O PT e o Centrão se uniram para instalar uma CPI para investigar a atuação do escritório Alvarez & Marsal, para o qual o ex-juiz federal prestou serviços, nos casos da Lava-Jato
Nada acontece na política brasileira, hoje, que não mire as eleições de outubro próximo, no governo ou na oposição. Embora a campanha não esteja oficialmente aberta, o calendário eleitoral já está em curso e os pré-candidatos se movimentam para delimitar os territórios nos quais pretendem alavancar suas candidaturas.
O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, ao anunciar os vetos ao Orçamento da União, com cortes que chegaram a R$ 3,18 bilhões, fez tudo o que pode para manter as emendas de relator do Orçamento da União — o chamado orçamento secreto, que tudo mundo sabe que servirá para turbinar as campanhas dos seus aliados do Centrão, com verbas que chegam a R$ 16,2 bilhões — e para garantir recursos para os reajustes dos policiais e outras categorias de seu interesse.
De forma objetiva, com seus cortes, Bolsonaro também demarcou os setores que encara como inimigos: a comunidade de pesquisas científicas, os setores ligados à educação e às universidades federais, órgãos e hospitais da área de saúde, quilombolas, trabalhadores rurais, indígenas e defensores dos diretos humanos, principalmente das mulheres em situação de risco. Por incrível que pareça, com o avanço da nova onda da pandemia de covid-19, cuja rápida propagação está ameaçando pôr em colapso a rede pública de saúde em vários estados, recrudesceu o negativismo do presidente e de seus auxiliares, com forte apoio dos setores de sua base eleitoral que fazem campanha contra a vacinação em massa, principalmente a das crianças, nas redes sociais.
Continua a escalada do Ministério da Saúde contra as vacinas, apesar dos problemas que isso pode acarretar ao ministro Marcelo Queiroga, que começa a ser investigado, juntamente com Bolsonaro, por prevaricação na imunização de crianças, cuja obrigatoriedade é prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Denúncia feita pela Rede Sustentabilidade, ontem, foi enviada pela ministra do Supremo Tribunal federal (STF) Rosa Weber ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para as devidas providências.
Como se sabe, o Ministério Público Federal vem fazendo vista grossa aos desatinos do governo na crise sanitária. Os mais recentes foram a afirmação oficial do ministério de que a hidroxicloroquina e a ivermectina são eficazes no tratamento precoce da doença e o questionamento dos efeitos das vacinas.
Frigideira
Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança na sedução dos ex-adversários tucanos que se tornaram dissidentes da candidatura do governador de São Paulo João Doria. Além de manter o nome do ex-governador Geraldo Alckmin como nome mais provável para vice, apesar da resistência de setores da esquerda petista e do PSol, Lula estava com o ex-ministro de relações Exteriores e ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, expoente dos tucanos paulistas. Agora, o petista se prepara para um encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já anunciou a intenção de votar em Lula no segundo turno, caso seu adversário seja Bolsonaro.
A candidatura de Doria está sangrando porque uma ala do partido já negocia apoio à candidata do MDB, Simone Tebet (MS), articulação liderada pelos senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP), em exercício. O senador José Serra (SP), que está licenciado, também andou conversando com Lula.
Eleitoralmente, quem mais vem ganhando com a crise do PSDB é o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que ocupou espaço no campo da chamada terceira via. O pré-candidato do Podemos pode até mudar de legenda caso as negociações da presidente do partido, Renata Abreu (SP), com o União Brasil (a fusão do PSL com o DEM) prosperem. Nesse caso, Moro migraria para a legenda e Abreu seria sua vice.
Entretanto, o ex-juiz, agora, sofre o primeiro grande ataque especulativo à sua candidatura, em razão da quebra de sigilo do processo do Tribunal de Contas da União (TCU) que investiga seu contrato de consultoria com o escritório norte-americano Alvarez & Marsal, para o qual Moro prestou serviços por 10 meses, tendo a empresa recebido cerca de R$ 42,5 milhões.
A divulgação do relatório do subprocurador da República no órgão, Lucas Furtado, e do conselheiro Bruno Dantas, virou uma dor de cabeça para o ex-juiz. O PT e o Centrão se uniram para instalar uma CPI para investigar a atuação do escritório nos casos da Lava-Jato.
O escritório Alvarez & Marsal alega que “não existe” qualquer conflito de interesse na nomeação como administradora judicial da Odebrecht ou de outras companhias investigadas pela Lava-Jato, e que a contratação do ex-juiz foi efetuada pela área de Disputas e Investigações, um dos braços do grupo, que atua em 29 países. Moro integrou “um time de consultores externos”, entre ex-agentes do FBI e de forças de segurança, ex-promotores e ex-funcionários públicos de departamentos de justiça.
A subsidiária do escritório A&M Administração Judicial atuou na fiscalização de 89 empresas, em 26 processos de recuperação judicial, a pedido de tribunais de São Paulo e do Rio. Entre 2013 e 2021, faturou cerca de R$ 83 milhões na prestação de serviços à Justiça, dos quais R$ 65 milhões em casos de empresas envolvidas na Lava-Jato.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…