circecunha@gmail.com; arigcunha@ig.com.br
Colaboração: Mamfil
Dinheiro manchado
Com a deflagração da Operação Lava Jato e consequente aprofundamento das investigações, políticos e empresários apanhados de calças curtas correram, em desespero, para os mais renomados e caros escritórios de advocacia do país. Nunca essas bancas faturaram tanto.
Alguns desses caros casuísticos chegam a cobrar milhões de reais apenas para dar início aos procedimentos nos processos de defesa. Aqui cabe um parêntese, não à guisa de moralismo vazio, mas apenas na intenção de resgatar exemplo histórico dado pelo mestre dos advogados, o saudoso Sobral Pinto, ao explicar em carta os motivos que levaram a abrir mão da defesa de um cliente enrolado com a lei:”O primeiro e mais fundamental dever do advogado é ser o juiz inicial da causa que lhe levam para patrocinar”… “Incumbe-lhe, antes de tudo, examinar minuciosamente a hipótese para ver se ela é realmente defensável em face dos preceitos da justiça. Só depois de que eu me convenço de que a justiça está com a parte que me procura é que me ponho à sua disposição”.
A rigor, este trecho da famosa carta deveria ser transformado em lei, tamanho o vigor ético e a correta concisão de procedimento profissional. O que se assiste hoje, em face do alargamento dos casos de corrupção em todos os poderes da república, é o salve-se quem puder, sobretudo, salvem-se aqueles que mais podem.
O ar de deboche e pretensa superioridade de alguns dos personagens envolvidos nesse escândalo, confirma nosso perfil histórico recheado de casos de impunidade dos nossos fidalgos. Impunidade que encontra nos escritórios desses defensores da elite, a porta de saída para os entreveros com a lei.
Millor Fernandes costumava dizer, com a verve que lhe era costumeira , que “o advogado é o sócio do crime.” Mais do que conhecer as veredas e atalhos da lei, o bom advogado hoje parece ser aquele indivíduo que antes de tudo conhece os juízes.
Num rio, qualquer contaminação das águas à montante, polui toda a corredeira até a foz. No mesmo sentido, é preciso verificar em sentido amplo, se os recursos usados por alguns desses “impolutos” clientes para garantir honorários fabulosos, ,não foram obtidas na mesma fonte turva da corrupção. O uso de dinheiro obtido de forma ilícita para garantir benefícios e amparo da lei, parece-nos uma aberração somente possível neste país surreal de hoje.
A frase que não foi pronunciada:
“Nem ser rico ou pobre, nem ter habilidade para convencer, muito menos o bem comum. O que chama muitas pessoas para a política é o poder, o dinheiro ou o ego.”
Mané Garrincha
É isso o que o contribuinte tem que ver todos os dias ao passar pelo estádio. A fortuna que poderia ser aplicada na saúde e educação se transformou em um grande pátio de estacionamento de ônibus. O lugar é privilegiado e as empresas não pagam um tostão pelo uso.
Mudanças
Uma discussão para uma PEC pode mudar a segurança no país. A proposta é que a Constituição receba emenda para que as polícias sejam reorganizadas de forma que trabalhem em uma corporação unificada onde executem as atividades de patrulhamento e investigação, podendo oferecer provas ao Ministério Público para efetivar uma denúncia. O deputado Eduardo Cunha criou uma Comissão para discutir esse assunto.
Mais
Por falar em PEC, ontem foi um dia movimentado na Câmara Legislativa. A mobilização entre todos os presidentes das Assembleias Legislativas teve como objetivo preparar um documento para propor uma PEC que aumente a autonomia das competências legislativas dos estados e DF.
Argumento
Sob o comando do deputado estadual Fernando Capez, presidente do Colegiado de Presidentes das Assembleias Legislativas, a justificativa para o movimento na CLDF foi a seguinte:“são os deputados estaduais que mais batalham para serem eleitos, muitas vezes carregando consigo candidatos a deputado federal, senador, governador e presidente. Ou seja, o voto está conosco, mas o poder está concentrado no Congresso Nacional”.
Dados
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria atesta que um em 4 brasileiros usam o ônibus como meio de transporte para o trabalho e escola. Talvez com os dados nas mãos haja política pública que leve a sério a mobilidade.