A pesquisa DataFolha divulgada sábado, em todos os cenários, mostra a consolidação do favoritismo da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 34%, e a de Jair Bolsonaro (PSC, mas deve se filiar ao Patriota, antigo PEN), com 17%. Ambos exploram o medo recíproco de seus eleitores para consolidar essa polarização à ausência de uma alternativa vigorosa ao centro. Com 9% de intenções de voto, Marina Silva (Rede) demonstra capacidade de resiliência. A grande frustração até agora é a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, estacionada na faixa dos 6%, empatado com Ciro Gomes (PDT), num cenário repleto de candidatos.
Joaquim Barbosa (sem partido, mas de namoro com o PSB), com 5%; Álvaro Dias (Podemos), com 3%; Manuela D’Ávila (PCdoB), com 1%; Michel Temer (PMDB), com 1%; Henrique Meirelles (PSD), com 1%; e Paulo Rabelo de Castro (PSC), com 1%. Num cenário mais conservador, sem Joaquim Barbosa, o quadro se altera pouco: Lula (PT), 36%; Jair Bolsonaro (PSC), 18%; Marina Silva (Rede), 10%; Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), 7%; Álvaro Dias (Podemos), 4%; Manuela D’Ávila (PCdoB), 1%; Paulo Rabello de Castro (PSC), 1%; Guilherme Boulos (sem partido), 1%. A rigor, nenhuma das candidaturas é removível, com exceção da petista, por causa da Operação Lava-Jato, mas essa é uma variável fora da política partidária.
De todos os candidatos que poderiam postular a construção de uma alternativa ao centro, o que dispõe de paridade estratégica com Lula — tempo de televisão, recursos do fundo partidário, bases partidárias, reduto eleitoral consolidado — é Geraldo Alckmin, que vai para a sua segunda disputa presidencial. Em tese, seria a candidatura organicamente mais robusta contra o petista, mas isso não se traduz em termos eleitorais. Por quê? Essa é a pergunta que ele próprio e o PSDB precisam responder, com uma certa dose de autocrítica. A melhor maneira de descobrir as razões é utilizar a metodologia científica, ou seja, as pesquisas, mas certamente temos algumas pistas.
A primeira delas é a divisão do PSDB. Alckmin foi desgastado por setores do partido que lançaram a candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria, como o “novo” na política. Depois, os mesmos setores embarcaram com tudo na “anticandidatura” de Luciano Huck. Nesse meio tempo, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, ex-líder da oposição a Lula no Senado, se lançou pré-candidato e pleiteia a realização de prévias partidárias. Ex-presidente interino da legenda, Tasso Jereissati (CE), foi defenestrado do comando do partido porque ensaiou uma candidatura de “tertius”. Somente no próximo fim de semana essa disputa interna estará resolvida na cúpula da legenda. Nessa brincadeira, sentimentos negativos em relação ao governador paulista foram alimentados de dentro do próprio partido.
A segunda é a natureza da disputa eleitoral. Ao contrário de São Paulo e alguns estados do Norte e Nordeste controlados por oligarquias, onde a disputa tende a ser uma “guerra de posições”, nas demais regiões a eleição presidencial será uma “guerra de movimento”, potencializada pelas redes sociais, que testará os mecanismos de defesa criados na reforma política para garantir a sobrevivência dos grandes partidos. Esses mecanismos focaram, sobretudo, as eleições proporcionais, mas são vulneráveis à onda de renovação e protesto nas eleições majoritárias, o que explica a pulverização do centro e o surgimento de tantas candidaturas que apostam num estouro de boiada.
Essa variável, que já se manifestou nas eleições municipais, embalou a quase-candidatura de Huck, que seduziu o eleitor órfão politicamente, em razão da crise ética. Ela tanto pode se reacomodar numa candidatura orgânica que seja competitiva, projeto de Alckmin e seus aliados, ou derivar para outro candidato com perfil do “contra tudo o que está aí”. Marina ou Ciro, por exemplo, desempenharam esse papel em eleições anteriores. Enquanto nada acontece, Lula e Bolsonaro nadam de braçadas. É que entre os dois polos ainda predominam a perplexidade e a desorientação política.
É natural que num cenário como esse, a mesma perplexidade e desorientação se manifestem também em questões polêmicas e cruciais para a base do governo Temer, como a reforma da Previdência, por exemplo. Há uma ampla maioria de parlamentares consciente de que é preciso fazer a reforma para evitar novo colapso das contas públicas e voltar a ter superavit fiscal. Mas o ambiente eleitoral desfavorável às mesmas forças governistas faz com que falte coragem política para isso, até mesmo do PSDB, um partido programaticamente comprometido com o equilíbrio fiscal.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…