Vontade de Arte

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Nise da Silveira. Foto: Alexandre Sant’Anna/SAÚDE é Vital

       O senso comum ensina que distúrbios mentais que atingem familiares próximos, causam mais doenças, em decorrência do excessivo stress nas pessoas ao redor, do que nos próprios pacientes. A dedicação intensa, ao longo de toda a sua vida, à psiquiatria, fez de Nise da Silvera uma das heroínas do Brasil, principalmente quando provou que o trabalho e a interação com as artes e com plantas e animais domésticos possuíam um valor terapêutico poderoso, até então desconhecido.

Mario Pedrosa, um dos mais importantes críticos de arte do país, sentenciou: “A atividade artística é uma coisa que não depende, pois, de leis estratificadas, frutos da experiência de apenas uma época na história da evolução da arte. Essa atividade se estende a todos os seres humanos, e não é mais ocupação exclusiva de uma confraria especializada que exige diploma para nela se ter acesso. A vontade de arte se manifesta em qualquer homem de nossa terra, independente do seu meridiano, seja ele papua ou cafuzo, brasileiro ou russo, negro ou amarelo, letrado ou iletrado, equilibrado ou desequilibrado.”

O texto acima foi escrito em 1947, por ocasião da primeira exposição de pintura dos pacientes do Hospital (manicômio) de Engenho de Dentro, trabalho então coordenado pela renomada médica e psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), introdutora no Brasil da e um método revolucionário de tratamento humanizador para a esquizofrenia por meio da arte. Somente quem já conviveu ou ainda convive com pessoas com quadro dessa doença mental, sabe o que significa e qual a importância que tratamentos realizados sem agressividade, e não como eram feitos no passado com eletrochoques, insulinoterapia ou lobotomia

Em 1946, Nise fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional (STOR), onde montou ateliês de pintura e modelagem com o objetivo de, por meio da expressão simbólica e da criatividade, os internos conseguissem, de alguma forma, reatar os laços com a realidade. A importância de seu trabalho foi reconhecida em todo mundo por especialistas nessa área, inclusive pelo próprio Carl G. Jung, com quem manteve um longo relacionamento, por cartas por mais de uma década.

No ateliê, conta um dos seus ex-alunos, Bernardo Horta, houve uma explosão de pinturas, desenhos e esculturas que Nise e sua equipe não esperavam. Nise, que já lia Jung, percebeu aquilo que o psicanalista afirmava: se para o neurótico – o que seria todos nós, segundo Freud – o tratamento é por meio da palavra, ou seja, a psicanálise, para o esquizofrênico, segundo Jung, a palavra não dá conta. Para esse paciente, o tratamento deveria ser pela imagem”. Ao divã e a palavra, preferidos por Freud, Nise optou pela expressão plástica como método terapêutico, conforme recomendava Jung, o que a levou a buscar um tratamento de fato para os pacientes e não simplesmente estudá-los.

Com isso, afirmam seus biógrafos, Nise aprofundou o trabalho e as ideias de Jung, levando esses novos conceitos de tratamento muito além. Não surpreende que um trabalho tão fecundo tenha, ainda hoje, desdobramentos e muito vigor. O Instituto Nise da Silveira convocou uma série de grafiteiros para decorar os muros da Instituição, transformando o local numa galeria à céu aberto, com dezenas de painéis retratando pessoas que deram contribuição a chamada arteterapia, de forma que o Hospital passe a ser visto como parte integrante da cidade.

Caso estivesse viva hoje, por certo a Drª Nise da Silveira, com a experiência que vivenciou durante a epidemia de gripe espanhola (1918-1920) e de posse de todo o conhecimento que acumulara, na área de psiquiatria, teria um imenso campo pela frente para trabalhar as neuroses que a atual geração vem experimentando. Em última análise, um problema do mundo atual, com toda a complexidade de nosso tempo, a mudança de costumes e de paradigmas em si, não são capazes de alterar, em profundidade, as características da mente humana. Os complexos e as neuroses humanas de ontem, são, no seu íntimo, as mesmas manifestadas hoje em dia.

Vários acontecimentos têm afetado a saúde mental de crianças e jovens, além dos adultos, afirmou Guilherme Polanczyk da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em matéria divulgada pela Agência Brasil. Segundo o psiquiatra, a situação de estresse nas crianças pode ser negligenciada, já que são menos infectadas e o sofrimento pode passar desapercebido.

A frase que foi pronunciada:

“Ser espontâneo apenas significa ser coerente consigo mesmo.”

Fayga Ostrower

Foto: Acervo Instituto Fayga Ostrower/Divulgção

História de Brasília

Começou o plantio de grama no IAPI 105. A paisagem vermelha e agressiva, começa a ceder ante a presença do verde. A irrigação está com muto atraso e pode prejudicar os planos de jardinagem. (Publicada em 08.04.1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #AriCunha #Arte #Brasília #CirceCunha #DoençasMentais #Esquizofrenia #HistóriadeBrasília #Mamfil #NiseDaSilveira #TratamentoHumanizado

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