O tempo de televisão, muito mais do que programa de governo ou a imagem dos aliados, move as articulações do tucano para montar sua coligação eleitoral
A Executiva Nacional do PTB aprovou o apoio ao candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, decisão que será oficializada em 28 de julho. Com isso, o tucano começa a consolidar alianças para garantir pelo menos 20% do tempo de televisão destinado aos partidos na campanha eleitoral. Essa é a aposta do ex-governador de São Paulo para crescer nas pesquisas de intenção de voto e chegar ao segundo turno. Seus estrategistas avaliam que a ampliação da coligação em direção ao centro permitirá que a candidatura saia da estagnação eleitoral.
Não chega a ser uma novidade, porque a aliança do PTB com Alckmin em São Paulo é histórica, mas tem significado porque põe um ponto final nas especulações de que poderia desistir da candidatura ou ser substituído pelo ex-prefeito João Doria, que disputa o Palácio dos Bandeirantes. A decisão do PTB também repercute junto a outros aliados que ainda não formalizaram seu apoio a Alckmin, os casos do PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, que ainda não removeu a candidatura de Paulo Rabelo de Castro, e do PPS, de Roberto Freire, que aprovou um indicativo de aliança com o tucano no seu congresso, mas só vai decidir mesmo no começo de agosto.
Esses aliados de Alckmin estão como aquele malandro do samba de Bezerra da Silva, que apertou, mas não fumou. “Pra fazer a cabeça tem hora”, diz a canção. Para Alckmin, a hora é essa. Todo o seu esforço agora está voltado para a aliança com o DEM, numa queda de braços com Ciro Gomes (PDT), que avançou seus entendimentos com as seções nordestinas por meio do senador José Agripino (RN), e com Jair Bolsonaro, que montou uma cabeça de ponta na legenda no Sul, com Ônix Lorenzoni (RS). Outro partido que está em vias de fechar com Alckmin é o PV, cujo presidente, o ex-deputado José Luiz Pena, é secretário de Cultura de São Paulo nomeado por Alckmin.
Alckmin dá sinais de que não se empenha para fazer uma aliança formal com o MDB, principalmente por causa do desgaste do governo de Michel Temer e da candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. Difícil, porém, é atrair o chamado “Centrão”, bloco formado pelo PP, PRB, SD e PSC, com mais de 120 deputados na Câmara. O grupo negocia com Ciro Gomes (PDT), que hoje se reunirá com os sindicalistas ligados ao Solidariedade. A alternativa de Alckmin está sendo trabalhar para que o bloco fique independente. Para isso, conta também com as movimentações do PT, que estimula a neutralidade do grupo.
O tempo
O tempo de televisão, muito mais do que programa de governo ou a imagem dos aliados, move as articulações de Alckmin. Segundo levantamento feito pela Arko Advice, nas últimas sete disputas ao Palácio do Planalto (1989 a 2014), houve mudanças no cenário duas semanas após o início da propaganda eleitoral gratuita na TV. Mas, em nenhuma das eleições presidenciais, houve modificação em agosto, no período anterior ao início da campanha na televisão. Nessas sete disputas, quem liderava nessa época chegou ao Planalto.
São raros os precedentes de mudança na situação eleitoral antes de começar a propaganda na TV. Isso somente ocorreu nas eleições de 1989 e 2002, quando os candidatos que estavam em terceiro lugar nas pesquisas (Lula e José Serra) ultrapassaram os adversários (Brizola e Ciro, respectivamente) e chegaram ao segundo turno. Porém, tanto Lula quanto Serra foram derrotados. Ocorre que Bolsonaro e Marina, que lideram a disputa, têm pouco ou quase nenhum tempo de televisão.
Nas eleições passadas, com mais tempo de tevê, Marina (PSB) ultrapassou Aécio Neves (PSDB) e assumiu o segundo lugar duas semanas após o começo do horário eleitoral, embalada pela comoção causada pela morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB). Entretanto, acabou perdendo a vice-liderança para Aécio no decorrer da campanha.
Em todas as eleições, eventos de grande impacto acabaram repercutindo nas campanhas. “Em 1989, por exemplo, Collor teve uma generosa cobertura dos meios de comunicação em favor de sua pré-candidatura. Em 1994, antes da campanha na TV, o Plano Real já havia alavancado FHC. E em 2010, a partir da exposição de Dilma Rousseff como a candidata do governo Lula, avaliado positivamente na época por cerca de 85% dos brasileiros, a então ex-ministra disparou nas pesquisas”, ilustra o cientista político Murilo Aragão.
É importante registrar: as redes sociais poderão ter influência muito maior nas eleições deste ano do que nas anteriores, embora a maioria dos marqueteiros e a cúpula dos partidos apostem numa “campanha analógica”. Contribuirão para isso o fato de que não houve programas eleitorais para testar os candidatos, o tempo de campanha é menor (45 dias) e a tendência do eleitor é decidir o voto na última hora, como nas eleições presidenciais de 2014 e municipais de 2016.