A decisão de reservar a vice para o tucano, que foi o candidato à Presidência pelo PSDB em 2018, amplia o apoio à candidatura petista, principalmente em São Paulo, ensanduichando João Doria
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente consolidou sua aliança com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que deve mesmo ser o vice de sua chapa, indicado pelo PSB. A retirada da candidatura do senador Humberto Costa (PT) ao governo de Pernambuco facilitou o acordo entre os dois partidos. Permanece a pendência entre o ex-governador Márcio Franca e o ex-prefeito Fernando Haddad em relação à disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, candidatura postulada também por Guilherme Boulos, do PSol. Entretanto, isso não será mais empecilho para a aliança nacional. O que subiu no telhado foi a federação entre o PT e o PSB por causa das dificuldades regionais, que têm provocado trocas de acusações entre dirigentes dos dois partidos.
A decisão de reservar a vice para Alckmin, que foi o candidato à Presidência pelo PSDB nas eleições passadas, amplia o apoio à candidatura de Lula, principalmente em São Paulo, ensanduichando ainda mais o governador João Doria, o pré-candidato tucano, que não consegue sair dos 2% de intenção de voto nas pesquisas. Além de sinalizar para a elite paulista a disposição de fazer um governo de centro-esquerda, mina as bases municipais de Doria, que sempre se identificaram com Alckmin, desde a época em que era vice do governador Mario Covas.
Agora, Lula se movimenta também em direção ao senador José Serra (SP), outro líder histórico do PSDB. Apesar dos problemas de saúde, que inclusive o obrigaram a se licenciar, cedendo a cadeira no Senado para seu primeiro suplente, José Aníbal, Serra tem revelado a interlocutores que deseja concorrer à reeleição. Um acordo com Serra, outro ex-governador paulista, praticamente garantiria a vitória de Lula em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
Apesar de todas essas dificuldades, Doria não pretende jogar a tolha. Faz apostas de alto risco, mas não tem alternativa. O governador venceu duas eleições largando bem atrás, sem apoio da maioria dos parlamentares do PSDB e conquistou tanto a Prefeitura de São Paulo quanto o Palácio dos Bandeirantes com um discurso liberal, focado no desempenho administrativo.
Em ambas as disputas, não aceitou ser refém da política tradicional. Quando disputou a prefeitura paulista, era um coelho que Alckmin tirou da cartola. Na eleição para o governo do estado, porém, se tornou a criatura que se virou contra o criador, cristianizou o padrinho político e se elegeu na aba do chapéu do presidente Jair Bolsonaro, ao qual faz ferrenha oposição agora. O resultado é o ódio dos petistas e dos bolsonaristas.
Doria colecionou desafetos no PSDB paulista, que agora derivam em direção a outras candidaturas. Está ancorado nas relações do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que deve assumir o comando do Palácio dos Bandeirantes, com os prefeitos paulistas. Oriundo do DEM, a filiação de Garcia ao PSDB descontentou Alckmin e outros caciques tucanos, como Aníbal. O pior dos mundos, para Doria, será a “cristianização” pelos prefeitos, após deixar o governo.
Em nível nacional, Doria também enfrenta dificuldades por causa do afastamento da União Brasil (a fusão do PSL e do DEM) de sua candidatura. A alternativa vem sendo negociar uma federação com o MDB e o Cidadania, o que não é uma tarefa fácil, por vários motivos.
Dificuldades
No MDB, a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) é mais ameaça do que oportunidade. Como ambos estão tecnicamente empatados nas pesquisas, Doria corre o risco de ver a vice dos seus sonhos se tornar uma candidata mais competitiva. O problema de Simone é a ala do MDB que pretende apoiar a candidatura de Lula no primeiro turno.
No Cidadania, a federação está no telhado desde a reunião da Executiva do partido, que rachou meio a meio quanto ao acordo com o PSDB. O pré-candidato do Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE), não é o principal obstáculo ao acordo, embora sua candidatura até agora esteja mantida pelo partido. O maior problema de Doria é a resistência à federação com o PSDB em 16 estados, dos quais 12 se manifestaram publicamente contra a aliança.
Mesmo assim, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, trabalha para selar o acordo, juntamente com o líder da bancada, Alex Manente (SP), que, inclusive, articula o nome da senadora Eliziane Gama (MA) para vice de Doria. As alternativas em discussão no Cidadania são federar com o PDT ou Podemos ou manter a candidatura de Vieira.
Doria sonha com a desistência do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o candidato do Podemos, que atualmente sofre um ataque especulativo de todos os demais candidatos. O ex-juiz federal de Curitiba é o nome preferido de Doria para concorrer ao Senado por São Paulo, o que seria uma jogada de altíssimo risco, mas retiraria de campo um concorrente que vem atrapalhando seus planos de ser o candidato da terceira via.
Outra ameaça ao projeto de Doria é a movimentação do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab, presidente do PSD. Tudo indica que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), está mais empenhado na reeleição para o cargo do que na pré-candidatura à Presidência, que não emplacou nem mesmo em Minas. Em busca de uma alternativa, Kassab conversa com o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, cuja filiação ao PSD deve ocorrer no final do mês. Uma eventual candidatura do político capixaba seria mais um problema para o tucano.
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