Nas entrelinhas: Bolsonaro recupera expectativa de poder

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O governo passou a operar em modo eleitoral, com adoção de medidas para mitigar os efeitos da pandemia e da inflação no bolso dos brasileiros

O ato realizado, ontem, pelo Partido Liberal (PL), do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que filiou 16 deputados à legenda, mostra que o presidente Jair Bolsonaro está recuperando a expectativa de poder, que, em grande parte, havia se transferido para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em razão do favoritismo do petista nas pesquisas de opinião. Entre os novos filiados, estão a deputada Carla Zambelli (SP), o cantor baiano Netinho e o jogador de vôlei Maurício de Souza. O PL passou a ter a maior bancada da Câmara, com 65 parlamentares.

A maioria dos parlamentares que ingressaram no PL deixou o União Brasil, partido que resultou da fusão do PSL com o DEM. Bolsonaristas de primeira hora, como Coronel Tadeu (SP), Sanderson (RS) e Hélio Lopes, conhecido como Hélio Negão (RJ), estão no pacote de filiações, esperadas desde quando o presidente Bolsonaro ingressou na legenda comandada por Valdemar Costa Neto, em novembro passado. Naquela ocasião, por causa da lei de fidelidade partidária, somente o senador Flávio Bolsonaro (RJ) havia ingressado na legenda.

O União Brasil deve perder 28 dos 81 deputados de sua bancada. Essa debandada já estava prevista pelo presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), em razão do rompimento com Bolsonaro. Foi uma das razões da própria fusão com o DEM. A nova sigla pretende compensar as perdas utilizando o enorme fundo partidário de que dispõe para financiar seus candidatos nas eleições deste ano. O PSL já receberia R$ 604 milhões de fundo eleitoral; somados aos R$ 341,7 milhões do DEM, são quase R$ 1 bilhão para gastar na campanha eleitoral.

Lealdade

Segundo partido em importância do Centrão, após a filiação de Bolsonaro, o PL passou a emular com o PP em termos de fidelidade ao presidente da República. No ato de filiação de ontem, a deputada Carla Zambelli anunciou a formação do grupo “Lealdade acima de tudo”, formado por parlamentares que defendem os posicionamentos de Bolsonaro em relação a “Deus, pátria, família, liberdade”. Nos estados, o PL começa a cobrar lealdade dos candidatos do PP à candidatura de Bolsonaro, principalmente no Nordeste.

Um dos que estão na saia justa por causa disso é o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), que apoia um candidato do PSDB no Piauí. Indicada por Bolsonaro para presidir o PL no estado, a jornalista Samantha Cavalca, num programa da TV Cidade Verde, questionou o apoio de Nogueira ao tucano Sílvio Mendes, inclusive indicando a deputada Iracema Portella (PP), sua esposa, para vice da chapa encabeçada pelo PSDB. Cavalca garantiu que o palanque de Bolsonaro no Piauí será comandado pelo PL. “Nosso pré-candidato, que vai defender o nome do Bolsonaro, é o major Diego Melo. Já foi avalizado pelo presidente”, disse.

Uma das maiores dificuldades para a reeleição de Bolsonaro é sua fragilidade eleitoral no Nordeste, apesar do grande número de deputados nordestinos do Centrão, a começar por Ciro Nogueira e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém enorme prestígio eleitoral no Nordeste, porque é pernambucano e devido aos grandes investimentos que realizou na região, com destaque para a transposição do Rio São Francisco.

Entretanto, Bolsonaro conseguiu estancar a queda nas pesquisas de opinião, e o ex-presidente Lula, aparentemente, bateu no seu teto eleitoral para o primeiro turno, o que pode inviabilizar uma “terceira via”. Com isso, os governistas estão mais animados e restabeleceram a expetativa de reeleição que haviam perdido. Além disso, o governo passou a operar em modo eleitoral, com adoção de medidas para mitigar os efeitos da pandemia e da inflação no bolso dos brasileiros. Ontem, por exemplo, anunciou o adiantamento do 13% salário para os aposentados e liberou o saque de R$ 1 mil do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Censura

A inflação, porém, continua sendo um fantasma. A alta dos combustíveis pode pôr a perder toda estratégia de reeleição de Bolsonaro, comendo parte dos recursos do Auxílio Brasil, o programa de transferência de renda no valor de R$ 400 que, desde janeiro, beneficia 17,5 milhões de famílias de baixa renda. Para mitigar os efeitos da alta dos combustíveis no bolso do consumidor, o governo pretende zerar os impostos federais sobre combustíveis e subsidiar os preços do diesel, da gasolina e do gás de cozinha.

O pacote de bondades se soma à agenda dos costumes, que voltou a ser implementada. Ontem, o governo censurou uma comédia do humorista Danilo Gentili, Como se tornar o pior aluno da escola, de 2017, por suposta pedofilia. O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que Netflix, Telecine, Globoplay, YouTube, Apple e Amazon suspendam a exibição e a oferta do filme. Caso as plataformas não cumpram a determinação, será aplicada multa diária no valor de R$ 50 mil. No filme, o personagem, que é pedófilo, é um vilão.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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