VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
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Muitas são as previsões acerca do futuro da inteligência artificial (IA). Grande parte delas acena para a possibilidade de um dia essa criação humana vir a tomar o lugar do homem em muitas atividades. O verbo aqui é justamente tomar e não substituir, uma vez que esse novo ser tecnológico, por suas características autômatas, não terá problema algum em colocar o homem de lado, tal como fazem hoje os ateus em relação à existência divina.
Talvez, por razões cármicas, a inteligência artificial também venha a duvidar da própria existência humana. Se a máquina a vapor pôde, por suas potencialidades, criar toda uma revolução, capaz de virar de cabeça para baixo os caminhos da civilização, que dirá de uma inteligência diretamente inserida no coração da máquina? Outra revolução desponta no horizonte, capaz até de subjugar o homem.
Talvez esse seja o verdadeiro deus ex-machina, ou o deus surgido da máquina, que apresentará, como solução inesperada ou extraordinária, o fim da dominação humana sobre o planeta. É preciso estar preparado para o que está por vir. Não que isso fará grande diferença, mas, pelo menos, excluem as surpresas impensadas. Por certo, chegará o momento em que a IA também, por seus meios, experimentará a tal maçã da árvore da ciência, do bem e do mal. Só que, nesse tempo, quem será expulso do paraíso, e pela segunda vez, serão os homens, com sua eterna mania de brincar de deus.
Desde os primeiros passos dados em 2019, a OpenAI alertava para os perigos dessa invenção. De lá para cá, essa criação se espalhou pelo planeta, inclusive para países em que a ética na ciência simplesmente inexiste, podendo alavancar a IA a patamares que visam à eliminação de inimigos do regime ou sistema. É fato que a IA vem sendo largamente empregada nas guerras atuais, quer no Oriente Médio, quer no conflito entre Rússia e Ucrânia. Mesmo em campos como a engenharia genética, assiste-se ao emprego da IA para acelerar pesquisas e novas possibilidades.
Talvez, também estejamos diante da maior revolução no campo das ciências deste século 21. Observem que toda essa reviravolta está apenas no começo, dando seus primeiros passos. Certo é que, desde seus aparecimentos, a IA vem tendo sua capacidade de raciocínio aumentada de forma exponencial. Enquanto o mundo vai sendo sacudido com esse novo “brinquedo” humano, no Brasil, o país inzoneiro, onde tudo parece se transformar numa espécie de comédia trágica, a inteligência artificial ganha novas utilidades, mais afeitas ao jeitinho local e à malandrice hereditária.
Dias atrás, foi revelado que cartomantes ou videntes, que vivem de vender previsões sobre o futuro de seus clientes, têm se utilizado da IA ou de chats como o GPT para formular suas antevisões. Há ainda entre nós quem recorre à IA para fazer a fezinha nos jogos. Mais incrível ainda é a existência de brasileiros que recorrem à IA em busca de conselhos do tipo sentimental, procurando conforto espiritual nos logaritmos e no raciocínio lógico.
Outros brasileiros têm recorrido à IA para levar conforto espiritual aos crentes, dentro dessas novas correntes religiosas. Amantes buscam respostas para o coração. Pastores religiosos, para as incertezas da alma e vigaristas buscam caminhos rápidos e matreiros para encherem os bolsos. De fato, no Brasil, nada é levado a sério ou ao pé da letra. Até a coxinha de galinha é feita com outras carnes. Talvez por essa razão, ou graças à ela, não sentiremos de imediato os efeitos imprevisíveis do advento da IA, como o restante do mundo. Mas, obviamente, que esse dia também chegará. Na avaliação dos mais despertos, a IA produzirá seus frutos danosos no dia em que for incorporada à política local e aos sistemas de governo. Nesse dia — tomara que nunca chegue —, os brasileiros começarão a experienciar os limites da ficção distópica, descritas em obras como 1984, de Orwell. Neste dia, a IA terá se transformado em algo, como ai, ai, ai de nós, que zombamos da sorte.
A frase que foi pronunciada:
“Antes de trabalharmos na Inteligência Artificial, porque não fazemos algo sobre a estupidez natural?”
Stephen Polyak
História de Brasília
Às vésperas da inauguração da cidade, o dr. Israel Pinheiro mandou fazer a “operação limpeza”. Foram retirados das avenidas dos eixos cinquenta caminhões cheios de setas que indicavam os acampamentos e as firmas. (Publicada em 21/4/1962)
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