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Israel

Pinheiro

Juscelino Kubitschek escolheu seu amigo Israel Pinheiro para presidente da Novacap. O escolhido veio para Brasília podendo ser demitido a qualquer momento.

Presidia, na Câmara dos Deputados, a mais importante comissão da Casa. Aceito o convite, veio de mala e cuia. Comandou a construção da nova capital. Usava toda a disposição que o presidente JK lhe confiava e deu conta do recado.

Nasceu em 4 de janeiro de 1896, na cidade de Caetés. Exerceu o cargo de secretário de Agricultura, Viação e Obras Públicas. Ainda jovem, foi eleito prefeito de sua cidade. Naquela época, a oposição não pagava contas ao governo. Chamou eletricista. Quando esse estava cortando a luz, o dono da casa gritou: “Desça daí, senão eu lhe mato”.

Israel perdeu o primeiro embate. Persistente, encontrou na rua um homem baixinho, filho de incesto. Deu alicate e escada. A ordem foi a mesma. Estava no alto, e recebeu a mesma advertência do devedor. Falava mal, fez sinal. Ao receber a ordem para descer ou levar tiro, resmungou: “Estou cumprindo ordem do chefe”.

Na discussão, o dono da casa deu-se por vencido. Alicate na mão e escada no ombro, o homem atendeu ao pedido do dr. Israel Pinheiro, que, nessa época, morava em Caetés, com a família. Dona Coracy o acompanhou a Brasília durante o tempo em que aqui viveu. Dava apoio ao marido.

Israel foi morar na Granja do Ipê. Não faltou humor aos funcionários. Espalharam que Israel morava na Chácara do Ipê, que traduzia Israel Pinheiro. Mandou pintar um quadro bem colorido, com ipê-amarelo, e pôs abaixo o nome Granja do Ipê. Israel tinha bom humor e não aceitava tratamento de exploração de sua imagem.

Quando chegou a Brasília, o primeiro caminhão de televisão, da Tupy, do Rio, foi visitar o dr. Israel. A resposta era “eu não sou vedete de ninguém”. Procurem o JK, que gosta disso. Jairo Valadares e eu fomos ao Catetinho, onde encontramos JK e fizemos a foto. Ainda hoje o Brasil conhece a foto e o fato.

Ainda no Rio, Ney Ururahy acompanhava o dr. Israel. Veio a Brasília como participante da Divisão de Pessoal. Aqui mudou de cargo. Foi Ney Ururahy o autor da primeira folha de pagamento da Novacap. Folha de papel pautado, com nomes e valores a receber.

Assim começou a história da construção da nova capital.

Israel havia sido secretário de Viação e Obras Públicas, e primeiro superintendente da Vale do Rio Doce. Deputado, firmou sua vida como homem sério e trabalhador.

Certa vez, verificava o estado de construção da primeira pista do aeroporto. Atrás, falava o engenheiro Atualpa da Silva Prego. Para concordar com o presidente da Novacap, balançava a cabeça e o braço, como fosse contra o que Israel dizia. Distante, o pessoal da Novacap passou a admirar a coragem do Atualpa, que passou a ser “o homem”.

Doutor Israel Pinheiro era homem duro e cumpridor dos deveres. Pedia a todos o mesmo comportamento. Certa vez, mandou pintar o teto do Brasília Palace de preto. Oscar Niemeyer viu e não gostou. Chamou o chofer do Jipe e voltou para o Rio. JK, em Belo Horizonte, mandou que fosse interrompida a viagem. Oscar obedeceu e foi falar com JK em Belo Horizonte. Estava com raiva e deixava Brasília. Trocava-a pelo Rio. Juscelino foi até o Rio.

JK, atencioso, convenceu Oscar Niemeyer a voltar a Brasília. Ainda com raiva, Oscar Niemeyer, que gostava de Israel Pinheiro, voltou e mandou retirar o preto do teto.

Israel Pinheiro era homem de posições assumidas. Quando sentia que desagradava o companheiro, conversava e dava razão. Afinal, havia muita coisa a fazer na futura capital do Brasil. Era enérgico, porém, humano.

(Coluna originalmente publicada em 4/1/2012)

Ari Cunha

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Ari Cunha

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