“Pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais mostrou que Bolsonaro tem 59% de intenções de votos válidos, um ponto percentual a mais do que na anterior, e Haddad, 41%, um ponto a menos”
A 10 dias das eleições, o PT pediu a cassação do registro da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e sua inelegibilidade por oito anos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo sob o suposto impulsionamento de mensagens pelo WhatSapp contra o petista Fernando Haddad, financiado por empresas privadas, às vésperas do primeiro turno, motivou o pedido. O objetivo é afastar Bolsonaro da eleição e substituí-lo pelo terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), para disputar o segundo turno contra o petista.
Segundo a denúncia, as empresas teriam comprado um serviço chamado “disparo em massa”, usando a base de usuários do candidato do PSL ou bases vendidas por agências de estratégia digital. Como a legislação eleitoral proíbe o financiamento de empresas privadas, o candidato poderia ter o registro eleitoral cassado por abuso de poder econômico e/ou uso de caixa dois. A campanha de Haddad também pediu a quebra dos sigilos bancário, telefônico e telemático de Bolsonaro, que teria recorrido a meios ilegais para disseminar fake news contra Haddad.
A presidente do PT, Gleisi Hoffman, comemorou: “Ontem, da Tribuna do Senado, antecipei denúncia sobre o submundo do WhatsApp. A campanha de #Haddad13 pediu investigação sobre o assunto junto à PF. Hoje, pediremos providências urgentes junto ao TSE; é operação clara de caixa dois, ilegal!”, publicou no Twitter. Militantes petistas consideram a denúncia um “fato novo” capaz de mudar os rumos da campanha de Haddad.
Surpreendido pela denúncia, Bolsonaro rebateu as acusações no Twitter, ao estilo “bateu, levou” que o caracteriza: “Apoio voluntário é algo que o PT desconhece e não aceita. Sempre fizeram política comprando consciências. Um dos ex-filiados de seu partido de apoio, o PSol, tentou nos assassinar. Somos a ameaça aos maiores corruptos da história do Brasil. Juntos resgataremos nosso país!”. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, também refutou as acusações: “Não faz parte de nossa política. Nunca fizemos qualquer tipo de impulsionamento. Nossa campanha é orgânica. Voluntários do Brasil inteiro”.
Pesquisa
Ontem, o resultado da pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais mostrou que Bolsonaro tem 59% de intenções de votos válidos, um ponto percentual a mais do que na pesquisa anterior, e Haddad, 41%, um ponto a menos. Essa oscilação dentro da margem de erro mostra uma disputa congelada. O dado mais relevante da pesquisa, porém, é a rejeição: enquanto 41% dos pesquisados dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, esse percentual sobe para 54% em relação a Haddad.
No horário eleitoral de rádio e tevê, a estratégia de Haddad foi elevar o tom dos ataques a Bolsonaro, vinculando sua imagem à tortura de presos políticos e ao regime militar, com base em declarações antigas do candidato e depoimentos de ex-presos políticos. Em contrapartida, Bolsonaro vincula a imagem de Haddad ao fracasso do governo Dilma Rousseff e aos regimes de Maduro e Fidel Castro. A propaganda dos dois candidatos, além de radicalizar ainda mais a campanha, estimula a rejeição e deixa em segundo plano a discussão de propostas. A propósito, depois de examinados por seus médicos, Bolsonaro anunciou que não vai participar de debates na tevê por causa das suas condições de saúde.
O cenário eleitoral está se consolidando. A mesma pesquisa Datafolha mostra que 95% dos eleitores de Bolsonaro estão plenamente decididos a votar no candidato, somente 5% ainda admitem mudar o voto. No caso de Haddad, o percentual de votos consolidados é de 89%, com 10% de eleitores admitindo eventualmente mudar o voto. Considerando-se os votos totais, 10% dos eleitores pretendem votar nulo ou branco e 5% não sabem ou não responderam. Mesmo que esses eleitores decidam votar num dos candidatos, isso não alteraria a disputa. Para vencer, Haddad precisaria conquistar votos que hoje já são de Bolsonaro.
Nesse contexto, o pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro funciona como um ato de repercussão de Haddad, com objetivo de deslegitimar a eventual vitória do adversário. Bolsonaro também não admite sua eventual derrota, com o argumento de que isso somente seria possível mediante fraude nas urnas eletrônicas. Ou seja, ambos sinalizam que não pretendem aceitar o resultado das urnas, se lhes for desfavorável, o que é uma evidente tentativa de deslegitimar os votos dos eleitores e não reconhecer a autoridade do futuro presidente eleito, quem quer que seja.