Uma trapalhada, que criou uma grande confusão, foi solenemente ignorada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e serviu apenas para isolar ainda mais o PT e o PCdoB na Casa, que tem a responsabilidade de afastar do cargo e julgar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Esse foi o saldo da “anulação” da sessão da Câmara que aprovou o impeachment da Presidente Dilma Rousseff pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-PB), na manhã de ontem.
O ministro José Eduardo Cardozo, da AGU (Advocacia-Geral da União), foi o principal artífice de medida, na linha dos seus discursos de defesa do mandato de Dilma Rousseff. O petista admitiu que conversou com o presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-PB), já na sexta-feira passada. “Eu despachei com ele”, admitiu. Domingo, Maranhão foi “convencido” pelo governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB-MA) a anular a sessão; fora ele que mudara o posicionamento do parlamentar, que votou contra o impeachment. Cardozo voltou a se reunir com Maranhão no domingo à noite, na casa do deputado Silvio Costa (PT-PE), para redigir o ato do presidente interino da Câmara.
A estratégia do governo, desde o começo do processo de impeachment, é judicializar a questão. Para isso, tumultua cada vez mais o processo, na esperança de que algum erro formal seja cometido. Depois de se reunir com os líderes, porém, o presidente do Senado decidiu ignorar a decisão de Maranhão, o que acaba de anunciar no plenário, acusando-a de intempestiva. Renan disse que a comunicação de Maranhão é ato posterior à decisão do plenário da Câmara. Reiterou que pretende manter sua imparcialidade na condução do processo e seguir o rito previsto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que se baseia nos procedimentos adotados no impeachment do ex-presidente Collor de Mello. “Aceitar essa brincadeira com a democracia seria ficar pessoalmente comprometido com o atraso do processo”, disse Renan, que “desconheceu” a decisão de Maranhão e determinou a leitura do parecer aprovado pela comissão especial do impeachment. Como sempre, a bancada do PT tentou tumultuar a sessão, para pressionar Renan, sem sucesso.