“Em meio à confusão criada por declarações desencontradas e balões de ensaio, Bolsonaro está montando uma cadeia de comando, na qual seus ministros estão tendo liberdade para formar equipes”
Os jornalistas estão com dificuldades para fazer a cobertura do governo de transição de Jair Bolsonaro, que anuncia ministros pelo Twitter e tem prazer de “furar” a imprensa. Na equipe de transição, não há uma política de comunicação, cada um diz o que lhe dá na telha nas entrevistas. Falam o que não deveriam e, depois, reclamam dos repórteres que tentam arrancar uma informação. Ontem, por exemplo, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, reclamava de uma repórter que insistiu tanto numa pergunta sobre o Mercosul que o futuro czar da economia acabou falando o que pensa realmente sobre o assunto. Acontece que a opinião do novo ministro não coincide com a dos empresários que realizam o comércio entre esses países e, muito menos com a do Itamaraty. A saída foi minimizar o que disse e pôr a culpa na jornalista. Não foi a primeira vez que isso aconteceu, nem será a última.
Paulo Guedes foi protagonista de uma decisão estratégica do novo governo, porém, que sinaliza como as coisas vão funcionar doravante: a indicação do ex-ministro Joaquim Levy para a presidência do BNDES. Depois do anúncio, o economista foi bombardeado pelos petistas e seus aliados, que o responsabilizam pelo fracasso do governo Dilma Rousseff, já que não podem responsabilizar a petista sem dar um tiro no próprio pé na narrativa do golpe. Também foi bombardeado por setores ligados ao próprio Bolsonaro, que saiu em defesa de Guedes: “Ele (Guedes) é que está bancando o nome Joaquim Levy. Ele tem um passado com a Dilma, sim, teve 10 meses, tem um passado com o governo Cabral, mas nada tem contra sua conduta profissional. Assim sendo, eu endosso Paulo Guedes. Esse é um ponto pacificado”, afirmou o presidente eleito, numa entrevista “quebra-queixo”, na entrada do condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, logo após o anúncio.
Levy é um executivo polivalente, capaz de transitar do setor financeiro para a administração pública e vice-versa, sem se enrolar na quantidade de zeros. Foi ministro da Fazenda no segundo mandato da então presidente Dilma Rousseff, secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato do então presidente Lula e secretário da Fazenda do Rio de Janeiro no governo Sérgio Cabral (MDB). Diretor do Banco Mundial, em Washington (EUA), também foi diretor da administradora de investimentos Bradesco Asset Management. Tem a missão de abrir a “caixa-preta” do BNDES, leia-se, os empréstimos para os governos da América Latina e da África e os financiamentos camaradas aos “campeões nacionais” escolhidos a dedo pelo ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba.
Sun Tzu
Muito mais importante, porém, foi a atitude de Bolsonaro ao bancar a indicação de Guedes. “Comandar muitos é o mesmo que comandar poucos. Tudo é uma questão de organização”, dizia o general chinês Sun Tzu, na Arte da Guerra. Em meio à confusão criada por declarações desencontradas e balões de ensaio, Bolsonaro está montando uma cadeia de comando, na qual seus ministros estão tendo liberdade para formar equipes e comandá-las. No caso da Economia, Guedes resolveu assimilar também alguns quadros do atual governo, em áreas sensíveis, onde não pode aterrissar sem trem de pouso, arrastando a barriga na Esplanada dos Ministérios. Manteve Ivan Monteiro no comando da Petrobras e guindou Mansueto de Almeida, o atual secretário do Tesouro, à futura Secretaria da Fazenda.
Na mesma linha, deu-se a escolha do general Fernando de Azevedo e Silva, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, que estava assessorando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para o cargo de ministro da Defesa. Ligado ao comandante do Exército, Eduardo Villas-Boas, que sofre de uma grave doença degenerativa, mas está muito lúcido e falante, o novo ministro será uma blindagem à politização das Forças Armadas, grande preocupação dos atuais comandantes militares, em razão da forte presença de líderes militares reformados no governo, a começar pelo próprio presidente da República e pelo vice, general Mourão, além do futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…