Nas entrelinhas: A atuação do atual ministro da Saúde já é uma tragédia sanitária

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O número de mortes chegou a 625.085 pessoas. Nas últimas 24 horas, foram 672 óbitos. O aumento de casos nessa escala poderia ter sido evitado, não fossem a sabotagem oficial e o negacionismo

Enquanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, brinca de faz de conta que vacina as crianças e cria, a cada semana, novos embaraços e manobras diversionistas que confundem os pais das crianças, a escalada de morte por covid-19 no Brasil já contabiliza 672 óbitos nas últimas 24 horas, o que é um absurdo, em se sabendo que a variante ômicron é proporcionalmente menos letal. O aumento de casos ocorre numa escala que poderia ter sido evitada, não fossem a sabotagem oficial e o negacionismo dos que não se vacinaram, seguindo a orientação do presidente Jair Bolsonaro.

De quarta-feira para ontem, segundo dados reunidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), foram mais 228.954 novos casos. O número total de mortes chegou a 625.085 pessoas, de um total de 24,7 milhões de infectados. É mais do que evidente que a situação está fora do controle: na quarta-feira, foram registrados 570 mortes e 224.567 novos casos.

A cada dia surge uma nova polêmica criada pelo Ministério da Saúde, apesar das duras críticas de sanitaristas, infectologistas, virologistas, biólogos e outros especialistas. Para agradar a Bolsonaro, Queiroga e seus assessores trabalham para desacreditar as vacinas e confundir a sociedade quanto à segurança das doses pediátricas. Com ampla tradição de imunização em massa, graças a campanhas de divulgação de sucessivos governos, pela primeira vez, nos últimos 50 anos, isso não ocorre por iniciativa do Ministério da Saúde, que opera uma estratégia de desconstrução da política de saúde pública.

A última do Queiroga foi a nota divulgada, ontem, orientando os pais a procurarem aconselhamento médico antes de vacinarem suas crianças. De manhã, de tarde e à noite, em todos os órgãos de comunicação e nas redes sociais, os mais renomados profissionais de saúde recomendam a vacinação infantil, inclusive dos menores com necessidades especiais e comorbidades.

Ainda ontem, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que não tem nenhuma autoridade para falar de vacinas, produziu uma nota técnica em que se opõe ao passaporte vacinal e à obrigatoriedade de vacinação de crianças contra a Covid. E pôs o Disque 100, criado para denúncias de violação dos direitos humanos, à disposição dos negacionistas, para que denunciem as instituições e estabelecimentos que exigirem certificado de vacinação por “discriminação”.

Obviamente, tudo isso acabará muito mal para as autoridades do governo, como Queiroga e Damares, que estão cometendo crime contra a saúde pública e a humanidade. Bolsonaro também acabará sendo responsabilizado judicialmente.

Ministério Público

Mais cedo ou mais tarde, a atuação do presidente e dos seus ministros chegará às barras dos tribunais. O Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais dos Estados e da União (CNPG), por exemplo, reunido ontem, concluiu que a vacinação de crianças é obrigatória no Brasil.

“Uma vez que a Anvisa autorizou o uso da vacina contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos de idade e a Secovid — órgão do Ministério da Saúde responsável por definir as ações relativas à vacinação — recomendou a inclusão da vacina no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra covid-19, é forçoso concluir que a vacina contra a covid-19 passa, automaticamente, a ser obrigatória em todo o território nacional”, diz nota técnica do conselho. Com base nessa afirmação, também proliferarão as ações judiciais contra as prefeituras que não seguirem a recomendação.

Nas últimas semanas, governadores e prefeitos vêm adotando medidas para conter a propagação da pandemia, principalmente com o cancelamento de eventos de massa, das festas de Iemanjá aos desfiles de escola de samba. O impacto da pandemia no funcionamento do comércio, da indústria e dos serviços já está sendo sentido, assim como na rede de saúde pública, que está à beira do colapso.

Graças ao grande número de vacinados, a economia ainda não colapsou, mas nem assim o governo reconhece a importância da vacina. A conversa fiada sobre a hidroxicloroquina e a ivermectina, patrocinada pelo próprio Ministério da Saúde, está de volta às redes sociais e alimenta as estatísticas de óbitos de pessoas não vacinadas. Recomendados contra a malária e os vermes intestinais, respectivamente, os dois medicamentos são comprovadamente ineficazes no tratamento da covid-19.

Professores

Passando de pato para ganso: Bolsonaro deixou governadores e prefeitos na maior saia justa ao conceder um aumento de 33% no piso salarial dos professores. Em São Paulo, a Secretaria de Educação definiu o valor de R$ 5 mil para o piso docente de 40 horas semanais, reajuste que pode chegar a 73% em alguns casos. No Brasil, o piso passa de R$ 2.886 para R$ 3.845. Paguem e não bufem!

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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