“Em termos de votos válidos, Bolsonaro tem 58% e Haddad, 42%, ou seja, uma diferença de 16 pontos, que não é impossível de ser revertida, mas é difícil”
A realização de segundo turno obrigou Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) a buscar a maioria de votos válidos que faltou no domingo passado. Na pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha, Bolsonaro larga bem na frente, com 49% de intenções de voto, e Haddad tem 36% dos votos totais, o que confirma as previsões quanto à deriva dos eleitores após o primeiro turno. Brancos e nulos somam 8%; não sabem, não respondeu, 6% dos eleitores.
Em termos de votos válidos, Bolsonaro tem 58% e Haddad, 42%, ou seja, uma diferença de 16 pontos, que não é impossível de ser revertida, mas é difícil. Para isso, Fernando Haddad mudou as cores da campanha, tirou a camiseta vermelha do Lula, livre! e pediu para beijar a mão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano já pode cantarolar um velho samba do Bezerra da Silva: “A necessidade obrigou/ Você a me procurar. /Você era, orgulhosa. /Mas a necessidade acabou com a sua prosa.”
Embora à frente nas pesquisas, a equipe de Bolsonaro também pôs as barbas de molho. O general Augusto Heleno, um dos coordenadores de sua campanha, deu uma entrevista recomendando humildade aos correligionários. Bolsonaro, porém, não mudou o estilo e bate duro em Haddad, a quem chamou de “marmita de corrupto preso”, depois de ser criticado pelo petista, por não ir ao primeiro debate na TV, alegando proibição médica.
No Congresso, nesta semana, deputados reeleitos e derrotados trocavam informações sobre o tsunami eleitoral que varreu parte da antiga elite do Senado e também afastou da Câmara dezenas de cabeças coroadas. Há quatro blocos em formação.
Câmara
O primeiro bloco é liderado pelo PSL, o partido de Bolsonaro, que elegeu a segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados (tinha 8). A orientação de Bolsonaro é atrair parlamentares dos pequenos partidos que não conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira, para se tornar a maior bancada da Casa. A movimentação, coordenada pelo deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), tem por objetivo articular uma base parlamentar de 300 parlamentares. A articulação fez a candidatura à reeleição do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subir no telhado.
O segundo bloco é liderado pelo PT, que elegeu a maior bancada, com 56 parlamentares, um êxito inquestionável. No segundo turno, com as articulações feitas pela campanha de Haddad, agora sob comando do ex-governador e senador eleito Jaques Wagner, esse bloco deve incorporar os parlamentares do PDT, com 34 deputados, e PSB, com 32 deputados, além do PSol, com 10, e o PCdoB, com 9, mas que não alcançou o número de votos exigidos pela cláusula de barreira. Essa frente de esquerda pode se tornar uma oposição radical, se Bolsonaro vencer, ou nuclear a atração das forças ao centro, como aconteceu no governo Lula, caso Haddad vença as eleições. Com certeza, o bloco lançará um candidato à Presidência da Câmara.
O terceiro bloco deve ser articulado pelas bancadas do PP, com 37 deputados; e do MDB e do PSD, com 34 cada, e tentar agrupar os partidos menores que resistirem ao assédio do PSL. É a chamada turma do “Hay gobierno? Soy a favor”. Os três partidos estão encastelados na Esplanada dos Ministérios e serão os mais atingidos na formação do novo governo, em razão dos cargos que hoje ocupam. Um quarto bloco é constituído pelos partidos de esquerda mais moderada: o PSDB, com 29 deputados; o PPS, com oito; o PV, com quatro; e a Rede, com um. Esses partidos terão de se reinventar, qualquer que seja o vencedor do pleito.
Senado
No Senado, o MDB, elegeu sete senadores; Rede e PP têm cinco senadores cada um. DEM, PSD, PT, PSDB e PSL, quatro. Esse resultado alterou a correlação de forças na Casa, reduzindo o peso do MDB, que continua com a maior bancada, com 12 senadores. O PSDB tem nove; o PSD, sete; o DEM, seis; o PDT, seis; Podemos, cinco.
Tradicionalmente, o Senado elege o presidente indicado pela maior bancada e preenche os cargos na Mesa e presidências de comissões pelo critério da proporcionalidade. O senador Renan Calheiros(PMDB-CE), com a não reeleição de Eunício Oliveira, já se movimenta para voltar à Presidência da Casa. Acontece que apoia Haddad; se Bolsonaro vencer, a sua candidatura subirá no telhado, porque a tradição em relação à proporcionalidade poderá ser quebrada na eleição, o que nunca antes aconteceu.