“A embaixada em Roma foi a última oferta feita pela turma do deixa-disso ao ministro Gustavo Bebianno, então secretário-geral da Presidência, para que deixasse o cargo sem estrilar”
O Palazzo Pamphilj, sede da embaixada do Brasil em Roma, no bairro Parioni, é um luxo. Localizado na Piazza Navona, começou a ser construído em 1630 pela poderosa família Pamphilj, à qual pertenceu o papa Inocêncio X. Em 1644, ganhou estruturas projetadas pelos arquitetos Girolamo Rainaldi e Francesco Borromini, que trabalhou também na construção da Basílica de San Pietro. E foi decorado com afrescos de Pietro da Cortona. Na reforma feita em 2000, restauradores brasileiros descobriram afrescos do século XVII, de Andrea Camassei, Gaspar Dughet e Giacinto Brandi. Mas a grande atração ainda é a Galeria Cortona, cujo teto tem um afresco de 33 m de Pietro Cortona, concluído em 1654. Com 12 portas de acesso, a galeria tem vista para a Piazza Navona e a famosa Fontana del Moro.
O núcleo originário do Palácio, na Piazza Pasquino, foi adquirido em 1470 por Antônio Pamphilj, procurador fiscal da Câmara Apostólica, cujo filho, Angelo, casou-se com Emilia Millini, rica aristocrata romana. O dote dela incluía diversas casas na Praça Navona, o que possibilitou a junção das propriedades. A família Pamphilj morou no Palácio até meados de 1700, quando a última descendente, Anna Pamphilj, casou-se com Giovanni Andrea III Doria e se transferiu para outra luxuosa residência, na Via deI Corso. Desde então, as dependências do Palácio Pamphilj foram alugadas para intelectuais, cardeais e diplomatas. O grande salão do primeiro andar, consagrado ao compositor Pier Luigi da Palestrina, foi palco de apresentações da Academia Filarmônica Romana, depois de restaurado pelo arquiteto romano Andrea Busiri Vici. No andar térreo, havia lojas, garagens, oficinas de restauração e armazéns diversos.
Em 1920, parte do Palácio foi alugada ao governo brasileiro pela Princesa Orietta Doria Pamphilj. Em 1960, o contrato foi transformado em ato de venda. O embaixador do Brasil em exercício, Hugo Gouthier de Oliveira Gondim, foi o responsável pela compra, por 900 milhões de liras, o que gerou muita polêmica no Brasil e na Itália. No ano seguinte, foi concluída a restauração completa do Palácio, em conformidade com a orientação da Superintendência das Belas Artes da Itália, o que custou mais 350 milhões de liras. Desde então, é um dos postos mais cobiçados do Itamaraty.
Perde-perde
A embaixada em Roma foi a última oferta feita pela turma do deixa-disso ao ministro Gustavo Bebianno, então secretário-geral da Presidência, para que deixasse o cargo sem estrilar. A proposta anterior, uma diretoria na Itaipu Binacional, outro cargo muito cobiçado, também foi recusada. Ao presidente da República, Jair Bolsonaro, não restou alternativa a não ser encerrar a novela e exonerar o ministro, com os agradecimentos de praxe. A última conversa entre ambos, na sexta-feira passada, havia tornado a situação insustentável. No fim de semana, um festival de plantações na mídia, de ambos os lados, com troca de ameaças e farpas, inviabilizou as negociações de bastidor. Nas conversas com interlocutores, o ministro mostrava-se inconformado; nas declarações lacônicas à imprensa, mandava recados para Bolsonaro.
A turma do deixa-disso evitou um fogaréu ainda maior, mas era um jogo de perde-perde. Não se sabe qual seria o maior desgaste, a permanência de Bebianno, que daria veracidade à suposta tutela do presidente pelos militares, ou uma saída barganhada, na qual fosse nomeado embaixador brasileiro na Itália, o que passaria a impressão de que haveria algo a temer. Seria maior ainda o desgaste do governo, que estava na defensiva desde quando Bolsonaro deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e voltou a Brasília, convencido pelos filhos Carlos (vereador), Eduardo (deputado federal) e Flávio (senador) de que Bebiano era uma espécie de quinta-coluna no Palácio do Planalto.
Previdência
O governo quer virar o jogo e retomar a sua agenda, como foi esboçado na entrevista do porta-voz da Presidência, Rêgo Barros, ao anunciar a exoneração e, logo depois, várias medidas administrativas sobre Brumadinho, portos e aeroportos, para mostrar que a vida do governo segue seu curso. A grande aposta é a ida do presidente Jair Bolsonaro ao Congresso, amanhã, para apresentar a reforma da Previdência, que prevê idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e de 62 anos, para mulheres, ao fim de um período de transição de 12 anos. A proposta de emenda à Constituição (PEC) começará a tramitar pela Câmara dos Deputados. Volta a ser a prioridade, depois de quase uma semana de uma crise política que teve combustão espontânea, no círculo mais próximo do presidente da República.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…