A oposição avalia que a denúncia de Delcídio pode ser a gota d´água para o impeachment de Dilma Rousseff
Foi mais um dia de cão para a presidente Dilma Rousseff, que entrou na mira da Operação Lava-Jato com a delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral, homologada ontem pelo ministro Teori Zavascki, relator do escândalo da Petrobras no Supremo Tribunal Federal (STF). A pedido de seus colegas da força-tarefa, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já avalia a possibilidade de abrir uma investigação sobre o envolvimento de Dilma no esquema de desvio de recursos da Petrobras, que ela sempre negou conhecer.
Delcídio afirmou que Dilma usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros envolvidos na Lava-Jato junto ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os integrantes da Operação Lava-Jato até agora não investigaram Dilma porque a Constituição impede que um presidente da República seja investigados por fatos ocorridos antes do exercício do mandato, apesar das evidencias de que parte dos recursos desviados da Petrobras foram destinados à campanha de Dilma Rousseff em 2010. Ocorre que Delcídio relatou fatos ocorridos em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma.
A divulgação dos termos do acordo de delação premiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República e da defesa de Delcídio, ontem, foi uma bomba nos meios políticos. Havia grande expectativa em relação à entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo para salvar Dilma do impeachment. Enquanto os petistas comemoravam a desejada volta de Lula ao Palácio do Planalto, as ações do Banco do Brasil despencavam na Bovespa e o dólar voltava a subir. Um sinal de que a manobra petista não foi bem recebida pelos agentes econômicos.
O dólar, porém, parou de subir com a notícia da delação premiada de Delcídio. Ele acusa Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de envolvimento no esquema da Petrobras. Citou também o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), a quem acusou de ser responsável pela indicação de Dimas Toledo para Furnas, onde haveria um esquema semelhante ao da Petrobras e de envolvimento com o antigo Banco Rural. Todos negam as acusações.
Delcídio tem prazo de trinta dias para provar as denúncias que fez. O foco principal da delação premiada, porém, é mesmo a presidente Dilma, que ele acusou de tentar interferir na Lav- Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no curso da referida operação”, afirmou.
O ex-líder do governo acusou Dilma de tentar influenciar o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e buscar um acordo com o presidente do TJ de Santa Catarina, Nélson Schaefer, que seria nomeado para o STJ se o juiz substituto na corte Newton Trisotto, também de Santa Catarina, votasse pela libertação dos empreiteiros. Para corroborar suas acusações, entregou à força-tarefa a gravação de uma conversa do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com seu assessor de imprensa, Eduardo Marzagão, na qual o petista promete ajudá-lo em troca de não envolver a presidente da República na delação premiada.
Dilma disse que não sabia das supostas negociações do ministro com o ex-líder do governo, o que foi reiterado por Mercadante em entrevista coletiva. Os procuradores não pedirão a prisão do ministro porque os fatos só foram narrados por Delcídio três meses depois do acontecido. Segundo eles, Mercadante não oferece risco às investigações. A acusação, porém, fragiliza um dos principais conselheiros de Dilma Rousseff, não por acaso, um dos ministros que Lula tentou neutralizar, forçando sua substituição na Casa Civil pelo ex-governador da Bahia Jaques Wagner. A gravação, porém, não comprova a oferta de dinheiro para Delcídio por parte de Mercadante.
Terra arrasada
A oposição avalia que a denúncia de Delcídio pode ser a gota d´água para o impeachment de Dilma Rousseff, mas os governistas, devido ao número de políticos envolvidos, acreditam que o impeachment perderá força no Congresso. A indicação de Lula para o governo Dilma no começo da noite havia subido no telhado, segundo o próprio revelou aos petistas com quem conversou antes de ir para o Palácio da Alvorada, para jantar com a presidente Dilma Rousseff. Novo encontro entre os dois deverá ocorrer na manhã de hoje.