Dream Team

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Dilma absolutiza a força do Estado e busca uma interlocução direta com os grandes grupos empresariais e setores organizados da sociedade sem a mediação dos partidos e do Congresso

Assim era chamada a histórica seleção de basquete dos Estados Unidos nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, na qual brilharam Magic Johnson, Michael Jordan, Scottie Pippen, Charles Barkley e Patrick Ewing, grandes astros no NBA, o principal torneio de basquete profissional do mundo. Com eles, os Estados Unidos recuperaram a hegemonia perdida em razão das derrotas para a antiga União Soviética nas Olimpíadas de Munique, em 1972, e para o Brasil, “em casa”, nos Jogos Panamericanos de Indianópolis, em 1987, nos quais foi derrotada pela seleção liderada por Oscar Schmidt, o maior cestinha dos jogos. O Dream Team (time dos sonhos) venceu todas as partidas por uma diferença de mais de 30 pontos.

Imaginem, agora, uma equipe ministerial formada pelos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um agrupamento de cerca de 90 empresários, sindicalistas e personalidades da vida artística e literária que a presidente Dilma Rousseff reunirá na próxima quinta-feira para discutir a situação do país e ouvir sugestões para sair da encalacrada em que o país está.
Digamos que o ministro da Fazenda fosse Luiz Carlos Trabuco (Bradesco); o presidente do Banco Central, Roberto Setúbal (Itaú); João Paulo Lemann (Ambev), ministro das Relações Exteriores; Luiza Helena Trajano (Maganize Luiza), presidente do Sebrae; Abílio Diniz (BRF), presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Miguel Nicolelis, ministro da Ciência e Tecnologia; Frederico Curado (Embraer), dos Transportes; Murilo Ferreira (Vale), ministro da Integração Nacional; José Roberto Ermírio de Moraes, Indústria e Comércio; Benjamin Steinbruch, Minas e Energia.
Que Fernando de Morais fosse ministro da Cultura; Paulo César Pinheiro, da Justiça; Miguel Torres (Força Sindical), do Trabalho; Wagner Freitas (CUT), da Previdência; e o ator Wagner Moura, escalado para a pasta sugerida pelo Chico Buarque, o Ministério do “Vai dar Merda”. Um time como esse, obviamente, poderia ser escalado de diferentes maneiras e seria o que de melhor o país teria para enfrentar a crise mandando os políticos catar coquinhos. Reúne uma plêiade de líderes bem-sucedidos, alguns dos quais já foram convidados ou estiveram cotados para ocupar uma pasta na Esplanada.
Estão diante de uma recessão somente comparável à crise de 1930, cuja principal consequência política foi a derrocada da República Velha, com a destituição do presidente Washington Luiz por Getúlio Vargas, na Revolução de 1930. A propósito, o governo provisório da época, majoritariamente formado por gaúchos e mineiros, reuniu estrelas como Assis Brasil (Agricultura), Francisco Campos (Educação e Saúde), Oswaldo Aranha (Justiça), Afrânio de Melo Franco (Relações Exteriores), Lindolfo Collor (Trabalho, Comércio e Indústria) e Paulo de Moraes e Barros (Viação e Transportes).
Getúlio protagonizou uma via de modernização autoritária, que durou até 1945, na qual criou linhas de crédito e também companhias e institutos dedicados à industrialização do país. A agricultura foi agraciada com medidas que aperfeiçoassem a produção e ampliassem os índices de exportação. No plano educacional, se instituiu o ensino primário público e gratuito, e a ampliação das instituições de ensino superior e secundário. Forjou o Estado brasileiro atual.
Em 1934, uma nova constituição consolidou o voto secreto e concedeu esse mesmo direito a todos os cidadãos maiores de 21 anos, incluindo as mulheres. Paralelamente, os trabalhadores foram agraciados com a jornada de oito horas diárias; a paridade salarial entre os sexos, a proibição do trabalho aos menores de 14 anos; férias remuneradas e indenização para demissão sem justa causa. Getúlio, porém, conseguiu que os deputados responsáveis pela Constituição de 1934 aprovassem a adoção de eleições indiretas para o primeiro mandato presidencial.
Linha direta
Dessa forma, alargou o seu mandato em mais quatro anos ao ser escolhido pelos membros do Poder Legislativo. Segundo o que fora acordado, o próximo presidente seria escolhido através de eleições diretas. Abriu-se o caminho para a implantação da ditadura do Estado Novo, em 1937, um golpe de estado que suspendeu as eleições e fechou o Congresso. Influenciado pela Carta Del Lavoro, Getúlio governou sem a mediação dos partidos, buscou uma relação direta com as lideranças empresariais e sindicais, lastreado por amplo apoio popular. Como todo o populismo latino-americano, foi fortemente influenciado pelo fascismo, mas Getúlio manteve-se na órbita dos Estados Unidos, quando nada por razões geopolíticas óbvias.

A presidente Dilma Rousseff reivindica a herança de Getúlio, quase sempre comparando a crise ética e política que o país vive hoje àquela que levou-o ao suicídio, em 1954, quando exercia novamente a Presidência, desta vez eleito pelo voto popular. Castilhista como Getúlio, Dilma absolutiza a força do Estado e busca uma interlocução direta com os grandes grupos empresariais e setores organizados da sociedade sem a mediação dos partidos e do Congresso. Esse modelo foi criado por Lula, para sequestrar a grande política e confiná-la ao Palácio do Planalto, mas Dilma nunca revelou aptidão para dialogar aberta e francamente com esses setores da sociedade, o que somente pretende fazer agora, com o governo à beira do naufrágio. Alguém já disse que a História se repete como farsa ou como tragédia.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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