6% e 7% para 12% e 13 %. Álvaro Dias, do Podemos, oscila entre 3% e 6% nos cenários com e sem Lula, respectivamente.

Publicado no Correio Braziliense de 22 de dezembro de 2017

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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