No país das maravilhas II
Talvez a maior distorção da realidade esteja no trecho que diz; “ Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade econômica, da centralidade do controle da inflação e do imperativo da disciplina fiscal, e a necessidade de conquistar e merecer a confiança dos trabalhadores e dos empresários.” Tragédia ou comédia? Vide neste caso o desmanche da Lei de Responsabilidade Fiscal que o Executivo obrigou o Congresso a fazer, apenas para que as contas públicas não fechassem no vermelho. A LRF foi a base dos avanços alcançados nos últimos anos, inclusive o controle da inflação. As consequências desse desmanche ainda se farão sentir em profundidade nos próximos anos. “ Em todos os anos do meu primeiro mandato, a inflação permaneceu abaixo do teto da meta e assim vai continuar.” Que o digam as donas de casa e os trabalhadores . Tal falácia pode ser facilmente comprovada com uma simples compra em qualquer supermercado, ou posto de gasolina, ou ainda no bureau de câmbio dos aeroportos. “Combateremos sem trégua a burocracia.” Neste ponto basta comparar o tempo gasto por uma empresa, apenas para fazer uma declaração de imposto ou para encerrar as atividades.
A adoção do lema do governo para os próximos quatro anos “Brasil, Pátria Educadora” cai por terra com a escolha fisiológica do novo ministro para a pasta. “ Ao longo deste novo mandato, a educação começará a receber volumes mais expressivos de recursos oriundos dos royalties do petróleo e do Fundo Social do Pré-Sal.” Com a queda nos preços do barril de petróleo e a inviabilidade econômica da exploração em águas profundas, somada ao declínio econômico da Petrobras, será um desafio e tanto. “Propor ao Congresso Nacional alterar a Constituição Federal, para tratar a segurança pública como atividade comum de todos os entes federados.” Também é uma confissão da falência do Estado no combate ao crime organizado e um modo de fugir das responsabilidades que cabem ao Governo Federal. Ao afirmar textualmente a intenção do governo em manter a parceria e a “ prioridade à América do Sul, América Latina e ao Caribe, que se traduzirá no empenho em fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Comunidade dos Países da América Latina e do Caribe (Celac), sem discriminação de ordem ideológica.” Dilma quer dizer , por outras palavras que vai continuar insistindo numa fórmula já comprovadamente falida de se aliar à países falidos, numa espécie de bolsa família continental. Da mesma forma quando prometeu continuar “ Com o Brics, nossos parceiros estratégicos globais – China, Índia, Rússia e África do Sul –, avançaremos no comércio, na parceria científica e tecnológica, nas ações diplomáticas e na implementação do Banco de Desenvolvimento do Brics e na implementação também do acordo contingente de reservas.” Neste quesito relativo a adesão ao bloco dos “quebrados” , a presidente reafirma sua intenção de prosseguir numa espécie de união comercial com países que ela identifica como semelhantes sob o aspecto ideológico. “Democratizar o poder significa lutar pela reforma política, ouvir com atenção a sociedade e os movimentos sociais e buscar a opinião do povo para reforçar a legitimidade das ações do Executivo.” Novamente a pregação para implantar os tais conselhos populares, escolhidos com base nos movimentos sociais simpáticos ao Partido dos Trabalhadores. “Meu governo foi o que mais apoiou o combate à corrupção, por meio da criação de leis mais severas, pela ação incisiva e livre de amarras dos órgãos de controle interno, pela absoluta autonomia da Polícia Federal como instituição de Estado, e pela independência sempre respeitada diante do Ministério Público.” Distorcida a realidade procura-se apenas tirar proveitos da atuação independente da justiça. Também nas cinco medidas que propôs em seu discurso : “Transformar em crime e punir com rigor os agentes públicos que enriquecem sem justificativa ou não demonstrem a origem dos seus ganhos; modificar a legislação eleitoral para transformar em crime a prática de caixa 2; criar uma nova espécie de ação judicial que permita o confisco dos bens adquiridos de forma ilícita ou sem comprovação; alterar a legislação para agilizar o julgamento de processos envolvendo o desvio de recursos públicos; e criar uma nova estrutura, a partir de negociação com o Poder Judiciário que dê maior agilidade e eficiência às investigações e processos movidos contra aqueles que têm foro privilegiado.” As práticas desmentem o enunciado, já que o fim do foro privilegiado, ao provocar o recuo da maré, mostraria que boa parte da República tem andado sem as calças. “Estou propondo um grande pacto nacional contra a corrupção alguns servidores que não souberam honrá-la, sendo atingidos pelo combate à corrupção. Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobras de predadores internos e de seus inimigos externos.” Neste ponto do discurso o ouvinte já não consegue distinguir entre fatos e ficção, ficando com a sensação de que o discurso foi escrito por alguém que acabou de chegar de Marte. Por fim quando a presidente diz que: “Temos, assim, que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobras, Não podemos permitir que a Petrobras seja alvo de um cerco especulativo de interesses contrariados com a adoção do regime de partilha e da política de conteúdo nacional, partilha e política de conteúdo nacional que asseguraram ao nosso povo o controle sobre nossas riquezas petrolíferas. A Petrobras é maior do que quaisquer crises.” O ouvinte chega a conclusão de que a presidente está certa em tudo o que diz. Errados estão todos aqueles que ficaram por mais de quarenta minutos escutando histórias de um país das maravilhas que com certeza não é o Brasil.