Nas entrelinhas: Caixa dois vip

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O que Dilma sabia era que a gente fazia, tinha uma contribuição grande (…) — e ela sabia que a gente era responsável por muitos pagamentos para o João Santana”, Marcelo Odebrecht

A revelação mais surpreendente do depoimento do empresário Marcelo Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vazada ontem pelo site O Antagonista (só para contrariar o presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes) é de que a ex-presidente Dilma Rousseff exigiu que a empreiteira doasse recursos somente para a sua campanha, e não para o caixa do PT, num montante que teria chegado a R$ 150 milhões, nos quais R$ 50 milhões teriam sido diretamente pelo caixa dois, ou seja, não foram declarados à Justiça Eleitoral. A comprovação desse fato seria mais do que suficiente para a cassação de Dilma Rousseff, que rebate as afirmações.

“O que Dilma sabia era que a gente fazia, tinha uma contribuição grande — a dimensão da nossa contribuição era grande, ela sabia disso — e ela sabia que a gente era responsável por muitos pagamentos para o João Santana. Ela nunca me disse que sabia que era caixa 2, mas é natural, é só fazer uma… ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do partido”, disse o empresário, a propósito das conversas com a ex-presidente da República, nas quais o assunto era abordado de maneira sutil: “Eu não sei especificar o momento em que eu tive essa conversa com ela, mas isso sempre ficou evidente, é que ela sabia dos nossos pagamentos para o João Santana. Isso eu não tenho a menor dúvida”, explicou.

Marcelo Odebrecht disse que a conta-corrente petista na empreiteira era utilizada, inclusive, para pagamentos que deveriam ser feitos ao marqueteiro João Santana, era gerenciada pelo ex-ministro Antônio Palocci e, em um segundo momento, por Guido Mantega, para atender “as necessidades da Presidência da República”. Teria sido assim durante os governos Lula e Dilma. “Quando eu digo PT é com a Presidência, quer dizer, Guido… Não tinha envolvimento, não tinha nada a ver com a relação dos meus outros empresários — certo? — com o PT. Não tinha relação, por exemplo, com o Vaccari; algumas vezes, a pedido de Palocci ou Guido, a gente ajudou o Vaccari a fechar a conta do PT. Mas o Vaccari foi e pediu para eles, eles me pediram e eu autorizei, porque saiu da conta.”

Documentos apresentados pela Odebrecht ao TSE corroboram as declarações, apesar dos desmentidos de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há registros de movimentação da conta do caixa dois da Odebrecht para “Itália”, “Amigo” e “Pós Itália”, que seriam os codinomes de Palocci, Lula e Mantega, segundo Marcelo Odebrecht. O saldo desse caixa dois em 22 de outubro de 2013 era de R$ 71 milhões; em 31 de março de 2014, de R$ 66 milhões.

A separação
Em outro depoimento, Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht e da Braskem, que também foi preso na 14ª fase da Operação Lava-Jato, disse que repassou pessoalmente R$ 21 milhões em espécie do caixa dois da Odebrecht para as campanhas do Pros, PCdoB, sendo que cada partido teria recebido R$ 7 milhões. O executivo deu detalhes da operação e disse que o PDT e o PP também receberam dinheiro, mas por intermédio de outros executivos. Segundo Alexandrino, a transferência dos recursos foi feita a pedido do tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara, que também nega as acusações.

O julgamento das contas de campanha de Dilma é uma grande dor de cabeça para o presidente Michel Temer, que acabou envolvido no caso do caixa dois da Odebrecht em razão do depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da empresa Cláudio Mello Filho. A estratégia de desvincular as contas de campanha de Temer das de Dilma Rousseff foi abalada porque o executivo disse que, a pedido de Temer, a Odebrecht repassou recursos para o PMDB, via caixa dois, por meio do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. O presidente da República nega envolvimento com o caixa dois. O outro lado da moeda é o fato de que os depoimentos sobre o caixa dois de Dilma abalam a narrativa petista de golpe, inclusive no exterior, e a imagem da ex-presidente, que teria exigido exclusividade da Odebrecht para sua campanha.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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